Vozes Negras por Justiça Climática: A pauta da justiça climática e da defesa dos territórios no Governo Lula
Um relato sobre o primeiro encontro da rede de mulheres negras que busca incidir na política e na sociedade para enfrentar a crise climática, que contou com a participação de Cris Faustino e Zezé Pacheco.
Por Amanda Costa
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Olá minha lindeza climática 🙂
Tenho um babado lindão para compartilhar com você: a Anistia Internacional me convidou para participar do #VozesNegrasPeloClima: uma rede de 11 mulheres negras ambientalistas que estão liderando a discussão sobre crise climática em seus territórios.
Esse projeto tem a missão de potencializar estratégias para diminuir os impactos da crise climática através de uma agenda contínua que influencia, mobiliza e engaja pessoas, empresas e governos (nacionais e subnacionais) na busca por melhorias nas políticas públicas nos territórios periféricos.
No final de 2022 fizemos nosso primeiro encontro e foi tão tããão especial. Dá uma olhadinha no reels “Quando mulheres negras se reúnem, há cura!”
Nós da Anistia Internacional queremos homenagear vocês que estão na linha de frente, mulheres que estão na luta. Eu fico muito orgulhosa de saber que suas vozes estão sendo escutadas tanto no Brasil quanto no mundo, defendendo a vida de outras mulheres e comunidades negras.
Jurema Werneck
Quem é mais afetado pela crise climática precisa liderar o debate
Demos início ao nosso ciclo formativo discutindo como a pauta da justiça climática está inserida no Governo Lula, e quais são as nossas potências e fragilidades dentro do atual cenário político. Para aprofundar esse debate, escutamos duas mulheres que sou fã, a Cris Faustino e Zezé Pacheco.
Preparei um resuminho do que foi apresentado, bora que boraaaa.
A fala de Cris Faustino
A Cris começou sua narrativa falando da importância da gente, enquanto mulheres negras do sul global, desenvolver uma agenda de enfrentamento ao feminismo colonial e não deixar que a evidência da pauta de justiça climática omita o racismo ambiental nos nossos territórios.
Cris Faustino
Existe uma expectativa baseada na macro política e na macroeconomia que não se traduz na vida do cotidiano. Há uma dificuldade em democratizar as pautas nas comunidades, mas o campo ambiental é um campo popular! Estamos falando do dia-a-dia das comunidades, que lutam pela garantia de seus direitos ambientais, sociais e plurais.
Nesse contexto, é muito importante pautar as dificuldades das mulheres e trazer questões de gênero, sexualidade e geração. Nosso país foi marcado por violências históricas estruturais que não somente reproduzem, mas também agravam nossa realidade extremamente desigual.
Mulheres negras estão enfrentando violências profundas: o recrudescimento da negação de direitos, a ascensão da extrema direita, o agravamento das desigualdades e o aprofundamento das negações, como a fome, pandemia, secas, inundações, deslizamentos, desabamentos – São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Recife.
O aumento das catástrofes climáticas intensifica os desafios ambientais, sociais e econômicos!
O próprio estado coloca sob as nossas costas a responsabilidade pelas sua ausência!
Cris Faustino
Esse debate não pode ficar apenas na macro política, é preciso evidenciar o cotidiano histórico de opressão que é sentido na base. Mas como trazer esse debate para a base se as pessoas que estão nos espaços de decisão são majoritariamente brancas, ricas e da classe média-alta?
Esse debate não pode ficar apenas na macro política, é preciso evidenciar o cotidiano histórico de opressão que é sentido na base. Mas como trazer esse debate para a base se as pessoas que estão nos espaços de decisão são majoritariamente brancas, ricas e da classe média-alta?
Precisamos democratizar o conhecimento e aumentar a participação popular. Apesar da crise climática ter ganhado repercussão na agenda internacional, ela ainda diz respeito às nossas vidas. Quando pensamos na realidade brasileira, não podemos simplesmente assumir as metas econômicas empresarias e comerciais de #netzero, sem olhar para a diminuição de desigualdades, da pobreza e da fome.
É necessário criar possibilidades reais para que a população participe de forma direta, ativa e objetiva.
Cris Faustino
Precisamos de relações efetivamente sustentáveis, que se oponham às soluções de caráter desigual, racista e misógino. As desigualdades regionais também precisam ser consideradas, como o neocolonialismo do norte-sul global.
A real é que essa economia colonizadora está acabando com nosso território, água e floresta, gerando contradições e dicotomias. Se por um lado temos a necessidade de evitar o aquecimento global, por outro temos uma necessidade de alto consumo não somente de energia, mas também de outros bens ambientais.
Se queremos fundamentar uma metodologia de participação popular efetiva, precisamos considerar todos os sujeitos que construíram essa luta, principalmente as mulheres negras, quilombolas e indígenas.
A fala de Maria José Pacheco
Sentiu a profundidade do conteúdo, né?
A Cris deu uma aula, e Zezé sustentou o nível! Ela abriu sua narrativa evidenciando a crise climática como uma crise do capitalismo, um sistema que, para se sustentar, promoveu diversas destruições: invadiu países, sufocou direitos e negou direitos e políticas públicas para as populações mais vulnerabilizadas.
Todo esse cenário ficou ainda mais desafiador no último governo (ou desgoverno 🤢). A última gestão foi comandada pelos ricos e militares, que traziam a mesma lógica colonial que tivemos no início do Brasil. Vivemos tempos de horror, com o aumento da violência, xenofobia, racismo, fundamentalismo religioso e a destruição ambiental.
Apesar das dificuldades, vencemos a máquina do Estado e derrotamos o fascismo!
Com o Lula, a questão ambiental virou prioridade. Depois de uma disputa intensa com Izabela Teixeira, Marina Silva assumiu o Ministério do Meio Ambiente e defendeu uma política transversal de combate às mudanças climáticas. Uma posição de autoridade climática foi criada para monitorar as políticas de clima, houve a retomada do Fundo Amazônia, o IBAMA e o ICMBio, que receberam uma nova gestão e, com a ministra dos povos indígenas Sônia Guajajara, as discussões sobre exploração de recursos hídricos, desmatamento e mineração dentro dos territórios indígenas foi retomada.
Precisamos ir às ruas e sonhar com um mundo diferente de bem-viver, com sonhos de igualdade e liberdade no nosso horizonte.
Zezé Pacheco
Com a nova agenda, teremos uma reconstrução da economia, com distribuição de rendas, combate ao desmatamento e produção de novos empregos. Mas precisamos ser realistas e ter uma visão crítica: O Congresso Nacional é extremamente conservador. Dos 513 parlamentares escolhidos, 259 sao de direita, 73 de centro direita e 56 de centro. Nessa consideração, 237 são considerados de direita (46,20%), enquanto 141 (27,48%) são de esquerda e 135, de centro (26,31%).
E com esse cenário desafiador, fica o questionamento:
Como encontrar soluções decoloniais, antirracistas e realmente inclusivas?
Querida leitora, estamos engajadas para encontrar essa resposta. Somos batalhadoras, articuladas e temos um compromisso com o nosso território. Acompanhe o trabalho da nossa rede, tem muita transformação vindo por aqui <3
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