(Brasília – DF, 16/09/2020) Durante a posse do ministro da saude o presidente Jair Bolsonaro mostra uma caixa do remedio Hidrocloroquina.Foto: Carolina Antunes/PR

Postura de um líder ou de uma criança?

Em uma enquete lançada pelo U-Report sobre vacinas, 35% das pessoas disseram não confiar em vacinas por não saberem muita coisa e por fake news. E eu ainda acredito que precisamos de um governo que tome decisões racionais no lugar do ódio e da desinformação.

Por Victor Augusto Capellari

Existe um motivo simples para eu ser contra o anarquismo: eu não acredito que a humanidade tem maturidade para se autogerir sem um sistema de lei e uma autoridade que possa “puni-la”. E isso nem é muito nossa culpa – nosso cérebro funciona assim, ele ainda está adaptado para a vida de caçador coletor.

Então, a função do Estado é zelar pela ordem, mas infelizmente não é isso que percebemos num momento de crise. O que se evidencia é um despreparo que pode até mesmo beirar o descaso pela vida da população.

Em nível municipal, podemos citar o triste caso de Duque de Caxias (RJ), onde a prefeitura anunciou que vacinaria todos os cidadãos com mais de 60 anos, entretanto a população que se encaixa no requisito é de aproximadamente 100 mil, enquanto só existiam 6.100 doses. E ainda por cima não conferiam os comprovantes de residência das pessoas, criando ainda mais concorrência pelas doses, com pessoas se expondo ao Covid-19 se aglomerando nas filas intermináveis.

Já existe quem atribua essa falha à candidatura do prefeito Washington Reis ao Senado; seria uma tentativa de “mostrar serviço” e agradar possíveis eleitores.

Esse populismo pode parecer bom, afinal, ele queria agradar, mas é em momentos assim que percebemos que agradar a população para conseguir a reeleição ou outro cargo, é algo completamente diferente de fazer o melhor para as pessoas.

O que deveria ser uma questão humanitária se transformou numa questão política, num palco para expor ideologias e gritar para seu público eleitoral. E aqui já não falo mais só em nível municipal.

Começamos falando em gripezinha e dizendo que esse era um truque chinês para destruir nossa economia, e que não deveríamos nos preocupar. Depois vieram as acusações de que havia mentiras na contagem de mortes e que o Covid nem era “isso tudo”, e só quando já não havia escapatória e que nos perguntamos o que poderia ter sido feito.

A pesquisa realizada pelo Iure, chatbot do U-Report Brasil, demonstra uma das facetas dessa postura. Das pessoas que responderam às perguntas do robô dizendo que não irão se vacinar, 35% não acha a vacina segura, 29% não sabe o suficiente sobre a vacina e 10% ouviu boatos sobre a vacina.

A pesquisa aponta as redes sociais pela difusão desses boatos – pelo menos metade das fake news sobre a vacina circulam nesses canais – mas não podemos isentar de culpa a postura de nossos líderes que alimentam esses boatos.

Proponho uma simples atividade que vai esclarecer muita coisa: pegue qualquer remédio que tiver na sua casa e leia a bula. Lá vai estar escrito que a empresa não se responsabiliza por efeitos colaterais, mas duvido que qualquer uma delas fale em humanos se transformando em jacarés.

Esse tipo de comentário, ou os que defendem remédios que na verdade não servem e que até já foram esquecidos por conta disso, só serve para deixar a população com medo e dúvida. A postura de um líder durante a crise precisa ser de tranquilizar e apontar uma saída.

Infelizmente nosso presidente parece estar mais preocupado em mitar no seu discurso do que em oferecer soluções, e no final a população é que paga a conta – uma conta que está cada vez mais cara, que diga o preço do botijão de gás.

Durante a posse do ministro da saúde o presidente Jair Bolsonaro mostra uma caixa do remédio Hidrocloroquina .Foto: Carolina Antunes/PR – Fotos Públicas

Esse discurso ideológico pode até agradar a parcela que anda atrás do presidente rindo de qualquer besteira, mas não traz nenhum resultado. Resumindo, eu ainda acredito que precisamos de um governo, mas esse governo precisa tomar decisões racionais para o melhor de sua população e incentivar a indústria e a ciência, no lugar do ódio e da desinformação.

A enquete do U-Report Brasil sobre vacinas foi divulgada no último dia 3 de março e recebeu 1392 respostas, vindas de todas as regiões do país. Do total de participantes, 64% se declaram mulheres e cerca de 88% têm entre 15 e 24 anos. Se você quiser conhecer todos os resultados da pesquisa, acesse a página de resultados no site do projeto ou clique aqui e leia o material de divulgação do infocenter sobre vacinas.

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