O que pensam os jovens brasileiros nos EUA da eleição de Trump?
Donald Trump será o 45º presidente dos Estados Unidos da América (EUA) e seu governo promete ser regado de intolerância e preconceito. Além de fazer diversas declarações homofóbicas, machistas e racistas durante sua campanha para a presidência, Trump prometeu deportar os mais de 11 milhões de imigrantes ilegais do país, desconsiderando suas famílias, situações financeiras ou países de origem. Além disso, ele pretende construir um muro na fronteira contra o México e dificultar mais ainda a entrada de latinos e muçulmanos no país.
Essa xenofobia de Trump pode afetar a vida dos mais de 1,5 milhão de brasileiros que moram nos Estados Unidos.

Nina Borghi, uma paulistana de 20 anos que estuda em Los Angeles há um ano, diz se sentir “extremamente assustada com o meu futuro e o futuro do país.” Ela também diz temer pelos seus amigos LGBTs e hispânicos nos EUA, visto que o futuro presidente não tem nenhum respeito por essas minorias. Para ela, Trump “vai ser uma das piores coisas que já aconteceu no país”.

Porém, o preconceito contra latinos e estrangeiros nos EUA não é de hoje, ou somente devido à campanha de Trump. A jovem brasileira, Alissa Adam, que mora há 6 anos na Flórida e votou em Hilary Clinton nas eleições, conta que nos primeiros anos sofreu xenofobia de seus colegas de escola. “Havia muita descrença em qualquer habilidade acadêmica minha ou inteligência. Sentia que eu não tinha a mesma voz, como se o que eu falasse fosse menos correto, menos confiável. Quando eu ainda não falava inglês muito bem, eu percebia muita diferença. Quando entrava algum estrangeiro na minha escola no Brasil. todo mundo recebia muito abertamente e tinham interesse em aprender sobre a cultura e em ensinar Português etc. Aqui ia mais pra descaso, como se eu não pertencesse ao grupo deles”.
Além disso, os brasileiros percebem muita ignorância por parte dos norte-americanos com relação ao Brasil. “Já me perguntaram se tinha presidente no meu país, se eu já tinha assistido ao Oscar, se brasileiros falam espanhol, se o Brasil era dividido em tribos, se eu já tinha comido um hamburguer… E tudo isso vindo de pessoas inteligentes, colegas de faculdade. Isso que me assusta mais”, declara Nina. “Quando havia interesse na minha cultura era um interesse muito desinformado. As perguntas iam de “Ah lá só tem mulher bonita e festa né?” a “Você tinha um macaco?”, confirma Alissa.

Outro jovem brasileiro que mora nos EUA e critica a eleição de Trump é André Salem, de 19 anos. Ele diz nunca ter sofrido preconceito por sua nacionalidade, mas sabe que a xenofobia existe. “Eu pessoalmente nunca sofri uma reação negativa por ser brasileiro. Imagino que ter pele branca ajuda porque muita gente assume que não sou latino. Mesmo assim percebo estranhamento às vezes sobre o Brasil em geral.” Para ele, os estadunidenses são culturalmente fechados. “Meus amigos dos EUA quase só consomem cultura daqui. Quando apreciam algo internacional, tem que ser reproduzido e reempacotado com a cara daqui. Por isso sabe-se pouco do Brasil.”
Por isso, a retórica de Trump de chamar os mexicanos nos EUA de “estupradores”, os brasileiros de “porcos-latinos” entre outras coisas confirma e, segundo Alissa, deve aumentar a xenofobia dos estadunidenses. “Acredito que vai aumentar o preconceito e a xenofobia no país, porque ao eleger como o presidente da nação alguém que diz que mexicanos são ladrões, refugiados, terroristas, e segrega com termos como “Os Negros,” “Os hispânicos”, a gente tá dizendo que está tudo bem pensar e agir de tal forma.” André concorda com ela. “Ainda temos semanas até a posse, e já houve aumento em manifestações de ódio no país todo, até em NY. A vitória dele valida essa reação e isso é o que preocupa imediatamente. “

Além da reprodução do preconceito e ódio, as medidas legais que Donald Trump pretende realizar podem prejudicar a permanência desses brasileiros que estão estudando nos EUA. Mario Henrique Curiki, estudante da universidade de Columbia diz temer por seu futuro no país após a faculdade. “Trump já disse ter planos em mudar o esquema de vistos de trabalho (HB1) e de OPT (trabalho temporário para quem fez faculdade aqui)”. Michel Zelazny, jovem brasileiro que estuda Ciências da Computação nos EUA há 2 anos, sente o mesmo. “Acredito que não terei problemas para permanecer aqui enquanto meu visto de estudante estiver em validade. Entretanto, acho que a obtenção de um visto de trabalho após a conclusão dos meus estudos ficará mais difícil”, afirma.
Para protestar contra essas condutas do futuro presidente, Nina compareceu a uma das manifestações contrárias a eleição de Trump, em Los Angeles. “Achei muito ruim não poder votar, entendo que não sou cidadã daqui, mas o que o Trump fizer vai me afetar, principalmente sendo uma pessoa da América Latina. Então eu queria fazer alguma coisa. Ele não me representa!”

Alissa também se sente não representada: “Se o presidente de uma nação está lá para representar a população, com o Trump no poder o que eu menos sinto é representada. Como uma mulher negra e LGBT, acredito ser quem tem menos em comum com o presidente. Ter um presidente que não leva mulheres a sério e é racista, diz o que sobre o futuro das mulheres negras? O que sinto com ele no cargo é apenas medo, do que vai ser de meus direitos e suporte, e absolutamente não representada.”
2 Comments
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Muito bom! Linguagem acessível e assunto bem apresentado e ilustrado com as entrevistas.