Os desafios do ensino a distância: uma perspectiva indígena periférica

Por Samela Sateré-Mawé | Amazônia Real

A pandemia do coronavírus trouxe à tona muitas questões relacionadas a desigualdades sociais, como a fome, a saúde e, notoriamente, a educação. Se estudar em um país cheio de desigualdades já era difícil, imagine estudar sem estrutura nenhuma durante a pandemia. Isso não é educação.

Muitos professores e acadêmicos indígenas e não indígenas precisaram se adaptar à nova rotina de estudar via equipamentos eletrônicos, vídeo-aulas, google classroom, google meet, zoom, youtube, whatsApp e outras plataformas de conexão entre professores e alunos.

Mas como estudar se esses equipamentos e ferramentas não são acessíveis a todos os alunos? Como assistir a aula online se você não tem conexão de internet ou um aparelho de celular? Ou precisa trabalhar pra colocar comida na mesa? 

Muitos acadêmicos indígenas passaram por essas dificuldades no decorrer da pandemia. Outros, logo no início, voltaram para as suas aldeias, onde é difícil até o sinal de celular e acabaram perdendo o período. Outros sequer tinham um celular ou plano de internet.

Uma alternativa criada pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA), onde sou estudante do curso de Biologia, foi a distribuição de chips de internet para os alunos em situação de vulnerabilidade social. No entanto, não alcançou a todos os alunos e mesmo os que receberam não tiveram a conexão adequada para assistir às aulas ou fazer as atividades.

Durante a pandemia tive pouco tempo para assistir às aulas on-line, pois aqui na comunidade estávamos trabalhando na produção das máscaras, que seriam comercializadas e/ou doadas. A prioridade era a vida. 

Outro problema era o barulho da rua que impedia o entendimento da disciplina quando estava em aula, e as aulas ficavam em segundo plano, estando no décimo período a preocupação só aumentava.

Sâmela Sateré Mawé / Acervo pessoal

Samela Sateré-Mawé

Tem 24 anos, é filha da líder Sonia da Silva Vilacio, do povo Sataré-Mawé, da Terra Indígena Andirá-Marau, no Baixo Rio Amazonas. É estudante de Biologia na Universidade do Estado do Amazonas (UEA), em Manaus. Artesã, é integrante da Associação de Mulheres Indígenas Sateré-Mawé (AMISM). Participa do Movimento dos Estudantes Indígenas do Amazonas (MEIAM) e é apresentadora no canal Reload. Participou da primeira Oficina Jovens Cidadãos, em 2018.

O Blog Jovens Cidadãos da Amazônia é financiado pelo Rainforest Journalism Fund com apoio do Pulitzer Center.

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