“Quero mudar o bairro onde cresci”

Aos 18 anos, Thamires Ribeiro começa no projeto Geração que Move no Jardim Ângela, em São Paulo (SP)

Por Unicef Brasil

Thamires Ribeiro cresceu na Zona Sul de São Paulo. Apesar de experimentar a vida em diferentes bairros, acompanhando as mudanças da mãe, guarda suas raízes em Campo Limpo. Hoje, com 18 anos Thamires mora com a mãe, o atual padrasto e três irmãos mais novos em um pequeno apartamento em Jardim Ângela, que, segundo a jovem, é ainda mais periférico, a violência é maior, as coisas são bem mais difíceis”.

Depois de cursar o ensino fundamental em escolas municipais nos bairros onde morava, Thamires conquistou uma vaga de ensino médio numa escola técnica localizada em Pinheiros, considerado zona nobre de São Paulo. Ela se viu, então, pela primeira vez saindo da sua região para alçar outros territórios da cidade. A mãe a desestimulou a seguir por conta do custo do transporte e da falta de segurança no deslocamento, mas a jovem reivindicou seu direito ao passe livre e conseguiu levar os estudos adiante.

A gente que é pobre não sabe que tem direito à cidade

Os conhecimentos proporcionados pela escola e os longos traslados até a nova escola desenvolveram seu olhar crítico em relação às desigualdades sociais impressas na geografia da cidade. “A gente que é pobre não sabe que tem direito à cidade. Eu via as coisas na televisão e não sabia que podia ter acesso. Com a escola conheci o Masp (Museu de Arte de São Paulo), a USP (Universidade de São Paulo), a Orquestra de São PauloQuero entender melhor como são distribuídos os privilégios, como o lugar onde nascemos influencia nas desigualdades”.

A necessidade de contribuir em casa – cuidando dos irmãos para que a mãe pudesse trabalhar – e os riscos de violência no deslocamento se impuseram então como barreiras para a jovem seguir os estudos rumo à universidade. Foi selecionada para o cursinho pré-vestibular da USP, mas não pôde estudar mais do que dois meses. O sonho de ingressar em universidade pública pareceu distante, provocando angústias das quais ela não gosta de se lembrar.

Contudo, Thamires superou as adversidades e conseguiu aprovação no curso de Geografia, na Universidade de São Paulo. Hoje, a jovem enfrenta novas dificuldades para continuar a vida acadêmica devido aos riscos de ir e vir no bairro onde mora. “Estudo à noite, então minha mãe fica aterrorizada por eu voltar de ônibus da faculdade. Ela tem medo de eu sofrer violência no caminho do ponto de ônibus até minha casa, principalmente por eu ser mulher”. 

A violência é, sem dúvida, o maior desafio que a jovem enfrenta. O medo de assalto e assédio certamente impede que ela e seus amigos possam frequentar os espaços de esporte e lazer do bairro. Leitora ávida, quando arrisca sair de casa no seu tempo livre, Thamires busca as bibliotecas públicas da cidade. Mas sua biblioteca preferida é a do Campo Limpo, espaço que a acolhe há muitos anos e onde hoje pleiteia uma vaga de trabalho.

O acesso a oportunidades de trabalho em outras regiões da cidade esbarra na mesma problemática da violência no ir e vir. “É perigoso sair aqui”, ela repete algumas vezes. A falta de segurança no caminho até a casa soma-se à limitada circulação de ônibus na região. “A gente precisa esperar horas no ponto”, aponta a jovem. Apesar dos desafios estruturais, ela sonha em continuar morando na região onde foi criada. “Depois que eu me formar, se eu ganhar dinheiro, não vou querer sair daqui. Quero mudar o bairro onde cresci”.

A necessidade de trabalhar levou Thamires a encontrar espaço para atuação em projetos sociais de sua região. A contribuição nessas iniciativas lhe trouxe novos entendimentos de mundo. Ressalta que, em um programa de assistência a mulheres, teve contato com a ideia de violência de gênero, o que foi fundamental para compreender a história de vida das mulheres de sua família.

A partir dessas experiências e de sua vontade de mudar o seu mundo, Thamires despertou para o projeto Geração que Move. Desenvolvido pelo UNICEF em parceria com a Fundação Abertis e a Arteris, o projeto é realizado em São Paulo e no Rio de Janeiro, em parceria técnica, respectivamente, com a OSC Viração e com a Agência Redes para Juventude. “O projeto dá voz pra gente que não tem, dá um lugar de fala para as pessoas que não têm”, destaca.

Para ela, ao apostar na adolescência e na juventude como protagonista das ações, a iniciativa aumenta seu potencial de impacto: “hoje, a juventude tem um raio de influência maior, já que está conectada em rede”.

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