Tudo sobre o amor
Uma reflexão sobre o livro de Bell Hooks
Por Amanda Costa
–
Amar é nosso verdadeiro destino. Nós não encontramos o significado da vida sozinhos, por conta própria — nós o encontramos com outros.
Thomas Merton
Fala minha lindeza climática, bele? 🙂
Essa semana eu finalizei o livro TUDO SOBRE O AMOR, da Bell Hooks e fiquei beeeeeem reflexiva com tudo que aprendi.
Muitos amigos já tinham comentado sobre esse livro comigo, tanto é que comprei no meio do ano passado. Mas sabe quando você deixa o livro de lado, no cantinho do quarto e nada te motiva para começar a ler? Até recentemente, Tudo sobre o amor foi um caso destes comigo.
Antigamente, a minha tática era me forçar a ler. Mas desde que descobri que força de vontade não funciona, decidi mudar minhas estratégias. Hoje sinto que os livros são como portais mágicos, que nos levam para outra dimensão e que chegam até nós no tempo certo. Desse modo, percebo que cada leitura tem um tempo certo para acontecer.
O livro Tudo Sobre o Amor, de Bell Hooks, voltou para a minha vida por conta de uma imersão que fiz no Rio de Janeiro, o encontro do Novas Narrativas Evangélicas. Durante o programa, conversei muito com a Lorena Fadi, que abriu seu coração, me contou seu processo para encontrar o amor e comentou sobre a importância que essa leitura teve em sua vida.
Então, assim que voltei para São Paulo, senti que era o momento de respirar fundo e me jogar nessa leitura.
Foi um momento tããão especial! Cada página falava diretamente com a minha alma, me desconstruindo, construindo e reconstruindo. Agora quero compartilhar contigo, minha querida leitora, alguns aprendizados que tive durante esse processo.
Bora? 🙂
Tudo sobre o Amor: novas perspectivas foi publicado no ano de 2000 nos Estados Unidos, sendo o primeiro livro da chamada Trilogia do Amor. Ele foi seguido de Salvação: pessoas negras e o amor (2001) e Comunhão: a busca feminina pelo amor (2002).
Esse primeiro livro foi dividido em 13 capítulos e aborda os diferentes tipos de amor. Muitas de nós, gatas garotas, estamos acostumadas a olhar apenas para uma forma de amar. Mas Hooks apresenta o amor em sua diversidade, como o amor da família, amigos, trabalho, comunidade, divino (espiritualidade) e também, o amor romântico.
Apesar de Hooks falar a partir da perspectiva de uma filósofa estadunidense, suas reflexões se encaixam na nossa realidade de brasileiras e brasileiros; pois assim como os EUA, também sofremos com as mazelas do racismo, sexismo, homofobia, imperialismo e exploração.
Se o desamor é a ordem do dia no mundo contemporâneo, falar de amor pode ser revolucionário.
Bell Hooks
Eu cresci num lar cristão, tive pais amorosos e me senti protegida desde pequena. Percebi o amor nos detalhes, numa mistura de vários sentimentos, como afeto, carinho, aceitação, pertencimento, afeição, proteção, reconhecimento, respeito, compromisso, confiança, honestidade e comunicação aberta. Apesar de ter experimentado o amor desde criança, sei que não dá para romantizar a parada e dizer que a nossa sociedade está pronta para o amor.
A razão é que numa sociedade capitalista, o amor pode ser facilmente trocado pela ganância e pelo desejo de poder e domínio. Quando isso acontece, uma intensa ausência emocional e espiritual nos atravessa e somos invadidos pela avareza material e consumo desenfreado. Nessa lógica, o narcisismo saudável (a autoaceitação e a percepção do próprio valor, pedras fundamentais do amor-próprio) é substituído por um narcisismo patológico (em que apenas o “eu” importa), usado para justificar qualquer ação que permita a satisfação de desejos.
A adoração do dinheiro leva a um endurecimento do coração. E isso pode levar qualquer um de nós a justificar, ativa ou passivamente, a exploração e a desumanização dos outros e de nós mesmos.
Bell Hooks
Mas calma, nem tudo está perdido!
Todos nós podemos ser transformados pelo amor, mas isso é um processo que exige tempo. A maneira como trabalhamos nos deixa tão exaustos, cansados e estressados, que quando não estamos trabalhando, estamos física ou emocionalmente esgotados para praticar a arte de amar.
Pois é, minha querida leitora, isso aconteceu comigo.
Como empreendedora social, ativista e internacionalista, por muito tempo me vi engolida pelas demandas e necessidades dos meus projetos, ações e atividades e não tinha tempo para fazer nada além de trabalhar.
Aí eu te pergunto: como separar vida pessoal e profissional quando seu trabalho, estudos e ativismo têm um mesmo tema em comum?
Ser ativista climática, viver por uma causa e ter um desejo ardente de transformar o mundo pulsando em seu coração não é fácil, mas aos pouquinhos, sinto que vou encontrando o meu caminho. Me abri para o amor da família, dos amigos, do divino, da comunidade e também, para o amor romântico.
Quando percebi que separar um tempo de descanso também era separar um tempo para amar, passei a me permitir deixar o trabalho de lado e passar mais tempo com minha família, amigos, Deus e comigo mesma. Aprendi a me amar, respeitar e honrar os meus limites. A minha bondade comigo mesma me levou a me conectar genuinamente com os meus semelhantes. Finalmente, aprendi a conversar com meu coração e escutar tudo que ele gostaria de me dizer:
É possível falar diretamente com o nosso coração. A maioria das culturas mais antigas sabe disso. Podemos de fato conversar com o nosso coração como se ele fosse um bom amigo. A vida moderna se tornou tão atribulada com os afazeres e pensamentos diários que perdemos essa arte essencial de reservar um tempo para conversar com o nosso coração.
Jack Kornfield
Querida leitora, amar exige coragem, e aprender sobre como encarar nossos medos é uma forma de abraçar o amor. Talvez o medo não vá embora logo de cara, mas se fizermos essa escolha, ele já não ficará mais no caminho. Aqueles que escolhem adotar uma ética amorosa, permitindo que ela governe e oriente o modo de pensar e agir, simplesmente brilham. E ao deixar nossa luz brilhar, atraímos e somos atraídos por outras pessoas que também mantêm sua chama acesa.
O amar é um verbo do coletivo. Nunca estamos sozinhos quando amamos <3
A prática de amar é a força curativa que nos traz paz duradoura. É a prática do amor que transforma. Conforme alguém dá e recebe amor, o medo vai embora.
Bell Hooks