Um museu para conhecer e celebrar os povos indígenas
Um museu é um local de vida e movimento. Uma Casa de Transformação, como anuncia a faixa na entrada do recém inaugurado Museu das Culturas Indígenas, em São Paulo: um lugar de compartilhamento de experiências e saberes ancestrais, repletos de diversidade e sensibilidade.
Por Maria Carolina Arruda Branco
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Junho de 2022 foi marcado com sangue indígena. A mídia deu muita atenção às pautas indígenas nesse mês, infelizmente por motivos que preocupam tanto as comunidades originárias quanto os sujeitos que colocam seus corpos na luta em prol das reivindicações indígenas.
Logo nas primeiras semanas, a população foi informada pela mídia do desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Inglês Dom Phillips no Vale do Javari, e posteriormente de seus assassinatos – uma história triste cercada de informações desencontradas e marcada pela inércia do governo.
No dia 24 de junho, ocorreu um massacre na terra indígena Tekoha Gwapo’y Mi Tujury, cidade de Amambai no Mato Grosso do Sul. Segundo o Comunicado Urgente da Aty Guasu Guarani Kaiowá, por volta das 04 horas da manhã, pistoleiros misturados com policiais foram até o referido território indígena para realizar uma reintegração de posse sem qualquer mandado ou documento que comprovasse a operação, promovendo um horror coletivo, ferindo e matando pessoas.
Historicamente o Estado brasileiro tem sido conivente com diversas violações dos direitos fundamentais dos povos indígenas, neste solo que chamamos Brasil. São crimes brutais – assassinatos, envenenamentos, perseguições e violências de diversos tipos – cometidos constantemente contra as populações indígenas, seja em seus territórios, seja na cidade, que também se configura enquanto um território indígena.
Em meio a tanta tristeza, anunciou-se uma alegria.No dia 29, quarta-feira, o Governo do Estado de São Paulo entregou o Museu das Culturas Indígenas, que abriu oficialmente ao público no dia 30 de junho. O museu está localizado próximo ao Parque da Água Branca, na Zona Oeste da Capital paulista, e foi inaugurado a partir de um modelo de gestão compartilhado entre a Organização Social de Cultura ACAM Portinari (Associação Cultural de Apoio ao Museu Casa de Portinari), e o Instituto Maracá, uma entidade administrada por indígenas e inspirada “pelos maracás dos mais de 200 povos indígenas no Brasil”, que trabalha para a construção de uma sociedade mais inclusiva.

As exposições que inauguram o espaço são: “Ygapó: Terra Firme” de Denilson Baniwa, que se estende por dois andares artísticos. O 6º andar do prédio conta com a presença de músicas e videoclipes, trabalho coletivo de indígenas de diferentes etnias, e no 5º andar, foi reproduzido o interior de uma casa de reza baniwa e conta com um tronco no centro da sala.
A proposta do artista é sensorial, um convite para pisar no chão, tocar, sentir, ouvir a música, perceber as mensagens, é um convite aos sentidos.

A exposição: “Invasão Colonial ‘Yvyopata’ – A terra vai acabar”, que ocupa o 4º andar do prédio e foi produzida pelo artista Xadalu Tupã Jekupé, conta com uma forte influência da arte urbana, isso inclusive fica evidente nas instalações presentes no espaço e no vídeo disponível ao público sobre sua história e motivações para produzir sua arte. A produção de Xadalu nos convida a pensar sobre as cabeças indígenas que construíram as cidades, em especial Porto Alegre/RS, e a forma com que as cidades foram invadindo os territórios indígenas.
Já no 3º andar, está presente uma série de artes com grafismos guarani mbya, gravuras, fotos e instalações sobre as vivências na cidade. A curadoria é de Tamikuã Txihi, Denilson Baniwa e Sandra Benites.

O espaço ainda está em construção. Foi possível notar a movimentação de muitos indígenas de diferentes etnias imprimindo sua marca no local, seja com os Lambe-Lambe de Denilson Baniwa que estão presentes em todo a parte externa do prédio, como as duas onças pintadas na parte externa e assinadas por Tamikuã Txiki, ou ainda nas pinturas que estavam sendo realizadas por indígenas da etnia Maxakali.

Um museu é um local de vida e movimento. Uma Casa de Transformação, como anuncia a faixa na entrada. TAVA é o nome que o guarani escolhido para nomear o Museu, que significa justamente Casa de Transformação. Carlos Papá Mirim, Guarani Mbya, nos explica melhor sobre:
Na visita que realizei na quinta-feira, 30 de junho, pude notar que o espaço é um local de compartilhamento. Tanto as exposições, como a experiência de poder conversar e trocar com indígenas de diferentes etnias, falam sobre ancestralidade, descolonização, saberes, oralidade, sensibilidade e transformação.

A entrada no Museu será gratuita ao longo de julho de 2022. Vale a pena garantir o ingresso e vivenciar essa experiência no primeiro Museus de Culturas Indígenas em São Paulo.
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