O racismo nosso de cada dia

Uma história sobre como a nossa sociedade vê as pessoas negras.

Por Amanda Costa

Estava no aeroporto de Guarulhos, indo pegar um voo rumo ao Rio de Janeiro para mais uma viagem a trabalho. 

Tudo corria bem, até que cheguei na parte do raio X e a atendente me falou: 

– Você foi escolhida para passar pela vistoria de segurança.

Esse procedimento não é nenhuma novidade para mim, já aconteceu tantas e tantas vezes que me faz questionar o motivo de meu corpo ser sempre o escolhido.

Assim que passei pelo raio x, outra funcionária veio na minha direção com um sorriso simpático no rosto e disse:

– Você foi escolhida para passar pela vistoria de segurança.

Eu respondi:

– Tudo bem, estou acostumada.

Então ela falou:

– Hmmmm, será que você é sortuda?

Eu disse:

– Desde que comecei a estudar sobre racismo, percebi que isso não é sorte. Na verdade, isso tem outro nome. 

A funcionária olhou no fundo dos meus olhos, assentiu e abaixou a cabeça. Ela fez a vistoria rapidamente e disse que eu poderia seguir. 

Senti raiva, impotência e tristeza. Será que sempre vou ter que lidar com situações como essa? 

Esse episódio me levou a refletir:

– Quais são os corpos que têm livre acesso aos ambientes elitizados?

– Existe alguma política que auxilie os funcionários a escolherem os corpos que serão revistados?

– Quantas pessoas negras são “aleatoriamente” escolhidas para passar por esse procedimento de segurança?

Confesso que enfrentar as micro agressões diárias é beeem exaustivo! Uma sociedade de supremacia branca não está acostumada a ver uma jovem mulher negra viajando a trabalho?

Ora meu corpo é infantilizado, ora hipersexualizado, ora invisibilizado, ora marginalizado… Me lembrando sempre que alguns espaços definitivamente não foram feitos para mim.

Mas quanto mais me sinto agredida, mais me sinto instigada a estudar, trabalhar e lutar pelos direitos do meu povo. Quero entender as estruturas sociais para conseguir transformá-las.

E sei que não estou sozinha nessa luta ✊🏾

Texto originalmente publicado no perfil da Amanda Costa no Linked In.

Ver +

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *