Pandemia: masturbação seria uma saída possível?
As fantasias eróticas não cabem em roteiros: cada encontro tem sua peculiaridade e para ter satisfação não tem como espelhar o desejo no outro, mas reconhecer o que na própria singularidade se deseja.
Por Reynaldo de Azevedo Gosmão
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Com o afastamento dos corpos, a pandemia impôs um dificultador no que tange a possibilidade de realizar o encontro sexual. O que antes era mais viável como sentar em um barzinho pra terminar em uma cama com um parceiro e parceira, atualmente é quase impossível. A busca do sexo pelas vias do coletivo, como ir a festas, happy hour, ou até mesmo marcar um filme, com outros objetivos para aqueles que estão seguindo a quarentena está temporariamente suspensa.
Entretanto, os desejos, as fantasias sexuais, não estão suspensos.
Há relatos que com o isolamento social, os sujeitos tem se tornado mais evidentes, através de sonhos sexuais, pensamentos, ou pela culpa de não ter transado suficientemente antes da quarentena; algumas pessoas me relataram que se arrependem de ter feito muitos “jogos” em alguns relacionamento e deixado pouco tempo para transar, e também escutei pessoas dizendo que deveriam aproveitar melhor o carnaval, ou ter ido em mais festas.

A insatisfação ao lidar com a falta não é tão nova assim, e faz parte das narrativas não só em tempo de quarentena e pandemia. Mas com tantos desejos que tem aparecido, e com a dificuldade de realizá-los com uma outra pessoa, o que se leva pra cama?
Em um texto da psicanalista e professora Vera Iaconelli, intitulado como “o amor está no ar”, ela apresenta que o “sexting, pornografia e a masturbação foram alçados à categoria do que tem pra hoje”.
A masturbação como uma saída possível, “do que tem pra hoje”, pode ser importante para que os sujeitos, além de descobrirem seus pontos de prazer, desbravem fantasias e as formas possíveis de encontrar com o outro no sexo, mas vale ressaltar que muitos usam a masturbação não como o algo criativo, momento no qual a imaginação seja usada como finalidade para pensar nas singularidades da satisfação, alguns sujeitos vão nos conteúdos prontos e disponíveis na pornografia, e algumas amarrações caóticas podem surgir, uma vez que o conteúdo absorvido se torna o ideal para as futuras relações sexuais.

As fantasias eróticas não cabem em roteiros: cada encontro tem sua peculiaridade e para ter satisfação não tem como espelhar o desejo no outro, mas reconhecer o que na própria singularidade se deseja. O que levar pra cama? Os próprios desejos ou um ideal assistido?
Essas perguntas são muito importantes para que os sujeitos não caiam em padrões e imitações que só servirão como impeditivo para se obter prazer.
Fecho o texto com uma contra indicação apontada pela Vera Iaconelli: cuidado para não colocar a masturbação, “como forma de fugir de relacionamentos afetivos ou como descarga privilegiada para todas as excitações”.
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Imagem destacada: Malvestida Magazine on Unsplash