Projetos sociais que usam a cultura pop para causar impacto
A marginalização da vida periférica está vinculada a fatores socioeconômicos, incluindo a falta de infraestrutura adequada, acesso limitado a serviços básicos de saúde e higiene, altas taxas de desemprego e violência. Nesse contexto, a democratização da cultura desempenha um papel importante na transmissão de conhecimento, valores e tradições de geração em geração, fortalecendo a autoestima e a autoconsciência das comunidades periféricas, ajudando-as a se afirmar diante de desigualdades estruturais.
Por Thaynara Floriano
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Colocando a periferia no centro da cultura pop, a maior convenção nerd das favelas do Brasil aconteceu gratuitamente no último domingo, 30, na zona leste de São Paulo. A PerifaCon foi realizada no Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes e contou com a participação de grandes marcas, ofereceu muitas rodas de conversa e apresentações de projetos sociais que contribuem com a movimentação cultural periférica.
A cultura pop é um fenômeno abrangente que engloba diversas manifestações artísticas e midiáticas que atraem grandes públicos há muitos anos. Filmes, músicas, séries, videogames e moda são fundamentais para a influência de comportamentos de centenas de jovens, conectando pessoas e despertando sentimentos.
Sua existência desempenha um papel importante na formação da identidade da juventude, ajudando-as a se conectar com outras pessoas que compartilham interesses e paixões semelhantes. Desse modo, a cultura pop costuma moldar o modo como determinada geração pensa e age perante os desafios de viver em sociedade.
Muitos projetos sociais dão acesso cultural a crianças e adolescentes periféricos do país inteiro, por meio de ações voluntárias, que buscam não apenas aproximar a população de livros, séries e o consumo da cultura nerd, mas também fazer com que sintam-se pertencentes ao seu território e que seus gostos podem adentrar esse espaço, fazendo parte de suas vidas e realidades, iniciando uma transformação dentro da perspectiva educativa do contexto periférico.
Prateleira de Quadrinhos
A Associação Cultural Prateleira de Quadrinhos utiliza quadrinhos e elementos da cultura pop para o desenvolvimento cultural na zona leste de São Paulo. Seu acervo é disponibilizado em todos os pontos de cultura e a leitura funciona como ferramenta para a contribuição da promoção da consciência cidadã da juventude. Acesse o site: https://www.prateleiradequadrinhos.com.br/
Gibiteca Balão
O Projeto Gibiteca Balão nasceu em 2014 e de forma voluntária e sem fins lucrativos, fomenta a democratização do acesso à cultura nerd. Seu acervo conta com mais de 7 mil quadrinhos e livros, além de jogos de tabuleiro e de cartas, exibição de filmes e séries, campeonatos e oficinas de criação, rodas de conversa e fóruns de discussão entre jovens.
Mina de HQ
A Mina de HQ é uma mídia independente, feminista e com perspectiva de gênero que reúne jornalismo, pesquisa, curadoria e divulgação de histórias em quadrinhos feitas por mulheres e pessoas não-binárias. Acesse o site: https://minadehq.com.br/
Matilha RPG
O projeto utiliza o mundo do RPG para o aprendizado por meio de jogos com narração interativa, os jovens assumem papéis de personagens de diferentes profissões, classes sociais, crenças e etc, vivenciando a experiência de contribuir coletivamente para a melhora de do seu “povo”.
Kuya
O Centro de Design do Ceará, situado no Complexo Cultural Estação das Artes, é um espaço de investigação, pensamento e produção de design. Localizado no Centro da Capital cearense, o centro integra a Rede Pública de Equipamentos Culturais da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult Ceará), com gestão em parceria com o Instituto Mirante. Valorizando, incentivando e fomentando a cultura do design cearense.

Ações e projetos como os apresentados acima fortalecem os saberes comunitários, artísticos, culturais e a soberania popular. O desenvolvimento da gestão da comunicação do conhecimento periférico em eventos como esse, incluem a inserção da diversidade, por meio do diálogo e a compreensão sobre as questões sociais:
Muita gente acha que HQ é só narrativa de super-herói ou gibis da Turma da Mônica, o gênero é barato e acessível, pode levar informação e conhecimento a uma grande parcela da população
Gabriela Borges, do Mina de HQ
Uma vez conscientes de que estão incluídos em uma sociedade e que dela podem exigir direitos, projetos sociais ganham um papel revolucionário de transformação. Isso porque o desenvolvimento da consciência crítica dos indivíduos, passa a buscar o protagonismo da sua própria história. Essas ações atuam abrindo portas para caminhos antes fechados e hoje já vistos como uma possibilidade de mudança real.
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