A PrEP, uma forma prevenir o HIV, virá para o Brasil
A profilaxia pré-exposição, ou PrEP, é o uso de medicações antirretrovirais, geralmente usadas para tratar a infecção pelo HIV, para prevenir a infecção pelo HIV em pessoas não infectadas. O uso da PrEP para prevenir a infecção pelo HIV é um conceito importante no âmbito da prevenção combinada, sendo atualmente avaliada em diferentes populações em situação de risco acrescido para a infecção pelo HIV. Essa tecnologia de prevenção protege somente da infecção pelo HIV, ou seja, ela não protege o indivíduo de adquirir outras IST e/ou hepatites virais.
A PrEP, diferente de outras tecnologias de prevenção para o HIV, ainda não está disponível no Brasil pelo Sistema Único de Saúde – SUS, contudo a proposta é incorporá-la o quanto antes, de maneira a garantir uma nova estratégia de prevenção aos segmentos populacionais que possuem risco acrescido de contrair HIV, as chamadas populações-chave para a epidemia de HIV/aids (gays e outros homens que fazem sexo com outros homens, e casais sorodiferentes para o HIV, pessoas trans, profissionais do sexo, pessoas que usam drogas e pessoas privadas de liberdade). Nesse contexto, a proposta será oferecê-la como uma alternativa adicional de prevenção para pessoas que tenham práticas de maior risco de infecção pelo HIV, como parte da abordagem de prevenção combinada.
Existem importantes etapas que precedem o acesso à PrEP como, por exemplo, a avaliação de elegibilidade, que seriam os critérios que uma pessoa precisaria cumprir para iniciar o uso da PrEP: apresentar teste negativo para HIV, ter conhecimento sobre seu status sorológico e vacinal para Hepatite B e ter suas funções renais normais seriam alguns desses critérios. Outro aspecto importante em relação à PrEP é que ela se efetiva somente a partir do sétimo dia de uso contínuo da medicação, para as exposições por relação anal. Quanto às exposições vaginais, este efeito é observado a partir de 21 dias de uso. Assim, percebemos que existem requisitos que precisam ser cumpridos para que uma pessoa esteja de fato protegida através da PrEP e para que o esquema de medicamentos, composto de duas drogas antirretrovirais (tenofovir TDF + Entricitabina FTC) em um único comprimido, passe a fazer efeito no organismo.
Desde 2014, a profilaxia pré-exposição é recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para pessoas em risco considerável de se infectarem com HIV e sua eficácia foi comprovada por vários estudos clínicos. Um deles, o estudo internacional iPrEx (Iniciativa de Profilaxia Pré-exposição), do qual o Brasil também participou. Esse estudo concluiu que o uso diário de antirretroviral por homens saudáveis que fazem sexo com outros homens, conseguiu prevenir novas infecções pelo HIV, com eficácia que variou de 43% a 92%, dependendo da adesão ao medicamento. No Brasil, um dos estudos mais conhecidos é o PrEP Brasil. Esse estudo avalia a aceitação, a viabilidade e a melhor forma de oferecer a PrEP à população brasileira como prevenção ao HIV.
Diversos artigos apresentam informações sobre a eficácia da PrEP, grande parte varia entre 90% e 99% nos relatórios finais, em relação a proteção que essa estratégia oferece. Contudo, isso não significa que 90% da população teve sucesso em se prevenir contra o HIV com a PrEP enquanto 10% foi infectada, apesar de tomar a medicação. Isso significa que entre os que participaram do estudo, 90% se mantiveram sem o vírus e 10% (ou menos, dependendo da fonte) adquiriu o HIV – provavelmente por não terem tomado a medicação todos os dias, conforme foi recomendado. É muito importante ressaltar que todos aqueles que tomaram a medicação diariamente, conforme a orientação no ato da prescrição, mantiveram-se negativos para o HIV.
Cabe reforçar que a adesão é fundamental para que a PrEP seja efetiva. E isso precisa ficar claro para a pessoa que esteja em PrEP. A adesão caminha com a efetividade e o uso do medicamento deverá fazer parte da rotina. Essas questões reforçam a necessidade de que haja uma correta orientação sobre o uso da medicação durante todo o período em que o indivíduo fizer uso da profilaxia.
Portanto, a PrEP não é apenas entregar os comprimidos nas mãos das pessoas, dizer para tomar todo dia e fim. Quem faz PrEP também necessita receber orientação médica constante, realizar exames de sangue pelo menos de três em três meses, ter consultas para avaliar sua adesão ao tratamento profilático e receber informação sobre uso de preservativo e prevenção das IST. É necessário que haja uma rotina semelhante à das pessoas em tratamento antirretroviral para o HIV, que tomam medicação para combater o vírus, visto que o acompanhamento e monitoramento fazem parte da rotina das pessoas que passam a fazer uso da PrEP.
Essa educação e adequação facilita muito a ampliação dos conhecimentos sobre as estratégias de prevenção combinada e reforça o conhecimento da população, sobretudo aquelas com risco acrescido para HIV, sobre novas tecnologias de prevenção para além da camisinha.