Opinião | Governo brasileiro ameaça meio ambiente
Por Igor Vieira, da organização Engajamundo
Eu sou do nordeste do Brasil – a região mais vulnerável aos impactos da crise climática. No ano passado, na COP 24, comecei a contar uma história sobre como precisávamos mudar o sistema para combater esta crise e hoje, com exclusividade, trago uma continuação.
Neste ano, o Brasil mudou muito, mais ambientalistas foram ameaçados, mais políticas ambientais públicas foram desmanteladas e, como se ainda não estivéssemos em uma situação ruim, a pressão do agronegócio em nossas florestas só aumentou: em terras indígenas, o desmatamento ilegal aumentou 74%, a maioria ocorreu no estado do Pará, estabelecendo a maior taxa de desmatamento dos últimos 11 anos.
Nesse cenário, as pessoas mais pobres e as populações vulneráveis do Brasil estão se adaptando da melhor maneira possível para combater os impactos da crise climática – resultado de ações de grandes poluidores e grandes empresas que não levam em consideração a escuta das populações locais. Não precisamos mais alimentar monocultura, mineração e desmatamento. Boa floresta é floresta permanente, e soluções baseadas na natureza podem transformar a economia de todas as nações.
Já é tempo de pararmos esta situação. Vivemos presos em um modelo de desenvolvimento que desconsidera a existência daqueles cujas vidas são marcadas por suas terras. Vivemos tão apegados e dependentes de um modelo de desenvolvimento antiquado que ainda estamos presos a combustíveis fósseis devido à pressão das grandes empresas, mas um novo capítulo de nossa história chegou.
Na minha cidade, nos últimos três meses, o óleo tóxico que vazou – ninguém sabe de onde – devastou a vida animal, a qualidade da água, a biodiversidade e mais de 10.000 famílias de pescadores que vivem à beira-mar. O óleo foi limpo de nossas praias por trabalho voluntário, ainda há pessoas fazendo isso todos os dias. Eu fui um desses voluntários. Precisei parar de trabalhar porque tive uma reação alérgica à exposição ao material: dores de cabeça e vômitos. Inúmeros jovens foram para a emergência dos hospitais com sintomas causados pela exposição ao material. Isso foi apenas no meu estado, outros 7 estão sofrendo com isso. E o governo? Bem, o governo só nos assistiu fazendo o trabalho dele.
Não podemos mais permitir que situações como essas continuem acontecendo. É por isso que precisamos fazer a transição para um modelo de desenvolvimento que leve em consideração a vida dos mais vulneráveis e, acima de tudo, que garanta o financiamento climático para projetos com soluções baseadas na natureza. Está na hora de fazer os grandes poluidores pagarem, estou cansado de ver grandes corporações destruindo nosso futuro e as partes ignorando-o na COP. Estamos nisso juntos e não descansaremos até alcançarmos a justiça climática.
*Foto por: Bruna Veloso