Trump concretiza sua retórica xenófoba com medida anti-imigração

Atualização, 06/01, 14h32 – O Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos informou no último sábado (4) que suspendeu as ações para implementação do veto do presidente Donald Trump, conhecido como Muslim Ban (banimento muçulmano), para que refugiados e cidadãos de sete nações de maioria muçulmana entrem no país. O Departamento acatou a decisão do juiz federal James Robart, do estado de Washington.

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O atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, parece estar cumprindo com suas promessas de campanha. Na sexta-feira (27), assinou o primeiro decreto anti-imigração de seu governo, o Muslim Ban (banimento muçulmano).

A medida bloqueia a entrada de imigrantes de sete países de maioria muçulmana (Irã, Iraque, Síria, Iêmen, Somália, Sudão e Líbia) por três meses e de refugiados de qualquer nacionalidade por quatro meses – exceto os sírios, que terão entrada proibida por tempo indeterminado.

Segundo o governo, a medida foi tomada em nome da segurança nacional, para proteger o país do terrorismo – apesar de nenhum desses países jamais ter cometido atentados contra os EUA.

Desde então, os principais aeroportos do país entraram em crise. De acordo com o Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos, 109 pessoas tiveram sua entrada no país negada, no dia em que a ordem executiva foi decretada. Além disso, 173 pessoas foram aconselhadas, nos aeroportos de origem, a não embarcar para os Estados Unidos.

Lina Abushouk, jovem estudante sudanesa, tinha a intenção de fazer pós-graduação nos Estados Unidos em 2017, mas com a medida de Trump teve que mudar de planos. Nas redes sociais, Lina lembrou: “há pessoas sendo impactadas de maneiras seríssimas pelas decisões abstratas tomadas em Washington. Eu tenho sorte suficiente de não estar fugindo de uma zona de conflito ou perseguição, mas muita gente do Iraque, Síria, Sudão, Somália e Iêmen não tem tanta sorte”.

Os imigrantes que tiveram sua entrada negada possuíam vistos de não-imigrante, ou seja, entravam de forma legal no país. As 173 pessoas que não embarcaram na noite de sábado são residentes permanentes legais nos Estados Unidos. Alguns imigrantes detidos nos aeroportos internacionais tiveram a entrada concedida após juízes federias nos estados de Nova York, Massachusetts, Virginia e Washington determinarem ilegal a medida do presidente.

O decreto afeta também a vida dos 45 milhões de estrangeiros que estão no país, pois torna real a ameaça de extradição e diminuição dos direitos de imigrantes.

Durante sua campanha para presidência, Donald Trump prometeu, além da proibição da entrada de refugiados e islâmicos, a construção de um muro na fronteira com o México, a limitação da concessão de vistos de moradia, estudo e trabalho para estrangeiros (em especial latinos e islâmicos), e extradição de todos os imigrantes ilegais do país.

De acordo com uma pesquisa feita pelo Pew Research Center, em 2014 o número de imigrantes ilegais nos Estados Unidos era de 11,1 milhões, equivalente a 3,5% da população norte americana. No mesmo ano, cerca de 8 milhões de imigrantes ilegais compunham o mercado de trabalho, sendo super-representados nas indústrias de construção e agricultura. Segundo o relatório do Institute on Taxation and Economic Policy (ITEP), imigrantes ilegais contribuíram cerca de 11,64 bilhões de dólares em impostos no ano de 2016.

Mohamed Maduko (21), muçulmano e imigrante do Quênia, afirma que a retórica anti-imigração do presidente o afeta muito, apesar de ser cidadão estadunidense. “Eu temo pela minha vida, da minha família e de outros imigrantes, pois há pessoas que apoiam o Trump e suas medidas e que não querem nos fazer bem”.

O jovem faz parte de uma rede de estudantes nos EUA que luta pela educação pública de qualidade e inclusiva, mas diz que as medidas de Trump podem prejudicar o movimento. “Tenho conversado com professores de diversos estados americanos sobre a medida anti-imigração e eles me dizem que a educação estadunidense para imigrantes será afetada”.

Muitos estadunidenses não imigrantes também opõem a medida anti-imigração. Grandes corporações como a Microsoft, Apple e Facebook declararam repúdio ao decreto de Trump. Durante a premiação dos SAG Awards, no domingo (29), considerado um “esquenta” para o Oscar, diversos artistas se pronunciaram em apoio à entrada de imigrantes e refugiados nos EUA. No discurso de abertura, o ator Ashton Kutcher desejou boa noite a quem estava em casa e “a todos que estão em aeroportos e pertencem ao meu país. Vocês são parte do nosso tecido social, nós amamos e damos boas-vindas a vocês”.

A resistência não se limitou ao tapete vermelho. Milhares de pessoas ocuparam as ruas e os aeroportos do país nos últimos dias, de Boston a São Francisco, em oposição ao governo Trump.

 

Protestos em aeroportos contra o decreto Muslim ban – Protestos em aeroportos desde 27 de janeiro, quando o presidente Trump assinou o decreto limitando a entrada no país de imigrantes de sete países de maioria muçulmana.

Ella Mahony, de 23 anos, militante, editora da revista esquerdista Jacobin e membro do partido Socialistas Democráticos da América (DSA), esteve presente nas manifestações. “Desde o atentado de 11 de setembro, o ambiente dos aeroportos é muito estressante e hipercontrolado. Todos têm que controlar seus comportamentos, especialmente os não brancos. Os protestos foram incríveis porque trouxeram uma energia positiva e comunitária de volta aos aeroportos”.

Ella avalia o resultado das manifestações com otimismo. “Definitivamente a maioria dos americanos não é apenas contra o decreto anti-imigração, mas também militante, como pudemos ver pela numerosidade dos protestos”. Em pesquisa feita pela Public Policy Polling, as primeiras semanas do governo Trump tiveram apenas 44% de aprovação dos eleitores e cerca de 35% apoia o impedimento (impeachment) do presidente eleito.

“Trump não chegou à presidência porque as pessoas gostam dele, mas porque o discurso da Hilary Clinton [sua oponente] era fraco. Os defensores de Trump estão desmotivados, desorganizados e isolados, e a influência deles é irrelevante”, afirma Ella.

Diante do impasse legal da execução do decreto, a Casa Branca justificou que a medida é uma “questão de segurança nacional”, mas deve ainda apresentar defesa diante das cortes. Para muitos especialistas, a medida é inconstitucional, pois está dirigida contra um grupo religioso específico, indicando discriminação religiosa, além de violar o First Amendment’s Establishment Clause, que proíbe o governo a favorecer uma religião à outra.

Redatora e repórter na Agência Jovem de Notícias

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