Por que é importante que jovens negras tirem o título de eleitor e participem (urgentemente) das eleições em 2022?
Por Victoria Souza, colunista e colaboradora da Agência Jovem de Notícias.
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Meninas negras, um minuto da sua atenção!
Hoje trago duas perguntas para vocês refletirem:
Primeira: Já tiraram o título?
Segunda: Vocês sabiam que no Brasil as mulheres negras ocupam pouquíssimos cargos políticos?
Agora trago algumas estatísticas para refletirmos e para conectarmos estes dados com as duas perguntas que coloquei acima:
- A pesquisa do Movimento Mulheres Negras do ano de 2020 aponta que as mulheres negras representavam quase 28% da população brasileira, mas ocupavam menos de 5% dos cargos políticos disponíveis.
- De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, as mulheres negras são as maiores vítimas de violência no Brasil. Só no ano de 2019, 3.737 mulheres foram assassinadas no país.
- De acordo com o IBGE, as mulheres pretas e pardas continuam na base da pirâmide e em 2018 receberam menos da metade dos salários de um homem branco (44,4%).
Quer saber o que você, jovem negra, tem a ver com isso?

Essas estatísticas apresentadas reforçam que as políticas públicas destinadas para o nosso grupo social (mulheres negras) continuam sendo feitas por pessoas não pessoas negras ou pior, talvez nem sejam feitas.
Vamos refletir mais a fundo sobre isso a partir de algumas perguntas:
Quantas mulheres negras você vê na sua empresa ocupando cargos de liderança?
Quantas prefeitas negras você conhece?
Quantas meninas negras você escuta falar sobre a vontade de ser deputada, senadora ou até mesmo presidente do Brasil?
Precisamos entender que tudo isso tem muito a ver com a política institucional. Os problemas que ocorrem na política descentralizam todas as desigualdades sociais que vemos atualmente. É isso mesmo! Desde o pãozinho que está mais caro, até as pessoas vivendo nas ruas por conta da dificuldade de pagar aluguel e comprar uma casa são questões com o cerne central na política.
A única forma de resolvermos esse problema é nas urnas. Nas urnas, conseguimos dizer o quanto estamos insatisfeitas por não nos sentirmos representadas. Nas urnas, conseguimos dizer que a política antiga não funciona mais. Nas urnas, conseguimos reinventar nossa história – que tem sido bem triste nos últimos anos em um misto de COVID, desgoverno e inúmeros retrocessos sociais.
Por isso, se você é uma pessoa que costuma odiar a política institucional, repense esse sentimento! Dependemos dela, precisamos dela e é urgente fazê-la acontecer da forma certa, para não passarmos mais quatro anos naquele misto de sentimentos que citei acima.
É importante estarmos atentes ao tipo de política que estão fazendo lá no congresso, no senado, no planalto e ao tipo de política que queremos que façam a partir de agora. Por isso, é importante tirar o título de eleitor e eleger representantes corretos, que impactem positivamente a sociedade.
Vejo, no dia a dia, uma combinação de desânimo com desespero entre nós; pessoas dizendo que não vale a pena sair de casa para votar. Já ouvi desde “Vou votar nulo porque ninguém presta”, até o “Prefiro pagar a multa do que sair de casa para isso” ou então “Não vou tirar meu título agora porque o país não tem jeito”.
Historicamente, conseguimos entender o porquê desse desânimo todo. A juventude não acredita mais na velha política. Muitos têm medo de serem cancelados por terem opiniões diferentes das demais pessoas e acabam postergando essa ação para apenas quando realmente completarem a maioridade.
Mas a pior decisão que podemos tomar no momento atual é não votar. Quando não nos posicionamos, alguém se posiciona por nós. E isso é perigosíssimo. Perigoso porque as pessoas que precisam fazer as mudanças que precisamos e a criação de políticas públicas pelas quais ansiamos não estarão lá. E por que não estarão lá? Porque a gente não votou, simples como água.
E se a gente não votar, após a eleição, teremos mais 4 anos dos mesmos sentimentos, da mesma inércia e das mesmas reclamações, que perdem cada vez mais o sentido.
Recentemente vimos um movimento em massa para incentivar que jovens tirem o título de eleitor. O resultado dessa mobilização já aparece: durante os dias 14 e 18 de março, cerca de 100 mil jovens tiraram o título. Isso é essencial, mas, não pode ser somente tirar o título de eleitor. É importante ter o cuidado de conhecer o representante que você vai escolher. Pensar, por exemplo, na questão da diversidade e da igualdade racial que citei no início do texto. Quanto mais pessoas diversas ocupando todos os espaços, mais inovação na política, mais espaços e propostas plurais a gente vai ter. E isso é urgente.
Outro ponto urgente que precisamos desconstruir é que a nossa missão acaba depois do voto. É após o voto que nossa missão começa, na verdade. É após o voto que precisamos acompanhar os projetos necessários para a melhoria da vida dos nossos municípios, estados e país, cobrar pelas promessas realizadas ao longo das campanhas e entender se a pessoa que elegemos está de fato fazendo algo para resolver os problemas sociais que temos.
O sistema tem sido alimentado há anos pelas mesmas questões relacionadas à política, como por exemplo, a crença de que “não vale a pena” cobrar as pessoas eleitas após as eleições ou que as pessoas não se lembram de quem elas votaram nas últimas eleições. E isso, além de ser uma crença limitante que constrói a cultura de que após as eleições, já fizemos nossa parte e não precisamos nos preocupar com mais nada, também faz com que nós, como cidadãos, não tenhamos uma postura proativa para construir em conjunto as soluções que queremos para nossas cidades.
Exercer nosso direito constitucional ao voto e escolher nossos futuros representantes parece ser apenas um ato simbólico, mas significa muito mais. Significa trazer mais representatividade e visibilidade para pautas urgentes e que nos atingem diretamente.
Por isso que precisamos agir agora e com inteligência.
Te convido a refletir sobre as estatísticas que eu trouxe no início do texto, e também sobre porquê é necessário que você, jovem negra, participe das eleições de 2022. É importante para você, é importante para as nossas iguais.
O prazo para tirar seu título é até 04 de maio. Veja como é simples:
Votar é essencial para quem quer ter mais oportunidades de emprego, educação e saúde, e para ver e participar da construção de políticas públicas desenhadas com foco na diversidade e na igualdade.
Tire seu título de eleitora! É urgente!
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Quer saber mais? Confira essas referências:
Negras são 28% dos brasileiros, mas tem baixa participação política | Agência Brasil
Famosos ajudaram a incentivar jovens a tirar título de eleitor, diz analista do TSE | CNN Brasil
Cor, gênero e classe: os desafios da mulher preta | Direitos Humanos
Mulheres negras recebem menos da metade do salário dos homens brancos no Brasil
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Sobre o texto:
Este artigo foi produzido no âmbito do projeto ‘Mude com Elas – Multiatores superando a desigualdade de gênero e raça’ e publicado originalmente no site da Agência Jovem de Notícias. O ‘Mude com Elas’ é uma iniciativa implementada em parceria pela Ação Educativa, AHK São Paulo – Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha em São Paulo e do escritório da Terres des Hommes Alemanha em São Paulo, com apoio da Viração Educomunicação por meio da Agência Jovem de Notícias.
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