Ocupa CECA! Mais um episódio das ocupações nas escolas do RJ
Polícia Militar mantém alunos dentro da escola em cárcere e sob ameaça na Zona Norte do Rio
Edda Ribeiro, colaboradora da AJN no Rio de Janeiro (RJ) | Fotos e vídeo: Edda Ribeiro
Na noite do dia 8, por volta das 20h, alunos do Colégio Estadual Chico Anysio, no Andaraí, Zona Norte do Rio de Janeiro, foram mantidos em cárcere privado e sob ameaças pela Polícia Militar, que não permitiu a entrada nem saída de alunos no momento. Estudantes das outras ocupações imediatamente começaram a denunciar nas redes sociais o ocorrido.
A PM chegou ao local com três comandantes agindo de forma truculenta e sem nenhum mandado judicial, após denúncia feita pela direção da escola sobre a ocupação dos alunos, mesmo com a determinação do governador em exercício, Francisco Dornelles (PP-RJ), de que não haveria presença da polícia em nenhuma ocupação. Segundo informações, haviam aproximadamente 20 estudantes dentro na escola naquele momento.
Os jovens haviam deliberado a ocupação em assembleia na tarde do mesmo dia, com quórum de aproximadamente 80 pessoas. As ameaças vieram nas falas do comandante do 6º BPM – Batalhão da Polícia Militar -, Marco Vinícius da Silva Melo, quando afirmava que a PM iria “inaugurar uma nova etapa nas ocupações no Rio de Janeiro”, e que não sairiam da escola enquanto os alunos lá permanecessem.
A denúncia da direção foi feita no 19º DP junto a advogados e membros da Comissão de Prerrogativas da OAB. Pais de alunos defendiam a ocupação e questionaram o abuso de poder e as ameaças sofridas. Após a fala do delegado sobre a ausência de crime por parte dos alunos, foi reforçado o pronunciamento do governador de que as ocupações são legítimas. A denúncia, portanto, não foi registrada.
Ainda na oportunidade, foi informado que o deputado estadual Jorge Felipe Neto (PSD), membro da Comissão de Educação da Alerj, irá colocar as ocupações como pauta de audiência pública.
#ocupaceca
Já por volta das 23h, quando os advogados retornaram a escola, os alunos fizeram um pronunciamento à imprensa, e reforçaram: a ocupação irá continuar por tempo indeterminado. A secundarista, Ana Luisa Meireles, contou que a SEDUC já havia tentado impedir os alunos de realizarem assembléia dentro da escola: “Quando começamos a ocupar, vários alunos sofreram represália, a polícia estava aqui dentro e já era uma coisa proibida pelo governo”, disse. “Nossos pais estavam desesperados, falaram pra gente que iam chamar o Conselho Tutelar para os menores de idade e que os mais velhos iriam ser fichados. Os policias diziam que essa era mais uma batalha que eles iam ganhar, mas não foi o que aconteceu”, exalta a estudante.
As principais pautas reinvidicadas são o passe livre estudantil, a reforma nas escolas, eleições diretas para nova direção e repúdio ao corte de mais 500 milhões na educação, que foram aprovados pelo governador do Rio, Luis Fernando Pezão (PMDB).
Em frente à escola estavam presentes professores militantes da rede pública, ativistas, figuras partidárias e pais de alunos apoiando a ocupação e repudiando veemente o abuso da polícia. Maria Estela, mãe de uma aluna do 2º ano, diz que ficou preocupada com as ameaças e “considera legitimo e necessário o engajamento da nova geração de estudantes”.
As ocupações em escolas no Rio de Janeiro completaram seu primeiro mês e só tendem a crescer. Já são 27 escolas ocupadas até o momento e os alunos clamam por melhorias na área da educação, repudiando principalmente os cortes do governo estadual e federal. A página no Facebook Escolas do RJ em luta, que já chega a quase 21 mil curtidas, disponibilizou mapeamento das ocupações e também orientações aos demais alunos sobre como se mobilizar. Eles também postam listas de doações, entre alimentos e materiais de limpeza. No último sábado (9) a escola Visconde de Cairu, localizada no Méier (Zona Norte) realizou atividades culturais, chamando mais estudantes para participar.
É inadmissível que estudantes sofram tal repressão, claramente há violações ao Estatuto da Criança e Adolescente em que é garantido o direito de manifestação, além de não permitir que jovens sejam abordados pela polícia sem a presença dos pais, advogados e do Conselho Tutelar.
Todo apoio as ocupações do Rio de Janeiro. Basta de repressão!