#Resenha /Tudo sobre o amor: novas perspectivas!
Tudo sobre o amor: novas perspectivas (2000), da escritora, professora, intelectual e ativista estadunidense bell hooks, é uma denúncia do desamor presente em nossa sociedade. Abordando questões de gênero, classe e raça, a autora nos leva a ressignificar o amor e entender o que estamos fazendo de errado.
Por Sofia Leite
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Ler bell hooks é como uma sessão de terapia. Ao mesmo tempo, é como conversar com nossa própria mãe. Leituras desse tipo são um acalanto para o coração, uma mão que se estende em nossa direção para nos erguer após a queda.
Em Tudo sobre o amor: novas perspectivas, a autora nos convida a pensar o amor de forma mais ampla. A partir disso, somos levados a reflexões sobre a vida, a morte, o medo e a coragem. Também entendemos as disparidades de gênero que acompanham esse tema. bell hooks nos leva a repensar nossa relação com o amor desde a infância. Ela lança luz sobre uma importante questão: a de que nem sempre nós conhecemos o amor dentro de nossas famílias. Na verdade, para ela, nós podemos ter famílias disfuncionais e que se assemelham a um regime fascista. É por isso que, segundo a autora, naturalizar o fato de que nosso núcleo familiar nutre amor por nós pode ser um erro.
Nós, muitas vezes, saímos machucados da infância. O grupo que é socialmente visto como amoroso, a família, às vezes só nos traumatiza. Vamos, dessa forma, tentando nos afastar do amor para que não sintamos aqueles mesmos sentimentos de quando éramos crianças. Começamos a entender o amor como algo com um sabor ruim e que pode nos magoar e nos decepcionar.
É na infância também que adquirimos noções equivocadas dos papéis masculino e feminino no amor. Somos levados a acreditar que as mulheres devem cuidar e servir, assumindo uma postura mais amorosa, já os homens devem ser hostis e esconder seus próprios sentimentos. Assim, criamos homens violentos e mulheres submissas que continuam dando amor àqueles que as maltratam. Isso leva às relações amorosas problemáticas que temos no presente.
Mulheres são incentivadas a amar, homens não. Além disso, mulheres são aquelas que mais leem livros de ficção e, consequentemente, histórias sobre amor, tentando fugir de uma realidade dominada pelos homens. No entanto, os homens são os que mais escrevem sobre amor, como se soubessem o que, de fato, isso significa. Essa falsa sensação existe porque estão acostumados a receber amor das mulheres, e, sendo assim, acham que sabem o que é isso.
As mulheres, apesar de serem incentivadas a amar, não recebem amor de volta, o que faz com que elas não se sintam dignas de escrever sobre o tema. Ou seja, quando mulheres buscam conforto na literatura, fugindo para um lugar longe do patriarcado, elas estão caindo em uma armadilha, pois podem estar ouvindo as noções erradas dos homens sobre o amor e adentrando mais ainda em um mundo dominado por eles.
Bell Hooks também nos mostra que amor e capitalismo, assim como amor e patriarcado, não podem coexistir. Relações de poder, no geral, são contrárias ao amor e devem ser eliminadas para que possamos nos libertar e viver de acordo com uma ética amorosa. No capitalismo, por exemplo, somos estimulados o tempo todo a buscar prazeres imediatos e felicidade instantânea, mas no amor isso não é possível.
O amor não nos dá felicidade eterna só por estarmos em contato com ele, como muitos pensam. Ele funciona como uma caminhada com altos e baixos, e não podemos desistir e abandoná-lo no primeiro percalço por não estar suprindo as nossas expectativas. Em vez disso, devemos procurar uma forma de guiá-lo em direção a um caminho mais prazeroso, em que todos da relação estejam satisfeitos, mas isso leva tempo. Chegar ao amor perfeito é um processo demorado de cura da nossa alma. Nada no capitalismo pode ser demorado, é tudo instantâneo.
No livro dividido em 13 capítulos, bell hooks apresenta em cada um uma reflexão diferente, e nos mostra que amor não é um sentimento, é uma ação. Também entendemos, ao final de tudo, que o oposto do amor é o medo, pois precisamos encher nosso peito de coragem para superar as barreiras que nos assustam e nos impedem de viver uma vida plena de amor. Só assim chegaremos a um mundo ideal, em que a vida vale a pena ser vivida e é mais valorizada que a morte.
Ler esse livro em um momento da minha vida banhado por desamor e em que me questiono se faz sentido continuar nesse plano foi como escutar conselhos de uma grande amiga. Senti que aquilo tinha sido escrito para mim. bell hooks quer que eu viva. bell hooks quer que eu ame e seja amada. Ela quer que todos nós tenhamos aquilo que realmente merecemos: paz.
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