O papel das empresas na promoção da justiça climática
A agenda do clima pode ser uma oportunidade para as empresas. Mas será que elas estão preparadas?
Por Amanda Costa
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Fala minha lindeza climática, bele? 🙂
A 27º Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas ficou conhecida por muitos nomes, como A COP
- da Justiça Climática,
- das Perdas e danos,
- do Financiamento Climático,
- da Implementação e Metrificação,
- do Greenwashing (Maquiagem verde).
Independente da sua leitura, uma coisa precisa ficar bem escura: tudo que rolou envolve muita grana. Se estamos realmente dispostos a encontrar soluções para a crise climática, precisamos deixar os egos de lado e construir parcerias interseccionais e intersetoriais em prol de uma nova agenda sustentável de desenvolvimento local, nacional e global.
A crise climática é uma questão geopolítica que desafia a estrutura da nossa sociedade; Ela é considerada uma grande ameaça aos direitos humanos, pois intensifica TODAS as desigualdades existentes.
Os mais impactados nesse cenário tem cor, raça e gênero!
Flávia Bellaguarda, LaClima

Quando pensamos em justiça climática, precisamos entender dois fatores:
- Quem são os principais responsáveis pelas mudanças climáticas (países desenvolvidos, do norte global).
- Quem são os mais impactados pelo atual modelo (países em desenvolvimento, do sul global).
Pode parecer complicado mas o rolê é tranquilo. Imagina a cena comigo:
“Você foi num bar com seus amigos e todos estão se divertindo, bebendo cerveja e falando da vida. De repente a esposa de um liga e pede para ele voltar para casa. Ele deixa um pequeno valor na mesa e vai embora. Em seguida, outro lembra que no dia seguinte terá uma apresentação importante no trabalho e também decide ir embora, deixando um valor para integrar a conta final. Outro aproveita o embalo e também se retira, mas antes coloca mais uma quantia na mesa. Os últimos decidem ir embora e se levantam para pagar a conta. Você acha que todos pagaram um valor justo ou os últimos serão os mais prejudicados, tendo que pagar um valor mais alto? Essa conta não fecha!”
Agora pensa nos amigos do bar como os países do nosso planeta. As nações do norte global foram, aos poucos, se retirando, deixando a conta principal para que as nações em desenvolvimento paguem. Essa conta também não vai fechar!
Parece até loucura, mas isso vem se repetindo há muito tempo. Essa foi apenas a quarta vez na história que uma COP ocorreu no continente africano, em contraponto às 14 conferências realizadas no continente europeu.
Esse ano, a conferência também ficou conhecida como a COP dos Vulneráveis, que de acordo com Mara Gama, trouxe um anseio para o avanço do financiamento climático com três objetivos principais:
- Processos de descarbonização da economia e seus efeitos;
- Investimento em infraestrutura para regiões que há possibilidade de adaptação às mudanças climáticas;
- Recursos para mitigação de perdas e danos para os efeitos que já atingem populações e grupos vulneráveis.
Querida pessoa leitora, é aqui que as empresas entram: precisamos de uma lente transversal para construir uma sociedade regenerativa, adaptativa e resiliente!
De acordo com a Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável da ONU: não podemos deixar ninguém para trás!
As empresas podem contribuir nos dois lados da moeda da justiça climática. De um lado, podem atuar na mitigação das mudanças climáticas, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa da sua operação e cadeia de valor. Do outro, podem promover medidas afirmativas e capacitações, incluindo as populações vulneráveis nas cadeias de produção.
A transição para uma economia verde não precisa ser encarada como um rolê meeeega complexo e desafiador, mas pode ser vista como uma oportunidade de construção de um mundo mais inclusivo, colaborativo e sustentável.
É necessário considerar o contexto local, combater as desigualdades sociais e destinar recursos técnicos e financeiros para reduzir as emissões de gases de efeito estufa das companhias. Fazer o uso de energia renovável, conservar as florestas e incentivar o reflorestamento de áreas degradadas são ações básicas dentro de todo esse processo.
Se queremos enfrentar a crise climática sem deixar ninguém para trás, precisamos criar condições para que trabalhadores e suas famílias, pequenos negócios, municípios e comunidades desenvolvam novas habilidades técnicas, ofícios, conhecimentos e fontes de recursos para prosperar numa nova economia verde.
As empresas são atores chaves na luta em prol do clima e precisam se responsabilizar tanto no sentido ambiental, quanto econômico e social. Se você trabalha no ambiente corporativo, talvez esteja pensando:
- Ooook, estou compreendendo a profundidade do tema. Mas oque a minha empresa pode fazer na prática?
As empresas e organizações podem adotar uma séééérie de medidas. Aqui vão algumas dicas:
- Destine um fundo, com investimentos, suporte técnico e aconselhamento para os trabalhadores da base e populações tradicionais.
- Capacite sua cadeia de fornecimento com o objetivo de integrá-la nas suas próprias soluções de redução de emissões de gases de efeito estufa.
- Incorpore a dimensão de justiça climática nas políticas corporativas de ESG (ex: na execução de suas políticas de sustentabilidade, empresas podem apoiar as comunidades de seu entorno na diversificação econômica, no desenvolvimento de competências para inclusão no mercado de trabalho verde e para a geração de negócios compatíveis com a economia de baixo carbono).
- Faça um Inventário de Carbono (Inventário de Gases de Efeito Estufa GEE) para mapear, quantificar e registrar as fontes de emissões de GEE de suas atividades, setores, organizações e localidades.
- Entenda seu inventário de carbono e a partir dele, adote medidas de tecnologia e inovação para os três escopos (I – Direta, II – Indireta e III – Cadeia de Produção).
- Faça uma análise intersetorial, adapte-se às demandas e desenvolva um plano de risco.
- Trabalhe em grupo <3 Sua empresa pode fazer parte de redes como Sistema B e Pacto Global da ONU.
As empresas devem se responsabilizar no sentido global e no sentido social.
Carolina Marcial, LaClima
Querida leitora, a lógica mudou! Clima é uma agenda de desenvolvimento e as empresas que não se adaptarem logo, em breve deixarão de existir.
Mas não deixe o medo do desconhecido te paralisar, ok? Já dizia Martin Luther King:
Suba o primeiro degrau com fé. Não é necessário que você veja toda a escada. Apenas dê o primeiro passo.
E aí, bora se comprometer com a justiça climática? 🙂