Praia de Iguape. Acervo pessoal

O avanço do mar e as comunidades tradicionais caiçaras

Municípios do litoral sul de São Paulo enfrentam desafios com a erosão costeira e o avanço do mar, afetando especialmente as comunidades tradicionais de pescadores. As belezas naturais do local não escondem a negligência política e a falta de conscientização ambiental que só contribuem para a falta de assistência e apoio adequado a essas populações.

Por Ana Teresa, do Puro Ouro Verde

Iguape e Ilha Comprida são municípios situados no litoral sul de São Paulo, e uma das suas principais características marcantes são as praias, dunas, vilas caiçaras e outros diversos pontos turísticos para se apreciar. Apesar de ter tantos atrativos a admirar, precisamos pontuar as problemáticas ocorridas dentro da região. Isso porque existe tanto a necessidade dos políticos em transmitir uma imagem perfeita da região para “alimentar” sua popularidade para o turismo, quanto a falta de informações para os habitantes de como as questões ambientais e econômicas podem afetá-los.

Nessas duas cidades, precisamos destacar que a população concentrada delas são chamadas de Caiçaras, por serem tradicionalmente do litoral, além de viverem das suas culturas em pesca, fandango (dança), agricultura familiar e artesanato. Para este artigo, queremos destacar algumas regiões mais centralizadas destes territórios e os povos que nelas vivem:

  • Praia do Leste (Iguape): Fica localizado pela estrada da Barra do Ribeira, em que comunidades caiçaras mais antigas moram, e a maioria se sustenta com a pesca artesanal para consumo e venda. Essa localidade vem sofrendo durante anos a erosão costeira, tendo relatos de moradores em que tiveram que se realocar mais de 5 vezes de onde viviam, e acrescentaram que não se teve a ajuda necessária do órgão municipal, a não ser sacos de areias disponibilizados pelos mesmos.
  • Ponta da praia (Ilha comprida): Fica localizada na região norte urbanizada, em que não se caracteriza comunidades, mas em uma área com poucas casas de pescadores e de veraneio que sofre os impactos do avanço do mar. 

Ao pontuar isso, queremos destacar a negligência política sobre as comunidades caiçaras dessas regiões, além da invisibilidade ao que tange a temática ambiental. Nesse cenário, fica ainda mais difícil ter uma educação ambiental nas escolas e dentro do nosso corpo social, se o próprio Poder Executivo Municipal não tem a iniciativa de ajudar essa população e sequer iniciar um debate sobre os problemas de uma vila inteira de pescadores que vem sendo, desde o início dos anos 90, destruída pela ação das marés, que estão destruindo o terraço marinho e, consequentemente, as casas que estão sobre ele, por exemplo. A prefeitura municipal de Ilha Comprida vem utilizando sacos de areia como forma de barreira, mas devido à falta de manutenção, tal obra tem sido de pouca eficácia. O avanço do mar já atingiu aproximadamente 100 metros, numa extensão de 500 metros da linha de costa.  

Em resumo, a população dessas regiões tem enfrentado grandes desafios diante do avanço do mar e da erosão costeira. As comunidades caiçaras, que dependem do litoral para suas atividades econômicas e culturais, têm sido duramente afetadas. E com isso, muitos continuaram somente realocando-se pelas proximidades, sem pensar em ir embora do seu território para que continuassem com os seus sustentos, principalmente vindos da pesca.

O avanço do mar é um processo natural que vem sendo acelerado no decorrer dos anos pela ação do homem. Para que haja, então, uma alternativa de ajudar as comunidades litorâneas, seja uma diminuição no ritmo desse processo ou garantindo segurança a elas, é fundamental o poder público implementar algumas soluções como: 

  •  Investimento em infraestrutura de proteção costeira: O poder público deve investir em obras de infraestrutura adequadas para conter o avanço do mar, como a construção de diques, quebra-mares ou outras estruturas de proteção.
  • Monitoramento e gestão do litoral: É essencial que o Poder Público realize um monitoramento contínuo do litoral e mapear as áreas mais críticas da região.
  • Fortalecimento das políticas de reassentamento: Para as famílias caiçaras que enfrentam a necessidade de se realocar. O poder público deve implementar políticas dignas e sustentáveis. Isso envolve garantir o acesso a moradias seguras e infraestrutura básica, além de considerar o vínculo cultural e histórico que essas comunidades têm com o território.
  • Educação e conscientização ambiental: Investir em programas de educação ambiental nas escolas e nas comunidades, visando sensibilizar a população sobre a importância da preservação ambiental e da adoção de práticas sustentáveis.

A partir dessas ações pode ser possível criar uma abordagem mais abrangente e efetiva para lidar com o avanço do mar e proteger as comunidades caiçaras, preservando sua cultura e modo de vida tradicionais. 

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