Sustentabilidade é o novo preto: um olhar sobre a indústria da moda

Por Veronica Wrobel e Giulia De Nadai
Traduzido por Paulo Lima

Você sabia que, para produzir uma camiseta de algodão, é necessária a mesma quantidade de água que um indivíduo bebe em dois anos e meio? Na verdade, mesmo que você não siga a última moda, você ainda acaba sendo uma vítima dessa indústria. Hoje tivemos a oportunidade de ouvir os representantes de algumas das maiores marcas de moda, como Stefan Seidel (Puma), Kim Hellstorm (H&M) e Pamela Betty (Burberry) durante a Conferência da ONU sobre mudanças climáticas (COP24) em Katowice, na Polônia.

Devido aos atuais desafios das mudanças climáticas, 43 marcas líderes decidiram estipular uma Carta de Ação Climática em resposta. Durante este evento, enfatizou-se o papel central e duplo dos stakeholders da moda: a verdade que eles são responsáveis ​​por 5% das emissões de gases de efeito estufa (mais do que o vôo internacional e o transporte marítimo). É por isso que, com a Carta, foram definidos alguns objetivos comuns, como, por exemplo, uma redução de 30% das emissões até 2030 e uma meta de emissões zero até 2050. Por outro lado, deve-se notar que as indústrias de moda podem ser positivamente influenciadas pelas escolhas dos consumidores.

A Carta para a Ação Climática é baseada em uma abordagem colaborativa, na qual são criadas interdependências e parcerias entre vários atores e setores dentro e além da indústria da moda. No entanto, como disse o chefe de Sustentabilidade Corporativa da Puma, a história de algumas das maiores marcas mostrou que nem sempre as promessas foram cumpridas e, por esse motivo, nosso meio ambiente sofreu os efeitos negativos desse desrespeito.

Uma questão que foi levantada durante o evento dizia respeito à possibilidade de reduzir a quantidade de roupa produzida e, ao invés disso, elevar sua qualidade. Não é segredo que muitas empresas de moda famosas (apenas para citar um nome, Burberry) queimaram e continuam queimando seus bens não vendidos, poluindo o meio ambiente não apenas uma vez ao produzir o item, mas duas vezes, desperdiçando e, eventualmente, destruindo-o

Além do esforço para reduzir a produção de unidades, precisamos de uma atitude mais sustentável em relação aos nossos hábitos de compra: podemos evitar a criação de resíduos, diminuindo a demanda por novos itens e preferindo as lojas de segunda mão.

A solução para essa prática desperdiçadora reside, como na maioria das vezes, no conhecimento. Um consumidor mais educado e consciente é geralmente capaz de fazer melhores escolhas e, portanto, evitar custos inúteis e desnecessários, tanto para sua carteira quanto para o meio ambiente. De fato, se os compradores estiverem bem informados e conscientes dos custos econômicos, sociais e ambientais relacionados à produção e ao ciclo de vida dos artigos de moda, toda a indústria certamente será redimensionada.

Após o evento realizado na COP24, tivemos a oportunidade de conhecer e conversar com Vanessa Perez Cirera, vice-líder em clima e energia no WWF International. Fizemos algumas perguntas sobre ações concretas que a organização está tomando sobre o assunto. Ela mencionou 4 programas em diferentes áreas: a primeira é o “Alvos baseados em ciência”, uma iniciativa que fornece às empresas caminhos e metodologias para o crescimento, que se alinham com o relatório de 1,5° C do IPCC. O objetivo do programa é reduzir as emissões de gases de efeito estufa, fazendo a transição para uma economia de baixo carbono ou, idealmente, baseada em energia renovável. Até agora, 500 empresas aderiram a ela.

Em conexão com o projeto mencionado, eles desenvolveram um portal para disseminar estratégias e tecnologias inovadoras do clima, o que ajudaria a enriquecer as metas pré-estabelecidas. Sabendo que nem sempre é fácil mudar para uma produção mais sustentável, o WWF construiu a Renewable Energy Buyers Alliance (REBA), uma rede para conectar produtores e compradores de energia renovável.

Para os mais ambiciosos, o WWF lançou um programa de liderança climática, o Climate Savers, com a intenção de influenciar o setor por meio de agentes de mudança que decidiram ir um passo além das metas estabelecidas. Até agora, 28 empresas globais aceitaram o desafio e se tornaram parceiras do WWF, estabelecendo um exemplo para um crescimento sustentável.

De mãos dadas com a iniciativa do lado da oferta, também é necessária uma mudança no comportamento do consumidor. Como mencionou Cirera, os indivíduos deveriam consumir menos, mas também estar dispostos a pagar mais para enviar uma mensagem clara aos produtores: a sustentabilidade é o “novo preto”. Dessa forma, as empresas seriam incentivadas a criar uma economia circular que rastreasse todo o ciclo de vida do que elas produzem. A mudança precisa ser bilateral, mas é o consumidor quem precisa dar o primeiro passo e mostrar sua disposição.

 

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