Pessoas trans podem ser cientistas?

Apesar de ainda ignoradas e estigmatizadas, pessoas, instituições e políticas públicas vem buscando romper as barreiras para pessoas trans em carreiras científicas.

Por Paula Serpa

A conscientização sobre a inclusão de pessoas transgênero em vários setores da sociedade aumentou significativamente nos últimos anos. No entanto, essas pessoas ainda enfrentam muitos obstáculos e pouco reconhecimento no campo científico, o que lhes dificulta participar e fazer contribuições significativas nessa área crucial.

A ciência valoriza a diversidade de pontos de vista, experiências e capacidades. Porém, ainda é muito comum que apenas pessoas que atendem à lógica heteronormativa e branca alcancem posições em carreiras científicas; a representação inadequada e falta de incentivo segue frequentemente ignorada.

Os estereótipos de gênero persistem, e isso limita a compreensão das pessoas sobre quem pode ser cientista; a falta de incentivo à educação acaba por impedir que pessoas trans avancem em carreiras científicas. A discriminação e o preconceito são outros obstáculos enfrentados pelas pessoas trans nas ciências. As pessoas trans enfrentam dificuldades em todas as etapas de suas carreiras, desde a educação científica básica até a conquista de cargos destacados em instituições acadêmicas e de pesquisa.

É fato que pessoas trans são mais propensas a serem excluídas, ridicularizadas ou até mesmo invisibilizadas em ambientes científicos, o que pode resultar em isolamento e falta de motivação. Além disso, uma das razões pelas quais as pessoas trans não são reconhecidas nas ciências é a questão da saúde mental que acomete com mais ênfase a comunidade.

O estigma e a violência que essas pessoas enfrentam aumenta o risco de problemas de saúde mental como ansiedade e depressão, que podem prejudicar o sucesso escolar e profissional. Essa situação é pior porque não há suporte suficiente, como políticas inclusivas e programas de mentoria que poderiam ajudar as pessoas transgênero a superar os obstáculos no ambiente científico. Mas há esperança e esforços em andamento para superar essas dificuldades.

Temos testemunhado membros da comunidade científica trans se destacarem e se tornarem modelos para jovens da comunidade LGBTQIAPN+ que têm interesse em áreas científicas, corporativas e acadêmicas. Grandes nomes, como a Professora Alê Primo, do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Fabico/UFRGS; a Dra. Joy Ladin, uma poeta e professora de inglês, uma das primeiras professoras transgênero em uma universidade ortodoxa judaica nos Estados Unidos; e Joanna Harper, pesquisadora da área médica e conselheira do Comitê Olímpico Internacional (COI), são fontes de motivação para os jovens da comunidade LGBTQIAPN+.

Outro nome é o de Lucy Souza, uma mulher trans não binária, bióloga e paleontóloga que trabalha no Museu da Amazônia. No vídeo abaixo, Lucy se destaca ao apresentar termos e fatos sobre a LGBTfobia no meio acadêmico, enquanto também se posiciona como um modelo inspirador para futuros cientistas trans. Sua presença e contribuições no campo científico são exemplos poderosos de superação de desafios e de como a diversidade de identidades de gênero pode enriquecer e fortalecer a ciência. Através de seu trabalho e ativismo, Lucy Souza não apenas traz visibilidade e conscientização sobre as questões enfrentadas pela comunidade trans, mas também demonstra que é possível alcançar sucesso e se destacar em uma área tradicionalmente dominada por normas rígidas de gênero.

Diversas organizações e instituições científicas estão se unindo para apoiar a inclusão e visibilidade das pessoas trans nas ciências. Elas estão trabalhando para melhorar os ambientes, para que todas as pessoas sejam respeitadas e valorizadas em suas potencialidades. Além disso, programas de mentoria e bolsas de estudo específicas para pessoas trans têm ajudado a dar a elas chances de se destacar em áreas de interesse.

No Brasil, existem importantes projetos que atuam para promover a inclusão de pessoas trans no meio científico. Um deles é o Educa Transforma, uma iniciativa que visa se colocar como uma ponte entre as pessoas transgênero e o mercado de trabalho de tecnologia e inovação, formando e capacitando essas pessoas para que passem a atuar na área.

Já o projeto Transcendemos é uma empresa de consultoria que tem como principal objetivo ajudar outras organizações a se tornarem mais inclusivas. Essas iniciativas desempenham um papel fundamental na quebra de barreiras e na promoção da igualdade de oportunidades para pessoas trans no meio científico, proporcionando suporte, visibilidade e recursos necessários para que possam se desenvolver e contribuir de forma plena e significativa para a ciência.

A inclusão de pessoas trans nas ciências é fundamental para garantir que todos tenham as mesmas oportunidades e para que a ciência seja mais diversa e inovadora. A diversidade de gênero e a inclusão de diferentes perspectivas leva a descobertas mais sólidas e a uma melhor compreensão dos problemas científicos.

Um esforço conjunto – de governos, sociedade civil, cientistas e instituições acadêmicas – é necessário para corrigir a falta de acesso e reconhecimento das pessoas trans nas ciências, garantindo possibilidades para que prosperem e contribuam plenamente para o avanço científico.

Uma das batalhas mais importantes que temos para construir uma sociedade mais justa, equitativa e cientificamente avançada é garantir que pessoas trans tenham as mesmas chances e sejam incluídas nas ciências, não só como objetos de estudo, mas como produtores de ciência. Somente quando todas as pessoas tiverem a chance de participar e serem reconhecidas, independentemente de seu gênero, poderemos aproveitar todo o potencial científico e inovador da humanidade.

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