O que eu aprendi com Luciana Gomes Lima
Um texto – homenagem sobre amor e o que aprendemos com ele.
Por Vitória Rodrigues de Oliveira
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Agora é bem tarde da noite. Estou cansada, exausta e desesperada pra dormir, mas acredito que não conseguiria fazer isso sem passar pra cá alguns dos meus pensamentos nesse 2022 que achei que seriam mil maravilhas, mas não.
Por volta do dia 22 de janeiro, embarquei num voo para Nova Iorque feliz, mas apreensiva. Cheguei em Boston em segurança, com um voo de conexão atrasado. E naquela cidade fiquei por cerca de uns nove dias para cumprir o modelo diplomático de Harvard. Todo dia, eu remexia aquela mala roxa para pegar roupas, a mesma que olho enquanto escrevo esse texto.
Nas noites frias, mentalizava o nome daquela pessoa tão especial o tempo todo, desejando que ela ficasse bem. Estava na Chinatown ou em Back Bay, mas a minha mente estava mesmo era no Rio de Janeiro. No penúltimo dia de modelo, no meio de tantos conflitos que eu e minhas companheiras de viagem tivemos, desabei no choro com mais um boletim médico. Ela seguia entubada.
O que eu não esperava era que no dia seguinte, no último dia de Harvard MUN, receberia aquela notícia no meio de um shopping repleto de adolescentes do mundo todo. Não me lembro muito bem, mas sei que o desespero tomou conta de mim e surtei nos braços das minhas amigas.
Hoje faz dois meses do pior dia da minha vida, que foi quando eu soube que a Luci tinha morrido por causa da Covid.
Companheira da minha irmã, Luci sempre foi, de longe, a melhor pessoa que já cruzei na vida. Luci esteve na minha vida por uns sete anos (e seguirá nela), e toda vez que a gente se via, era como se fosse a primeira vez, porque ela sempre me surpreendia com aquele abraço feito casa, acalanto, vida.
Veio do Pará pro Rio há um tempo atrás, e dali não saiu mais. Na Padaria, ela era do administrativo, e na vida, era de tudo. Sabe aquela pessoa com quem você fala sobre tudo? Ela já tinha conhecido a Katy Perry, gostava de Clarice Falcão, acompanhava o Big Brother da Itália, além de ser fã de carteirinha de Station 12. A Rainha do Free Fire é algo que não podemos esquecer, inclusive.
O cuscuz dela foi o melhor que já passou pela minha boca. As palavras de conforto sempre foram as mais memoráveis e a sua calmaria era algo marcante. Nadava no meio de oceanos que a vida impõe como ninguém. Bordava obras de arte e sempre que vinha aqui em casa levava uma plantinha.
Depois da escola, ir de Realengo e andar um pedaço da estação até a sua casa não era um sacrifício. Quando bem cedo eu acordava para ir à escola, lá já estava ela acordada, com o Twitter aberto. Me dava o dinheiro para a passagem e assim eu seguia, e ali os gatos Nina e Chumbinho ficavam junto a ela.
Lia muito, e a gente sempre parava pra conversar dos livros. No último e único ano novo que passamos todes juntes, combinamos de ir ao show da Marisa Monte juntas e naquela noite ninguém soube falar quem comeu o meu quiche de abobrinha na madrugada. Falamos muito empolgadas dicas de leitura em inglês e essa relação com Os Sete Maridos de Evelyn Hugo, da Taylor Jenkins Reid.
Nesses dias, saiu a notícia, e eu logo fui mandar a notícia pra ela, mas lembrei que ela não responderia. Ainda assim, enviei, e ainda fico na esperança dela responder. Uma das piores partes do luto está nas ações mais banais, quando você quer contar para aquela pessoa uma novidade ou rir com ela, mas sabe que não vai rolar… logo pra ela, que sempre vibrava com tudo que conquistei.
Como seria possível uma pessoa tão querida por todo mundo ir embora assim, tão rápido após poucos dias de diagnóstico dessa desgraça de vírus? A Covid destrói a vida de quem se vai, mas também de quem fica. Não há um mísero dia em que eu não caia no desespero das lágrimas, porque é o que há pra sentir. A falta é isso. É dor.
Cansei de me perguntar porque Deus não me escolheu, porque havia de ser ela, porque ela não poderia mais jogar comigo e com o meu irmão, nem comparecer ao piquenique em família na Quinta da Boa Vista que a gente tanto falava que ia acontecer. Eu não conheceria a casa dela em Castanhal, no Pará?
Pouco tempo antes de ser internada, foi o seu aniversário. Ela tinha essa coisa de esconder a idade, e só depois que ela saiu para fora deste círculo soubemos dos seus 36 anos de idade. De lá de cima, do nosso lado ou aonde quer que ela esteja, agora ela ri de nervoso por eu estar contando isso tudo ao mundo.
No seu último aniversário, estávamos todas isoladas em seus quartos aqui em casa por conta da Covid, e então cantamos um parabéns adiantado para a Luci via chamada de vídeo. Minha mãe na cama e eu na porta do quarto, sorrindo. Sempre sorrindo.
E falando de riso, quero lembrar dela assim. E desejo que você, que lê esse texto agora, saiba que Luciana Gomes Lima foi, é e sempre será uma revolucionária. A minha vida está sem rumo sem o ‘oiii’ dela no WhatsApp ou o “eu hein, tô fooora” depois d’eu propor coisas absurdas e irônicas a ela.
Mesmo sem direção, espero poder seguir com ela dentro de mim e de cada um de nós. O que ela deixou aqui foi, basicamente, o amor em seu estado mais cristalino. E meu Deus, que saudade. Que saudade.

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3 Comments
LUCIANA GOMES LIMA OU LU PARA A FAMÍLIA , QUANTA FALTA VC NOS FAZ,NAO DA PARA ACREDITAR ,COMO SEGUIR EM FRENTE NÃO SEI,SÓ VIVEMOS UM DIA APOS O OUTRO, AGRADEÇO A DEUS TE TIDO VC COMO MINHA IRMA, SEI O QUANTO AMOR VC SEMEOU.AMAMOS VC.
Eu fui escolhida por essa pessoa maravilhosa LUCIANA GOMES LIMA pra ser sua mãe do coração e agora meu coração sangra a ausência
O maldito COVID nós roubou .e agora Luciana ? Como viver sem você ? Te amaros pra sempre
Lembro da nossa infância, onde brincávamos de peteca, de queimada, aproveitamos muito nossa infância. Eternas saudades lu😢 Ms sei que onde estiver está olhando por todos. Lembro que quando perdi minha mãe. Me mandou monte de msg de conforto. E sempre dizia estou aqui si precisar. Lamentável vc ter ido tão cedo.