Paranoia Moralista: Elegemos Fiscais dos Bons Costumes
Uma reflexão de como as pautas moralistas ganharam mais destaque do que políticas públicas bem feitas, e como isso ajuda alguns políticos a se manterem no poder por mais tempo.
Por Victor Capellari
–
Afinal de contas, alguém poderia me explicar o que está acontecendo com o nosso país?
Tivemos uma evidência da situação no caso da propaganda da Natura. Como é impossível passar cheiro pela TV, as propagandas de perfume tentam vender a sensação ou emoção no lugar. Por isso a presença do Thammy na propaganda; já cheguei a falar sobre essa questão num vídeo feito durante a polêmica.
Uma busca por representatividade, assim como nas propagandas que mostram as mães que fazem papel de pai ou no caso do filme Pantera Negra para o público afro americano.
Afinal são empresas: elas precisam do lucro e sabem reconhecer esses grupos como existentes e naturais. Aqui não existe nada de errado, pelo contrário, é uma atitude louvável – o problema surge quando os políticos tentam se utilizar desse recurso.

Todo político quer vender seus votos, obviamente mirando uma reeleição, por isso se aproveita de uma política de identidade, na qual ele não precisa resolver problemas públicos.
Se aproveitam desse extremismo que aprisiona as pessoas em grupos com pensamentos fechados, sem espaço para a razão e bom senso, mas não precisa ser assim.
Por exemplo, a Igreja Católica não aceita o casamento entre pessoas do mesmo sexo, então é compreensível que dois gays não se casem em uma Igreja Católica, mas poderiam se casar no civil, e o que isso importa para você? Mudaria a sua vida?
Mas óbvio que vai ter algum político que vai fazer um escândalo frente essa possibilidade, e podemos ver dois motivos:
1 – Cortina de fumaça para não falar sobre os problemas da nação e casos de corrupção que acabam soterradas
2 – Uma tentativa de “mostrar serviço”, apesar se for um incompetente administrador público e ter relação com casos de corrupção, pelo menos ele está defendendo os “bons costumes”
Por esse motivo é muito mais interessante para a classe política incentivar essa rixa, até mesmo inventando conspirações e mentiras, pois nos mantemos numa briga ideológica e ninguém se pergunta quem deveria asfaltar a rua do seu bairro.

Pelo contrário: você tem pessoas agredindo um médico e contra uma criança que sofreu abusos sexuais; você tem pessoas que realizam um atentado a uma produtora por causa de um vídeo. Cadê os bons costumes de amor ao próximo?
Como mostra Rupert Brown no livro Prejudice its Social Psychology, quando categorizamos grupos tendemos a exagerar a diferença entre eles e ignorar as particularidades dentro de cada grupo.
Você pode ser de esquerda e a favor da prisão do Lula, ele não é um santo, muito menos o único nome da esquerda, assim como o PT ou o comunismo não representa toda a esquerda.
Você pode ser cristão e acreditar na evolução ou usar camisinha para não engravidar, assim como você pode ser de direita e não tomar um remédio sem comprovação médica e se preocupar com questões ambientais.
É uma questão de bom senso: se permitir customizar sua forma de pensar e não ser só mais uma voz gritando na massa sem compreender a barbárie que profere.
Utilizar uma fórmula pronta ou vestir uma camiseta não vai servir para tudo – precisamos ter a flexibilidade de analisar caso a caso, o bom senso de não traumatizar ainda mais uma criança e a capacidade de reconhecer uma política pública bem feita.
–

Imagem destacada: Tingey Injury Law Firm on Unsplash