Pinheiros: de um rio fedidinho a um espaço de lazer?
Conheça a história do Rio Pinheiros: a urbanização desordenada, seu processo de canalização e o projeto Novo Rio Pinheiros.
Por Amanda Costa
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Olá minha abobrinha recheada, tudo bem? 🙂
A real é que eu gosto de profundidade.
Em 2022 fui convidada para ser Jovem Conselheira do Pacto da ONU no Brasil e passei a integrar o Movimento + Água. Desde então, decidi mergulhar nesse assunto, estudar a relação das águas com a crise climática e desenvolver experiências na temática: escrevi artigos, gravei podcast. participei de Paineis e palestrei em eventos.
Meu próximo compromisso será com a galera do SESC Santo Amaro, na live do Rios Descobertos, com a jornalista ambiental Paulina Chamorro e com a bióloga especialista em rios Marta Marcondes.
Para entregar um conteúdo de qualidade, conversei com meu mentor de água Rubens Filho, gerente de água e oceano no Pacto Global da ONU, e quero compartilhar alguns aprendizados que tive durante meu processo de estudo 🙂
Vemk BB: você conhece a história do Rio Pinheiros?
O Rio Pinheiros tem sua origem na Serra do Mar, na cidade de Paranapiacaba, no município de Santo André. Ele nasce do encontro do Rio Guarapiranga com o Rio Grande e desagua no Rio Tietê.
Lá atráaaas, nos tempos coloniais, o Rio Pinheiros foi chamado de Jurubatuba, que em tupi significa “lugar com muitas palmeiras jerivás”. Ele foi chamado assim por conta da grande quantidade de araucárias (ou pinheiro-do-Brasil) que cobriam a região. No ano de 1560, o Rio Pinheiros recebeu seu nome atual pelos jesuítas, quando eles criaram um aldeamento indígena que tinha o mesmo nome.
Antes o rio era todo curvilíneo, como mostra a figura abaixo:
Com a chegada de imigrantes no século XX, principalmente italianos e japoneses que se instalaram às margens do rio, a paisagem começou a mudar. Com o objetivo de evitar inundações provocadas pelas várzeas em períodos de secas e utilizar a força das águas para gerar energia, em 1940 começam as obras de canalização e retificação do Pinheiros.
Foi nesse momento que São Paulo teve um boom populacional! De acordo com o IBGE, a cidade tinha cerca de 230 mil habitantes em 1900 e cem anos mais tarde, abrigaria cerca de 10 milhões de pessoas. Esse rápido crescimento gerou diversos desafios, como ocupações irregulares, desmatamento das matas ciliares e despejo de esgoto e resíduos industriais diretamente no rio.
“As cheias são um fenômeno do Rio, as inundações um fenômeno social.”
(Exposição Rios Descobertos, Sesc Santo Amaro)
O rio rapidamente se transformou em parte da engenharia da cidade, tendo sua calha aprofundada e seu curso mudado, com suas águas sendo bombeadas rio acima para a recém construída Represa Billings, com o intuito de evitar inundações nas épocas de chuvas.
Um rio fedidinho
A canalização do Rio Pinheiros gerou um grande problema: a eutrofização das águas.
“A eutrofização é o processo de poluição de corpos d’água, como rios e lagos, que adquirem uma coloração turva e ficam com níveis baixíssimos de oxigênio dissolvidos na água. Isso provoca a morte de animais e vegetais, tendo um altíssimo impacto para os ecossistemas aquáticos.”
Com as condições químicas das águas alteradas, ela se tornou imprópria para consumo e passou a prejudicar a biodiversidade local, levando diversas espécies à morte. O cenário ficou tão crítico que no final da década de 80, o governo decidiu interromper o bombeamento para a Represa Billings.
Foi nesse contexto que a Lei Estadual 898/75 de Proteção dos Mananciais foi criada, em 1975. Essa lei surgiu com a necessidade de proteger as áreas de nascentes da Região Metropolitana de São Paulo, criando mecanismos de controle da expansão urbana em áreas importantes para a preservação dos rios e reservatórios que abastecem a cidade, promovendo uma fiscalização rígida, incentivando a modernização dos processos industriais e a migração das indústrias para outras regiões.
No entanto, a falta de planejamento e a intensa demanda por moradia intensificou a ocupação irregular dessas áreas, aumentando ainda mais a contaminação dos mananciais com esgotos e poluição difusa.
Projeto Novo Rio Pinheiros
Criado em 2019, o Projeto Novo Rio Pinheiros foi desenvolvido com o objetivo de melhorar a qualidade das águas e criar um ambiente de descontração, desfrute e lazer em volta do rio, revitalizando esse importante símbolo da cidade de São Paulo por meio da ação de diversos órgãos públicos em parceria com a sociedade.
Para tirar o plano do papel, o Governo do Estado de SP utilizou uma estratégia fundamentada em cinco pilares: ações de saneamento básico, limpeza e manutenção, desassoreamento, revitalização e educação ambiental, contando com um orçamento de cerca de 3 milhões e meio de reais.
