Respeito à diversidade é o princípio da gestão democrática, defendem participantes do FME

A educação para o “outro mundo possível” que se sonha e constrói no Fórum Mundial de Educação, realizado em Canoas, região metropolitana de Porto Alegre, entre 20 e 23 de janeiro, está intimamente relacionada a realização de uma gestão democrática. Este é o tema de um dos seis grupos de trabalhos que se reúnem ao longo do evento para discutir os desafios e oportunidade da educação enquanto um direito humano.

O debate, que reuniu centenas de educadores, gestores e pesquisadores, aconteceu na tarde desta terça-feira, 21, e contou com as presenças de Mariana Cavalcante Ferreira, jovem com síndrome de Down, autora do livro “Mariana, uma facho de luz” e seu pai, o médico João Cavalcante; também de Alberto Crocce, da Campaña Latinoamericana por el Derecho a la Educación – Argentina e Alex Virginio, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

O respeito à diversidade é o primeiro passo necessário para garantir a gestão democrática e uma educação inclusiva. A tendência de sufocar as diversidades a favor de um padrão comum que não existe, mas que se impõe foi denunciado pelos convidados como um desafio para a sociedade e, prioritariamente, para o sistema de educação. “A escola não sabe o que fazer com a diversidade, com os valores distintos dos sujeitos que a frequenta. Ao professor é exigido educar com base num padrão”, sublinha Alberto Crocce.

Para ele a gestão democrática acontece quando a escola aprende a lidar com o agente real, com suas demandas, experiências, desejos; não aquele que diz que a gestão quer ouvir. “A diversidade é a chance de construir o mundo que queremos”, argumenta. Nesse sentido, cabe ao educador reivindicar e valorizar a pluralidade presente no espaço escolar.

Mariana, que estudou até os 18 anos numa escola regular até optar por ir para uma APAE, onde poderia se relacionar com outros jovens com Down, defende uma escola aberta para dialogar sobre todo e qualquer tema, sem tabus ou preconceitos.

A escola que temos socializa o preconceito, a indiferença e a exclusão”, provocou Alex Virgínio. Apontou ações importantes que já proporcionam experiências exitosas do que ele chama de escola utópica, – como a escola Ponte, criada por José Pacheco, em Portugal e que também inspira projetos no Brasil – que indicam a construção de uma educação libertadora que leve em conta não apenas os saberes de vestibular, mas a sensibilidade, a convivência, a empatia.

Nessa linha, Gilson Dias, um dos educadores presentes no debate, mencionou a experiência de Marabá (PA), uma das únicas cidades do país a realizar eleições diretas para diretores de todas as escolas do município. “Somos um exemplo de democracia para o Brasil”, comemora.

Para Crocce discutir uma nova educação nos leva, obrigatoriamente, à questionar o conceito de qualidade e êxito. Se na sociedade neoliberal o sucesso é representado pela ascensão social, dinheiro e poder; no “mundo que queremos”, a felicidade é o êxito máximo a ser perseguido. “Estamos aqui para construir uma nova educação, que forme pessoas solidárias, justas, amorosas e felizes”.

Por Vânia Correia

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