NBS e preservação das terras na Amazônia. Povos indígenas na COP 26

NBSs são estratégias particularmente adequadas a um contexto natural. São movidas por um pensamento utilitarista emergencial, mas, como explicam os  representantes indígenas na COP26, também por um forte desejo de cuidar e proteger o território.

O que são NBSs? Como eles são implementados em um contexto como o da Amazônia? Qual é o papel dos povos indígenas e qual é o papel dos estados ocidentais?

Simone Predelli

Tradução: Daniele Savietto

Soluções baseadas na natureza são ações que têm dois objetivos: a preservação do patrimônio natural e a resolução de um problema social. Neste artigo, vou me concentrar nas estratégias de combate às mudanças climáticas e no importante papel que a Amazônia desempenha para atingir esse objetivo. Farei isso também por meio das palavras de alguns representantes indígenas da Amazônia que estão na COP26 porque, como habitantes do território em análise, eles têm um papel central.

Durante o evento “Territórios Indígenas da Amazônia: comunidades e soluções climáticas baseadas na natureza” realizado na COP26 em 04/11/2021, o que se constatou é que os indígenas representados acreditam ser fundamental enfatizar que não desconhecem as responsabilidades relacionados com a devastação do seu território, pelo contrário, condenam a exploração dos recursos pelo mundo ocidental que tem conduzido a esta situação climática desastrosa. Porém, sua postura permanece pró-ativa e se empenham em gerar soluções que permitam a proteção do lugar onde vivem.

O que pedem é muito claro: querem estar no centro desta mudança e exigem que os estados responsáveis ​​pela situação atual, tanto climática como socioeconómica, lhes deem os fundos para  conseguir. A floresta amazônica tem, em si, uma (citando os indígenas) “vocação” conservacionista que tem importância para todo o globo, porém decidir como aderir a essa vocação cabe a quem habita este território e a conhece.

A delegação indígena aqui na COP, falando sobre as mudanças climáticas, costuma falar de uma revolução no pensamento, apontando como o mundo ocidental está muito afastado da natureza, principalmente do ponto de vista espiritual. Representantes de povos indígenas dizem que veem a floresta como sua chance de vida e têm o cuidado de tratá-la com o devido respeito. Por esse motivo, quando falamos sobre NBSs em um contexto indígena, falamos sobre o desenvolvimento de uma economia sustentável dentro das comunidades e a construção de uma rede de controle e proteção que permita aos povos indígenas cuidar do lugar onde vivem e garantir que não seja abusado.

Para cumprir essa tarefa, os povos indígenas criaram a R.I.A. (REDD + Amazônia Indígena), que inclui REDD + (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal, uma ferramenta de financiamento do clima) e a Rede Indígena da Amazônia, um projeto pré-existente. Seu principal objetivo é reduzir as emissões de carbono por meio da adaptação de políticas públicas no contexto amazônico, levando ao fortalecimento do território. Isto é feito através de um processo adaptado ao território, baseado por um lado no desenvolvimento de uma economia sustentável (viagens experienciais para turistas, aquicultura de peixes, silvicultura, comercialização de alguns produtos) e, por outro lado, através de um serviço de vigilância do território que garante sua proteção.

O projeto teve muita adesão, reunindo comunidades indígenas do Peru, Equador, Colômbia e Brasil. Em cada local, a implementação dos projetos é feita de acordo com as necessidades específicas e contextuais, mas existem ideais comuns que ajudam a trazer uma voz forte e única à comunidade ocidental.

Em todo caso, soluções baseadas na natureza são fundamentais para a construção de um sistema que consiga preservar a Amazônia, e na base disso está um pensamento que visa cuidar da terra porque ela tem um valor intrínseco e não pode ser considerada meramente utilitarista. Quem habita estes territórios sabe disso muito bem e está disposto a “sujar as mãos”, só temos que garantir que eles estejam em uma posição para realizar essa tarefa.

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