Projeto de Porto Alegre auxilia moradores em situação de rua
| Imagem de destaque: João Henrique Mattos
“A casa é asilo inviolável do indivíduo […]”, é o que diz o inciso XI do quinto artigo da Constituição Federal de 88. Contudo, qual é o asilo inviolável daquele que não possui uma casa para morar? Essa questão sensibilizou um grupo de 8 amigos que iniciou suas ações a partir da doação de pedaços de pizza que sobraram de um encontro a moradores em situação de rua. No dia seguinte, Chico Souza e Lia Trajano, os idealizadores do projeto, perceberam que gostariam de utilizar o tempo gasto nesses encontros em uma ação social. Assim nasceu o Tendel Solidário, iniciativa que atualmente está na sua décima edição, levando, uma vez por semana, marmitas, roupas, calçados e cobertores para pessoas que moram nas ruas do centro de Porto Alegre.
“Depois de conversar com eles, a minha visão de mundo se transformou completamente. Além de me fazer bem ajudar, é muito bom ver as pessoas se engajando cada vez mais no projeto”, afirma Lia.
Atualmente, o Tendel Solidário conta com a ajuda de 45 pessoas, que dedicam uma noite por semana para preparar comida, separar as doações e passar a madrugada fazendo a distribuição em um percurso que começa na Av. Assis Brasil e termina na Av. Borges de Medeiros, na capital gaúcha. A Agência Jovem de Notícias acompanhou o grupo durante a entrega feita na última terça-feira (12/07).
Paulo, que recebeu uma calça jeans, dois cobertores e uma sopa, para ajudar a suportar a noite de 9°C, não se considera um morador em situação de rua. “Sou morador do número 1211 da Av. Benjamin Constant, mas gosto de ter visitas que nem vocês” diz ele puxando para mais perto de si a caixa de papelão que o cercava.
O último levantamento do número de moradores em situação rua de Porto Alegre, feito em 2011 pela Fundação de Assistência Social e Cidadania em convênio com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), identificou 1.347 pessoas vivendo nessas condições – de um total de 1,409 milhões (2010) de habitantes. Em 2015, o projeto da UFRGS “Universidade na Rua” estimou que esse número estivesse entre 3 mil e 5 mil pessoas. Esse atraso no desenvolvimento de um levantamento mais atual mostra a dificuldade de identificar e quantificar pessoas que não têm onde morar na capital do Rio Grande do Sul.
Em Porto Alegre, há também projetos como o Banho Solidário, que leva uma vez por semana uma casa de banho para locais com maior concentração de pessoas vivendo em situação de rua. Os idealizadores do projeto decidiram fazê-lo por meio de crowdfunding e conseguiram adaptar um reboque, desenvolvendo uma estrutura com dois chuveiros, um feminino e outro masculino.
As singularidades de cada território e suas potencialidades, a elaboração, o desenvolvimento e o monitoramento das políticas públicas voltadas para todas essas pessoas, na prática, são quase nulas na capital gaúcha. Os espaços e serviços públicos nem sempre podem ser utilizados plenamente, pois ações de “higienização” frequentemente fazem com que essas pessoas sejam desterritorializados, enquanto a população não supera o preconceito. Mesmo assim, iniciativas como essas, oriundas da sociedade civil, atenuam as dificuldades de quem vive nessa situação tão precária e oferecem, além de comida, banho e roupas limpas, uma aula de empatia e alteridade.