Pokémon Go: capturando oportunidades, relevando desigualdades
Pokémon Go. Quem não conhece? Se você ainda não jogou, provavelmente sabe de alguém que não perde esse jogo por nada. Os Pokémons estão por todos os lados, integrando a rotina de muita gente. Mal vieram ao mundo e conquistaram o posto de fenômeno mundial. O jogo foi lançado no dia 7 de julho desse ano, nos Estados Unidos, e chegou ao Brasil a menos de um mês, em 3 de agosto. A empresa responsável pela criação da ideia é o estúdio de games norte-americano Niantic, em parceria com a Pokémon Company.
O sucesso do jogo é a inovação de ser capaz de tirar o usuário do sofá e fazê-lo caçar os Pokemons, de fato, nas ruas. Isso mesmo. O Pokémon Go é um jogo de realidade aumentada, disponível para smartphones, que através do GPS do celular, mostra os monstrinhos de acordo com a localização do jogador. Na tela, o usuário vê o cenário real, como na câmera do celular, só que habitado por um Pikachu (o mais famoso dos pokemons), por exemplo.
O público pode também participar de lutas entre eles, capturar Pokebolas (usadas para pegar os monstrinhos e treiná-los) e ovos de Pokémon. Isso tudo se consegue fazer em Pokestop (pontos de referência). E tem mais um detalhe interessante: os ovos capturados só irão eclodir se a pessoa caminhar muito. Tem gente que está andando quilômetros e quilômetros para fazer os bichinhos nascerem. Ou seja, já deu para perceber que o jogo tem muitas possibilidades para envolver o jogador. Não é a toa que o aplicativo está entre os mais baixados, em poucos dias de lançamento.
Frente a essa popularidade do jogo é interessante refletir sobre as ações que o aplicativo está provocando nos espaços públicos e de como a sociedade está se apropriando dessas tecnologias, sempre a partir de um olhar que contemple todas as faces do fenômeno.
De um lado, tem gente aproveitando a febre do jogo para criar oportunidades de negócios. Em São Paulo, por exemplo, motoristas e motoboys estão oferecendo um serviço exclusivo para transportar os jogadores de Pokémon Go para as Pokestop. E clientes não estão faltando. A temática dos monstrinhos também está fazendo sucesso em festas infantis. Na educação, o game está sendo explorado pelos professores para trabalhar conteúdos de biologia, química, matemática… Além disso, há casos, inclusive, em que os espaços públicos como praças e ruas estão recebendo melhorias de infraestrutura dado à circulação mais intensa de público. Ou seja, casos de como o jogo está transformando os diferentes âmbitos sociais não faltam.
Contudo, por outro lado, temos os riscos. Já existem relatos de casos de acidentes ocorridos enquanto as vítimas estavam concentradas no Pokémon Go. Outro aspecto interessante de se pensar é que o jogo traduz a cultura de desigualdade tão presente em nossa sociedade. Você já parou para pensar, por exemplo, quais são os locais dentro da sua cidade que tem mais pokémons para capturar? Observa-se que os bairros mais periféricos são os menos contemplados pelo jogo.
Nesse sentido, a receptiva disseminação de games como o Pokémon Go ilustra um cenário do potencial de transformação cada vez maior da tecnologia em nossos cotidianos. Quanto mais inovação e capacidade de envolver o usuário maior será o sucesso de determinada ferramenta. E a partir do momento que ela entra na rotina da população não vira só meme na internet, mas passa a ser apropriada pelos diferentes segmentos sociais. E é devido a essa penetração intensa na vida das pessoas que devemos observar esses fenômenos de forma crítica para que esse uso, essa apropriação, que inevitavelmente ocorre, aconteça de forma segura, criativa, e que sirva também para refletirmos sobre os valores que desenham a nossa cultura.
Assim, pode jogar Pokémon Go à vontade, mas não esqueça que além de nos estimular à caçar os monstrinhos, o game pode nos ajudar também a pensar sobre o mundo em que estamos inseridos.