Um encontro com Marina Silva e Marina Helou

Amanda Costa esteve no encontro com Marina Silva e Marina Helou na ALESP. Confira a fala da nossa comunicadora no Aulão “BRASIL E SÃO PAULO NO COMBATE À EMERGÊNCIA CLIMÁTICA”.

Oi gente!

Agradeço à deputada Marina Helou pelo convite para compor essa mesa. Saúdo a juventude climática aqui presente (Conjucli, Conjuclima, Amazônia de Pé, Engajamundo, Fridays For Future, Jovens pelo Clima, Limpa Brasil, Juventude da rede, Global Shapers, Clima de mudança e Perifa Sustentável) e honro nossa ministra do meio ambiente e mudanças climáticas Marina Silva.

Esse encontro intergeracional simboliza a SANKOFA, que também é o símbolo do Instituto Perifa Sustentável e significa “retornar ao passado para ressignificar o presente e construir o futuro”. Eu sou Amanda Costa, ativista climática, diretora executiva do Instituto Perifa sustentável e cria da Brasilândia.

Eu quero começar a minha narrativa, racializando o debate, pois não dá para a gente falar de justiça climática sem falar do combate às desigualdades sociais. 

Foto por Iury Carvalho /Reprodução: Flickr Deputada Marina Helou

Diagnóstico: Mapa da Desigualdade

O diagnóstico foi feito pela rede Nossa São Paulo, um relatório que traz dados sobre os 96 distritos da capital paulistana. Eu vou falar a partir do meu território, mas quero pontuar que essa é a realidade de muitas periferias e favelas.

  • População infantil: Brasilândia está em penúltimo lugar com 11,4% da população com 0 a 6 anos. Estamos com uma taxa de natalidade alta, só perdemos para parelheiros
  • Gravidez na adolescência: Brasilândia está em penúltimo lugar com 12,5. N
  • Favelas: Brasilândia está em penúltimo com 25,1% (¼ da população da Brasilândia mora em favela)
  • Moradias em risco: subprefeitura da freguesia do Ó está em penúltimo com 3,50 (por conta da brasilândia)
  • Remuneração média de emprego formal: Brasilândia está em último lugar, ganhando R$1693,82 (a média de São Paulo é 4k)

Fazendo uma análise dos dados, percebemos que muitos adolescentes estão sendo mães e pais precoces, o que fez o número de crianças vivendo em favelas explodir, prejudicando que esses jovens pais e mães encontrassem empregos formais e sendo obrigados a sobreviver com uma renda de menos de 1700 reais por mês!

Será que isso é um problema de meio ambiente?

Pensar na agenda ambiental é trazer intersecções com a agenda de desenvolvimento sustentável. Mas como discutir sustentabilidade sem discutir a vida nas pessoas?

É só andar pelas ruas da Brasilândia que vemos grandes quantidades de lixo, ausência de saneamento básico, falta de acessibilidade e mobilidade, não se tem o direito à cidade. Moradores em áreas de risco e quando chove: vários picos de inundações e riscos de deslizamentos. 

Uma coisa precisa ficar bem escura: morar num território vulnerável não é uma escolha! Mas o que podemos fazer a partir dessa realidade?

Plano Nacional de Adaptação Climática

Foto por Iury Carvalho /Reprodução: Flickr Deputada Marina Helou

O Plano Nacional de Adaptação Climática do Governo Federal (PNA), que visa orientar iniciativas para a gestão e diminuição do risco climático ao longo prazo, ficou 4 anos sem revisão, por conta da última gestão.

Agora que esse processo foi retomado, é muito importante racializar os dados! Os eventos climáticos extremos, conforme dados trazidos no Sexto Relatório de Avaliação (AR6) de Impacto, Adaptação e Vulnerabilidades do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), são esperados e vêm sendo anunciados por cientistas. Não deveriam, portanto, nos pegar desprevenidos!

O Instituto Perifa Sustentável, junto com várias organizações da sociedade civil, participou da escrita da carta antirracista, para que a gente possa construir um PNA levando em consideração dados de gênero, raça e interseccionalidades, territórios.

Querida deputada e querida ministra, não racializar o debate  ambiental é negar o racismo ambiental, ou seja, é negar a realidade da vida nas periferias: recrudescimento da fome, o aumento da fome, a constante violação dos direitos constitucionais das comunidades, territórios quilombolas, comunidades tradicionais e terras indígenas; é negar a própria orientação da colonização, na história de urbanização do país; é negar suas profundas desigualdades territoriais. É negar que o Estado brasileiro seja racista!

Essa é uma carta de base para a gente pensar uma adaptação climática antirracista, ou seja, que seja a favor da vida. Angela Davis ja mandou a letra: “Se uma sociedade é boa pra uma mulher negra ela será boa para todo mundo, pois as mulheres negras estão na base da pirâmide social.”

Proposições

  1. Plano Nacional de adaptação climática com mecanismos de participação social desenhados, que priorize as pessoas mais impactadas, a partir do olhar daqueles que vivenciam a crise climática em seu dia a dia (ir na favela ou levar o favelado para discutir políticas públicas)
  2. Racialização dos dados: os dados do 1 plano nacional não traz nenhuma perspectiva de raça. Precisamos pensar em sistemas de monitoramento das regiões que já estão em risco. O senso acabou de sair, jaja vamos ter microdados para realizar diagnósticos mais precisos.
  3. Conferência infanto-juvenil: a juventude precisa participar da discussão climática antirracista. Quando a gente olha para a sociedade, os jovens são a parcela mais sensível para essa discussão, aqueles que se mostram mais abertos. Ter a juventude como autores de uma agenda de transformação do país será vital para a gente conseguir derrotar o centrão e fazer uma política cada vez mais popular, participativa e comunitária.

Precisamos construir uma nova política!

O nosso meio ambiente não aguenta mais as políticas imperialistas feita por homens brancos, ricos, velhos, que insistem em dizer que o AGRO É POP. Esse não é o modelo de desenvolvimento sustentável que queremos construir. Queremos uma sociedade mais tolerante, diversa, que respeite os direitos humanos e que tenha um comprometimento com a justiça racial e ambiental.

A agenda de desenvolvimento sustentável precisa passar por uma agenda de enfrentamento das desigualdades raciais, sociais e geracionais. E trazer o debate das desigualdades para dentro da agenda de meio ambiente e mudanças climáticas é a única forma da gente popularizar a pauta e fazer com que ela seja uma agenda do povo.

Existe uma herança colonial que precisa ser combatida nesse país. E como diz Grada Kilomba, em Memórias da Plantação: “só quando se reconfiguram as estruturas de poder é que as muitas identidades marginalizadas podem também, finalmente, reconfigurar a noção de conhecimento. Quem sabe? Quem pode saber?”

Obrigada!

Foto por Iury Carvalho /Reprodução: Flickr Deputada Marina Helou

Assista o aulão completo:

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