Primeira capacitação em negociações de gênero no Engajamundo São Paulo

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Por Kelly Agopyan

Na última quinta-feira, dia 13 de fevereiro, aconteceu a primeira formação para jovens em negociações de gênero do Engajamundo. A capacitação ocorreu em auditório da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, com a participação de aproximadamente 40 jovens de diversas formações e idades. A capacitação também foi transmitida ao vivo no youtube para aqueles que não puderam comparecer ao evento.

O grande objetivo dessa capacitação era instruir jovens interessados em participar de negociações internacionais de gênero. Assim, após a capacitação, esses jovens teriam mais informação para conseguir se posicionar e influenciar efetivamente os processos de tomada de decisão, representando a voz da juventude e da sociedade civil brasileira. O tema de negociações de gênero também se deu pela proximidade da 58ª Comissão sobre o Status da Mulher (CSW) que acontecerá agora em março, na sede das Nações Unidas em Nova York.

A capacitação abordou diferentes aspectos fundamentais para se fomentar uma boa participação em conferências de gênero. Primeiramente, foram dadas informações sobre as Nações Unidas e seu funcionamento, além da abordagem histórica da questão do gênero na própria organização. O Engajamundo quis saber o que os jovens presentes pensavam a respeito da importância da ONU. Alguns disseram que apesar das deficiências, a organização é um importante fórum de diálogo entre os países; outros disseram que a atuação concreta das Nações Unidas só consegue se consolidar através do Conselho de Segurança. O Engajamundo, por meio de sua Coordenadora Geral, Raquel Rosenberg, enfatizou que apesar de toda a lentidão do sistema ONU, esse é ainda o único caminho existente, e assim, mais eficaz, para tratar assuntos de cunho internacional.

Em seguida, foi introduzida a CSW, sua criação e suas funções junto ao ECOSOC. Destacou-se que os seus 45 membros são divididos proporcionalmente à geografia mundial. Além disso, foi feito um panorama da questão da mulher no mundo com a divulgação de estatísticas da disparidade de gênero em diversos setores como política, trabalho, saúde, entre outros. De forma mais específica, foi enfatizada a situação da mulher no Brasil, com destaque a melhoria dos indicadores na educação, mas ainda com dados alarmantes em questões como mercado de trabalho e violência doméstica. Por fim, o Engajamundo mostrou como a sociedade civil pode participar de conferências da ONU, encorajando tanto a participação direta (através de “statements” em conjunto) quanto a indireta (side-events, redes sociais). Ainda em relação a isso, a capacitação apresentou as importantes ferramentas de Advocacy, Lobby e Campaigning, frequentemente usadas por organizações não-governamentais nesses tipos de conferência.

O ponto alto do evento foi garantido pelo debate e a intensa participação dos jovens presentes sobre diversas questões relacionadas ao gênero. Essas contribuições foram essenciais na formação do posicionamento da juventude brasileira que será levado à CSW, em março, por integrantes do Engajamundo.

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Em relação aos preconceitos e violência cometida contra a mulher, alguns jovens presentes na capacitação destacaram o debate multicultural sobre o direito das mulheres em países muçulmanos, bem como a questão do estupro de manifestantes mulheres na Primavera Árabe do Egito. No cenário brasileiro foi questionada a aplicabilidade da Lei Maria da Penha. Alguns jovens também levantaram a questão de mulheres serem machistas ou reproduzirem o machismo estabelecido como padrão na sociedade brasileira e que, consequentemente, esse padrão deveria ser modificado. O tema segurança também foi lembrado pelos jovens ao afirmarem que é difícil e perigoso questionar o padrão machista justamente pela inexistência da garantia de segurança daqueles que o fazem. Como exemplo, as jovens destacaram o medo de retrucarem à cantadas ofensivas nas ruas.

A mulher e o trabalho também foi um tema abordado pelos jovens, que criticaram o senso comum de que mulheres competentes em cargos altos devem ter características “masculinas”. Outro importante assunto normalmente pouco abordado quando se fala em gênero mas igualmente lembrado na capacitação foi a questão às travestis e o seus direitos civis, que muitas vezes não são garantidos ou respeitados. Por fim, também tivemos a contribuição de uma jovem que passou um mês em Bangladesh e pôde trazer diferentes panoramas da situação da mulher nesse país asiático: a questão dos altos índices de estupro conjugal, a ausência da presença de mulheres em aeroportos e aviões, o empoderamento da mulher visto sob os padrões orientais, etc.

Enfim, a primeira capacitação de jovens para negociações em gênero foi realmente bem-sucedida. O alto nível de participação do público presente motivou ainda mais o Engajamundo a continuar seu trabalho de informar, capacitar e engajar jovens brasileiros em negociações internacionais. Contamos com vocês para levar a voz da juventude brasileira na 58ª Comissão sobre o Status da Mulher!

 

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