Se a vida é um sopro, para onde este vento está nos levando?

Uma reflexão sobre a vida, após a morte da empreendedora social Sara Raimundo

Por Gustavo Souza

Ao ler a notícia sobre a Sara Raimundo, uma jovem empreendedora social que faleceu durante sua viagem a caminho do Brazil at Silicon Valley nos EUA, uma pergunta surgiu em minha mente: com o que estamos gastando nosso tempo?

É clichê ouvirmos que a vida é um sopro, porém muitas vezes a ficha de que isso é uma realidade não cai; é necessário acontecer um desastre para refletirmos que não temos todo o tempo do mundo. Mas será que precisamos desses momentos para pensarmos em como estamos vivendo e ver se realmente é um contexto feliz e saudável? 

Constantemente perdemos tempo fazendo coisas que não gostamos/queremos, ou que só servem para agradar alguém, ou simplesmente aquelas que o sistema nos obriga. E em certos momentos, quando nos encontramos nesses lugares de desafeto, entramos em questionamentos se estamos seguindo o caminho certo.

É frustrante viver na esperança e não saber se no fim a recompensa realmente virá. Olhando para nosso cotidiano, vemos que só vivemos de esperança: Na religião, a esperança de ir pro céu, no trabalho, a esperança de se aposentar, na universidade, a esperança do diploma. É uma pirâmide de incertezas. E o mais louco disso é que se você não seguí-la, é julgado. É intrigante como entregamos a nossa liberdade, a nossa saúde e o nosso tempo a custo de nossa própria existência, mesmo estando em um sistema que te exclui por ser quem é, e quando começamos a refletir, vemos que não passamos de um parafuso em meio a engrenagem.

Quando criança, passei por uma fase de bullying na escola. Porém eu queria de qualquer jeito fazer amizade com quem me feria, justamente pra não ficar sozinho, e por isso me submetia a coisas que eu odiava, mas eu não enxergava outro método de ser aceito. Olhando pra isso hoje, penso em quantas coisas na vida nos ferem, mas seguimos acreditando que temos que manter, temos que ser aceitos – como se a voz da solidão gritasse enquanto a da auto aceitação sussurra.

Para meninos, falar sobre sentimentos é uma questão difícil e parte disso nasce da narrativa que a sociedade constrói que homem precisa ser a coluna, a base, o fundamento. E muitas vezes o lado sentimental é desprezado ou evitado. Me atrevo a dizer que este é o motivo pelo qual muitos homens maduros ainda não saberem lidar ou conhecer o que estão sentindo, muito menos se abrir com alguém.

Foto: Cartaz Divulgação Euphoria

Estou assistindo uma série da HBO, “Euphoria”, e nela o pai de um dos jovens tem casos com outros homens e com pessoas trans. Ele utiliza daqueles momentos para poder se abrir e revelar quem ele realmente é. Claro que ele sabe exatamente por quem sente atração, porém o seu medo de se abrir faz ele seguir exatamente o que foi subestimado mesmo que isso custe a sua felicidade. Teria a aceitação um valor maior que a liberdade?

Vivemos tanto na correria do automático que não temos tempo para ser, sentir e principalmente viver, e quando nos permitimos  um momento de lazer, nos culpamos por isso. Quem nunca ouviu ou pensou “descansei o final de semana todo, poderia ter estudado”? Com isso vemos que quando tiramos um tempo pra nós mesmos, nos culpamos simplesmente por fazer o que queremos/gostamos. Com isso notamos que estamos imersos num sistema que suga! Por mais que existam narrativas que aos ouvidos parecem fugir dele, é apenas a falsa sensação de estar no controle.

No Ensino Médio recebi uma pergunta que até hoje respondo de diversas formas: “Qual o seu lugar no mundo?” Acredito que respondo sempre diferente porque nem eu sei ao certo meu lugar no mundo e não preciso mesmo saber; a minha trajetória vai me guiar para o meu lugar do mundo. E agora te faço esse mesmo questionamento:

Qual é o seu lugar no mundo? É um lugar saudável? Você pode ser quem você é nele?

Sem dúvidas nosso lugar no mundo não é aquele onde temos que deixar de ser nós mesmos para pertencer a ele. 

Mas a pergunta-chave que queria provocar sua reflexão é “Qual o seu sonho?”

Foto: Empreendedora Social Sara Raimundo

O de Sara era conhecer a América. Porém no seu trajeto até lá, ela descansou… descansou no lugar que ela queria tanto ter conhecido em vida. Mas e o seu sonho, você está esperando o que para realizá-lo? O momento certo? Já te digo que ele nunca existirá. Eu costumo dizer que a vida espera uma loucura nossa para nos surpreender. Quantas coisas fizemos sem ter a certeza que ia dar certo, e no final foi melhor do que cogitamos? Talvez, para conquistar nosso sonho, vamos precisar nos desprender do óbvio e da nossa área de conforto, até porque para voar precisamos sair do chão.

Agora, de volta à pauta de saúde, seja ela mental ou física: é importante se cuidar! Assim como priorizamos muitas outras coisas, nós devemos ser nossa primeira e principal prioridade, uma rotina com hábitos saudáveis, momentos de lazer e descanso, exames periódicos para saber como estamos e o cuidado com a nossa mente, principalmente. Um bom físico sem uma mente ótima de nada tem valor. Procure uma UBS mais próxima e bora marcar esses exames de rotina e um acompanhamento pra ontem, tá!

Ver +

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *