Repensando a moda
Ao pensar em como lidar com a crise climática, a moda raramente vem à mente. No entanto, a moda é a segunda indústria mais poluidora do mundo e pouco é feito sobre isso. Mas aqui está a boa notícia: você tem a opção de não apoiar esse setor, e aqui está como.
Por Veronica Wrobel
Traduzido por Daniele Savietto
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Você sabia que as emissões de gases de efeito estufa da produção têxtil representam mais do que as de todos os voos internacionais e marítimos combinados?
Sim, você ouviu direito: a indústria da moda responde por 10% das emissões globais de carbono e, se nada mudar, estaremos vendo um número tão alto como 26% até o ano 2050. O que significa que em 30 anos a produção têxtil emitirá um quarto de todo o carbono. Além disso, a indústria têxtil usa quantidades impressionantes de água, tanto para a produção de tecidos quanto para a tingimento, e a maioria das peças de vestuário contribui para a poluição do plástico nos oceanos.
Você está se perguntando como uma indústria pode ter um impacto tão destrutivo em nosso planeta vivo?
Hoje, a maioria das roupas é feita de poliéster e outros materiais sintéticos. Dê uma olhada no que você está vestindo, no que está no seu armário. Muito provavelmente, suas roupas são feitas, inteiramente ou em parte, de poliéster. Os materiais sintéticos tornaram-se muito populares no século passado e hoje são os materiais mais baratos, mas também os mais poluentes, pois são produzidos a partir de combustíveis fósseis. Portanto, quando se trata de respeito ao meio ambiente, eles são o pior material que você pode escolher, tanto pela sua produção intensiva de carbono quanto pelo fato de levar mais de dois séculos para se decompor. Isso significa que, quando seus tataranetos nascerem, sua camiseta de poliéster ainda estará por aí.
Outra preocupação alarmante das fibras sintéticas é o seu papel na poluição do plástico. Não apenas sua roupa dura duzentos anos, mas toda vez que você a lava quando lava a roupa, pequenas partículas quase invisíveis se libertam do tecido e acabam na água utilizada. Nem mesmo os sistemas de filtragem são capazes de capturar essas partículas de plástico, também chamadas de microplástico. Estes acabam em rios que transbordam para os oceanos, afetando os animais marinhos que você fica tão feliz em colocar em seu prato, fechando o ciclo.

Você pode pensar: ‘Vou comprar algodão então’, mas isso é quase tão ruim quanto. Embora seja uma fibra natural e compostável, é uma colheita altamente intensiva em água. Para produzir uma camiseta, é preciso 2.700 litros de água. Para colocar em perspectiva, é o quanto você bebe em dois anos e meio.
Em suma, a maioria da produção de roupas está destruindo nosso planeta.
A quantidade de recursos colocados em produção é uma grande parte do problema, mas uma questão ainda maior é a quantidade de roupas consumidas pela pessoa comum nos países ocidentais. Somente nos últimos 20 anos, a demanda do consumidor aumentou 60%. Como sociedade, somos viciados em moda rápida, onde marcas como H&M e Zara lançam uma nova linha de roupas toda semana, 52 vezes por ano! A piora da qualidade a preços cada vez mais baixos permitiu uma maior e mais rápida rotatividade de lucros para as marcas multinacionais, que vendem roupas que mal duram uma temporada, criando assim uma demanda contínua.
Felizmente, nos últimos anos, a conscientização aumentou e os consumidores começaram a se tornar mais conscientes sobre seus padrões de consumo, de modo que as grandes empresas tiveram que segui-las.
A H&M introduziu uma ‘linha consciente’, responsável por menos de 1% do que produz, afirmando que eles estão tentando seguir na direção certa para um futuro mais sustentável. Mas, na minha opinião, essa é apenas uma estratégia de marketing, também conhecida como greenwashing, que muitas outras marcas estão adotando. Ao mudar o foco para algo positivo, ela permite que eles executem negócios como de costume em segundo plano.

Não podemos falar sobre moda sem mencionar também a justiça social: muitas vezes esquecemos que, por outro lado, existem pessoas reais que são exploradas pela indústria, gastando 12 horas por dia (ou mais!) 365 dias por ano, em uma fábrica provavelmente sem nenhuma regulamentção, produzindo roupas que privilegiam pessoas como você e eu, que usamos algumas vezes e depois jogamos fora.
Então o que você pode fazer?
A primeira e mais impactante ação é não comprar roupas novas. Ao não criar demanda, você pode parar de abastecer a indústria da moda com seu dinheiro. Lembre-se que com cada moeda você dá um voto. Não comprar roupas novas, no entanto, não significa não comprar roupas! Você ainda pode se vestir na moda e comprando roupas semi-novas em lojas de segunda mão. Ou melhor ainda, comece a compartilhar suas roupas.
Eu sempre compartilhava meu guarda-roupa com meus amigos no ensino médio e fiquei em êxtase quando descobri que existe um aplicativo que permite que você faça exatamente a mesma coisa. O Nu Wardrobe acaba de ser lançado em Londres e permite que você peça roupas emprestadas de outros usuários, e é o lugar certo para encontrar o vestido perfeito para aquela ocasião especial. Ao compartilhar roupas e comprar em lojas de segunda mão, você não apenas economiza dinheiro, mas também contribui para salvar o planeta!
Além disso, comece a adotar uma mentalidade de slow fashion. Se você realmente precisa comprar algo novo, embora isso possa muito bem ser aplicado na compra pré-amada, concentre-se na qualidade e não na quantidade e compre algo que desperte alegria, como diz Marie Kondo.
Gastar um pouco mais de dinheiro permitirá economizar mais a longo prazo, uma vez que as roupas serão mais resistentes ao tempo e às lavagens. Procure sempre fibras ecológicas, como bambu (rayon), cânhamo, linho, tencel, que são melhores para a pele de qualquer maneira, porque são feitas de fibras naturais, permitindo que o corpo respire.

Por fim, informe-se e aumente a consciência, sempre que puder. Assim como todos precisamos de comida, todos precisamos de roupas para nos cobrir, então todos devem fazer sua parte. Você pode começar assistindo ao documentário “The True Cost“, ler artigos e compartilhar suas descobertas nas mídias sociais (sim, mesmo se você tiver um pequeno número de seguidores!). Junte-se a um grupo de ativistas ou, melhor ainda, crie o seu. Fale e não apoie a indústria da moda com seu dinheiro suado. Comece a compartilhar suas roupas e pare de comprar novas. E se você quiser trazer mudanças reais à sua vida, comprometa-se a não comprar roupas ou tecidos novos por 52 semanas. Mas faça o que fizer, Aja AGORA!
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Este artigo foi originalmente publicado na Agência Jovem de Notícias Itália.