Essa iniciativa contou com a coordenação da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente e apoio da CETESB, DAEE. EMAE, SABESP e CPTM e já conseguiu melhorar a oxigenação e a redução de matérias orgânicas em 85% das águas, além de
- Retirar 687.456 m3 de sedimentos das águas,
- Remover 62.753 toneladas de lixo do Rio Pinheiros e
- Conectar 593,8 mil imóveis à rede de Esgoto da SABESP.
De acordo com dados da Secretaria de Meio Ambiente, dos 13 pontos de monitoramento do rio, 11 já apresentam o famosíssimo DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio – corresponde à quantidade de oxigênio consumida por microrganismos presente em certa amostra) abaixo de 30mg/l, quantidade mínima para que a água não tenha odor, melhore a turbidez (redução da sua transparência devido à presença de materiais incomuns) e permita a presença de vida aquática.
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Apesar de ter melhorado a coleta de esgoto, a despoluição, o desassoreamento do leito (processo de limpeza que remove resíduos e sedimentos acumulados no fundo dos rios) e construído Unidades de Renovação da Água (estações que fazem o tratamento dos afluentes diretamente nos córregos da região) estão dizendo por aí que houve trapaças na mensuração dos dados por parte do governo.
“A qualidade da água apresenta melhoras nas análises do governo estadual porque é lançado oxigênio no leito, o que ajuda a ‘mascarar’ a realidade. É como uma pessoa que sobrevive na UTI.” (Marta Marcondes, bióloga e coordenadora do projeto Volta Pinheiros)
A real é que a água do rio Pinheiros ainda conta com uma quantidade significativa de microrganismos causadores de doenças e produtos químicos despejados na água. Esses materiais podem causar problemas quando os moradores entram em contato com a água, principalmente em épocas de cheia, impactando a saúde de cerca de 3 milhões de pessoas!
Complexo, minha lindeza climática, esse rolê é bemmmm complexo!
Segundo as palavra do meu querido mentor Rubens Filho, o resumo da ópera é:
“O Novo rio Pinheiros foi e está sendo um projeto importante para São Paulo. Há críticas que podem e devem ser feitas, mas precisamos ter cuidado. Um dos grandes problemas que tínhamos no Rio Pinheiros (é o mesmo problema que temos até hoje no Tietê) era a presença de esgoto não tratado. Como esse esgoto não tratado chegava no Pinheiros? Simples. Bastasse não coletar e, posteriormente, não tratar os esgotos de casas e comunidades em São Paulo, que esses mesmos dejetos caíam em valas, córregos e riachos, e os mesmos tinham como destino final o Rio Pinheiros (…) O esgoto tratado hoje na cidade de São Paulo já subiu para mais de 70%, quando antigamente era de 60% ou até menos. O legal do projeto é que as comunidades socioeconomicamente vulneráveis estão recebendo a coleta de esgoto, ou seja, os dejetos estão sendo tirados da porta das pessoas. Precisa melhorar? Óbvio. É perfeito? Não. O Rio Pinheiro poderá ser usado para nadar durante o verão? Jamais! Nenhum rio urbano pode isso, nem o Tâmisa, em Londres. Mas é um rio que se encaminha para navegabilidade, vida aquática e uso para lazer.”
Por ser um rio urbano, a água jaaaamais será potável! Contudo, com o projeto de despoluição concluído, haverá melhora do odor, abrigo de vida aquática e principalmente, a volta da população às margens por meio da recuperação ambiental e paisagística do entorno.
Isso é bem melhor que aquele rio fedorento, né?
Agora quero deixar um recadinho para os servidores da Prefeitura de São Paulo, moradores da região, amigos ambientalistas, empresas privadas comprometidas com a pauta ESG e ativistas climáticos que desejam se engajar no tema:
Entramos em 2023 com a oportunidade de construir novas possibilidades para o presente e para o futuro. Bora aproveitar esse momento para
- Desenvolver hortas comunitárias e escolares;
- Promover a permacultura nas comunidades locais;
- Fortalecer coletivos culturais, de arte e ativismo socioambiental;
- Incentivar a agricultura familiar, o ecoturismo e mutirões de limpeza e
- Estimular a educação ambiental como proposta de garantir o desenvolvimento urbano sustentável, compatibilizando geração de renda e conservação dos recursos naturais?
A mobilização da sociedade civil, o engajamento das empresas privadas e o comprometimento dos órgãos públicos são fundamentais para construir uma nação realmente inclusiva, colaborativa e sustentável. E aí, posso contar com seu apoio?
Lucas Ciola
“Os rios são para a Terra o que o sangue é para a gente. Os rios são o sangue do planeta.”
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Saiba Mais:
Fontes Bibliográficas:
- Encontra Pinheiros – Rio Pinheiros
- Band Jornalismo – Saneamento básico muda o Rio Pinheiros
- Revista IstoÉ – ‘Obra não surtiu efeito esperado’, diz bióloga sobre despoluição do rio Pinheiros
- Governo de SP – Novo Rio Pinheiros: 85% das águas já têm mais oxigênio e menos poluição
- IstoÉ Dinheiro – Novo Rio Pinheiros: vida nova ao ícone de São Paulo