Os três bares

Uma crônica sobre nosso planeta, a pandemia e a forma como o Brasil vem lidando com essa crise.

Por Maria Clara Almeida

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O céu estava cinza, como o pelo de um lobo, naquela tarde de outono, o mundo estava congelando, as ruas cheiravam a tristeza e solidão e estavam quase vazias aquela hora, mas apenas aquela hora; mais cedo, os amargurados e ignorantes humanos sem proteção vagaram por ali. Em certa rua, havia uma moça séria com um chapéu e um casaco longo. Chel via tudo, ou achava que via, será que observava? Naquele momento, o vírus estava decretando as ruínas da humanidade, pois a ignorância havia superado a morte e, consequentemente, a vida.

“Não haverá lockdown nacional”, “É apenas uma gripezinha” – foi a assinatura do documento nomeado “Decreto das ruínas da humanidade” e quem assinou? De acordo com Chel, foi “Aquele tal daquele presidente, “Aquele tal daquele presidente,

que seguiu, estreitamente, 
sua ignorância, de um jeito surpreendente,
que se gabando, influenciavelmente,
(e conscientemente)
foi o culpado pelo massacre de muita gente.”

Naquela rua, havia três bares, as lojas estavam fechadas e muitos eram os espaços para serem alugados. Chel passou em frente aos três, observando-os atentamente, da calçada do outro lado da rua.

O primeiro bar, possuía uma grande placa pendurada no alto, com a escrita “BAR DO JÃO” e um fundo verde. Dentro do bar, era possível ver várias mesas cheias, funcionários e clientes sem máscaras, muitas pessoas com camisetas que estampavam desenhos e fotos daquele tal presidente. Ouvia-se: “Mito, mito!”, “Essa mídia…”, “Virarão jacarés”; e mais alto ainda: “O PROBLEMA DA SOCIEDADE E DA EDUCAÇÃO SÃO OS LIVROS DIDÁTICOS!”. Em seguida, uma chuva de aplausos e assobios.

O segundo bar possuía uma grande placa pendurada no telhado, com a escrita “BAR DO IG” e um fundo cinza, moderno. O bar estava cheio, cheio de jovens. Era possível escutar a mesa da janela: “Esse presidente… Assassino!” e logo depois: “Por favor, cerveja para seis pessoas!”, “Mariana, você vai com a gente ao churrasco, depois que sairmos daqui?”, “Voltando ao assunto… as UTIs estão lotadas e esse maníaco está falando pro povo sair de casa, PELO AMOR DE DEUS!”

O terceiro e último bar, possuía uma grande placa pendurada, com a escrita “BAR DA FER” e, logo abaixo, colado na janela, havia um papel com os dizeres: “EM LUTO”.

Chel, ao chegar ao fim da rua, viu um papel caído no chão (as ruas eram muito sujas), com os tópicos:

134.038.180 casos de Covid no mundo
13 mi de casos no Brasil
4000 mortes em um dia
Europa infectada de casos
Fome: a sombra da pandemia
Falta de acesso à pandemia
Aumento de preços
Festas ilegais

Enquanto isso, gritos de comemorações e conversas faziam eco e os gritos silenciosos do mundo arruinando eram ouvidos por Chel.

imagem mostra pessoas fazendo um brinde com copos de cerveja.

*Números de casos referentes ao dia 08/04/21

Imagem mostra foto de uma jovem branca usando blusa preta, sobe grafismos coloridos. Maria clara Almeida. tem 13 anos, estuda no colégio CEPOC, em poços de Caldas/MG, no 8º ano. Escreve, lê (romances, especialmente) e estuda (astronomia e física, principalmente) nas horas vagas.

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