Respeito no Carnaval: nunca fomos nem seremos só corpos
Maria Julia Carvalho de Andrade, 16 anos, da Rede Pontes (PR) | Ilustração: Igor Di Castro (Acervo/Revista Caravela)
Não somos apenas bundas, não somos apenas corpos, não somos apenas samba, não estamos aqui para te agradar, muito menos para te divertir. Somos mulheres, somos mentes, somos pensamentos, somos luta e vontade de lutar, é da força que viemos e vamos vencer.
Neste carnaval ouça o que temos a dizer, afinal, nosso objetivo é se divertir, mas também mostrar que deixamos de ser as negras da senzala humilhadas e abusadas por nossos senhores brancos, não estamos aqui para agradar ou para calar diante de agressões, nós viemos em primeiro lugar.
Nossas roupas não justificam o seu toque sem nosso consentimento, então chega dessa ideia hipócrita de que estamos tentando aparecer para você, porque meu caro, se estivermos pode ter certeza que iriamos conversar com você, para mostrar que nosso conhecimento e muito mais lindo que nosso corpo.
Quantas de nós, mulheres, já ouviram um “oi, delícia”, principalmente em épocas de festas? E quantas de nós sentimos nojo, quantas se sentiram fracas, quantas se sentem amedrontadas, e principalmente, quantas têm impressão que todas as lutas contra assédio e machismo não bastaram para calar a boca de uma sociedade de mente pequena que julga a mulher pelo tamanho do seu decote ou do seu shorts, ou então por uma sociedade que acha que devemos “ser dignas de respeito” quando, na verdade, respeitar é uma obrigação?
Nossos atos e nossas roupas não nos tornam pedaços de carne feitos para homens se divertirem, mas seus atos contra nós podem torná-los criminoso. Neste carnaval pense antes de falar, não somos mais negras escravas, e não vamos mais nos calar diante da sua falta de educação.