Pecuária: um inimigo do meio ambiente e da saúde pública

Pedro Neves, da Redação | Imagem: Divulgação

O consumo de carne vermelha no mundo não para de aumentar, e isso vem preocupando especialistas da saúde e do meio ambiente.

Mas a culpa é do boi? Apesar do gás metano, de efeito estufa, que o animal emite, o principal culpado por danos ao meio ambiente é o próprio homem.

Em 2014 a ONU divulgou um relatório dizendo que, para uma mudança global, a dieta vegana seria vital para salvar o mundo da fome, da escassez de combustíveis e dos piores impactos das mudanças climáticas.

A preocupação se deve ao aumento da população mundial, estimada para 9,1 bilhões em 2050. Junto a esse aumento, o apetite por carne e laticínios ocidental é insustentável, como afirma o Relatório do Painel Internacional de Gerenciamento de Recursos Sustentáveis do Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP), que adverte que os impactos negativos da agricultura vão aumentar substancialmente devido ao crescimento da população e o consumo de produtos de origem animal.

Para muita gente, é difícil pensar em alguma alternativa à carne, presente nas mesas de quase todo o mundo. Mas uma redução substancial nos impactos ambientais e na saúde somente seria possível com uma mudança na alimentação, diminuindo ou eliminando carnes, ovos, leite etc.

Saúde

Uma pesquisa da revista científica da Archives of Internal Medicine, publicada em 2012 em versão digital, apontou que consumir além de três porções semanais de carne vermelhado pode levar a uma morte precoce. O estudo, desenvolvido por um grupo da Universidade de Harvard, acompanhou cerca de 120 mil pessoas por até 22 anos e concluiu que comer porções de carne vermelha todos os dias amplia em 19,5% o risco de morrer devido a um problema cardíaco e aumenta em 13% as chances de a pessoa ter câncer.

O principal escritório de pesquisa sobre câncer da Organização Mundial da Saúde (OMS) também divulgou resultados inéditos sobre o consumo humano de carne no fim de 2015. Segundo a Agência Internacional para a Pesquisa sobre Câncer (IARC), vinculada à OMS, o consumo de carnes processadas – como linguiça, bacon, presunto, salsichas e molhos à base de carne – provocam câncer colorretal, enquanto o consumo de carnes vermelhas – como carne de porco e cordeiro – é “provavelmente cancerígeno para humanos”.

“Tendo em vista o grande número de pessoas que consomem carne processada, o impacto global sobre a incidência de câncer é de importância para a saúde pública”, disse Kurt Straif, chefe do programa da IARC responsável pelas pesquisas.

A questão não é “vilanizar” a carne. O alimento é uma excelente fonte de proteína, responsável pela formação da estrutura muscular. “Controlando a quantidade e escolhendo o tipo mais saudável, além de não prejudicar a saúde, é possível se obter nutrientes essenciais ao organismo”, diz Carolina Mantelli Borges, médica pós-graduada em Endocrinologia e Metabologia pela Universidade de São Paulo (USP), responsável pela área de endocrinologia da Clínica de Especialidades Integrada (SP). “A carne faz parte de uma alimentação equilibrada, mas é possível viver sem ela”, completa.

Mas, como assim, viver sem carne?! É importante ressaltar que o alimento tem seus substitutos nutreicos e muita gente vive tranquilamente sem o churrasquinho do domingo.

Laura Kim é vegana e faz parte do grupo Veganismo.org. Ela leva esse estilo de vida por motivos mais profundos: “O veganismo se define em respeito e compaixão pelos animais. Segundo a definição da Vegan Society: ‘Veganismo é uma filosofia e estilo de vida que busca excluir, na medida do possível e praticável, todas as formas de exploração e crueldade contra animais na alimentação, vestuário e qualquer outra finalidade (…)’”.

“O poder da pecuária se deve à indústria da carne, que movimenta milhões de dólares em todo mundo. O primeiro passo obviamente seria parar de comer carne e derivados animais”, opina Laura. Ela acredita que bons tempos estão por vir, já que com o avanço das tecnologias novas ideias estão sendo propagadas: “Você consegue combater um velho hábito com um novo hábito, e é isso que está acontecendo na internet, com muita informação de opções de estilo de vida respeitando os animais”.

 

Meio ambiente

O relatório do painel internacional de gerenciamento de recursos sustentáveis do Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP), publicado em 2014, diz: “Espera-se que os impactos da agricultura cresçam substancialmente devido ao crescimento da população e do consumo de produtos de origem animal. Ao contrário do que ocorre com os combustíveis fósseis, é difícil procurar por alternativas: as pessoas têm que comer. Uma redução brusca nos impactos somente seria possível com uma mudança substancial na alimentação, eliminando produtos de origem animal”.

Achim Steiner, subsecretário geral da ONU e diretor executivo da UNEP, na época, afirmou: “Separar o crescimento dos danos ambientais é o desafio número um de todos os governos de um mundo em que o número de pessoas cresce exponencialmente, aumentando a demanda consumista e persistindo o desafio de aliviar a miséria e a pobreza”.

Ernst von Weizsaecker, um dos cientistas especializados em meio ambiente que coordenaram o painel, disse: “A crescente riqueza econômica está levando a um maior consumo de carne e laticínios – os rebanhos agora consomem boa parte das colheitas do mundo e, por inferência, uma grande quantidade de água doce, fertilizantes e pesticidas”.

No Brasil, a carne que você compra dos supermercados vem dos frigoríficos e a maioria deles atuam na Amazônia. Segundo a pesquisa Carne ao Molho Madeira, do Greenpeace,  dos frigoríficos atuantes na Amazônia apenas três assumiram, desde 2009, o compromisso de não comprar boi de fazendas que têm novos desmatamentos, que usam trabalho escravo ou que estão dentro de terras indígenas. Todos os outros frigoríficos não têm compromissos transparentes para driblar esses problemas.

Por meio de questionários, o Greenpeace avaliou e fez um ranking dos maiores supermercados do Brasil, com base em três critérios: política de aquisição de carne bovina livre de desmatamento, a qualidade e o rigor dessas políticas e a transparência dos supermercados com seus consumidores. Cada uma dessas áreas teve uma pontuação. O máximo que cada supermercado podia atingir era 100%. Nenhum deles chegou perto disso. O Wallmart, por exemplo, rede norte-americana, atingiu 62%; o Carrefour, rede francesa, 23% e o Grupo Pão de Açúcar, rede brasileira, 15%.

Em 2009 o Greenpeace publicou um documento que revelou dados alarmantes: a Amazônia brasileira apresenta, em área, maior média anual de desmatamento do que qualquer outro lugar do mundo. O setor da pecuária é o principal vetor de desmatamento na região. De acordo com o governo brasileiro, a pecuária é responsável por cerca de 80% de todo o desmatamento na região Amazônica. Nos anos recentes, a cada 18 segundos, um hectare de floresta Amazônica, em média, é convertido em pasto. O setor pecuário na Amazônia brasileira é responsável por 14% do desmatamento global anual. Isso a torna o maior vetor de desmatamento do mundo, responsável por mais floresta destruída que o total desmatado em qualquer país, com exceção da Indonésia.

Chegamos, de fato, a um ponto em que precisamos rever nossos hábitos alimentares e mudá-los com urgência, pois o consumo de carne tem feito mal não só à saúde, mas também ao Planeta Terra.

 

 

 

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