Mulheres Negras marcham contra racismo e por direitos no PA

Diego Teofilo e Augusto Ramos | imagem de destaque: Jean Brito

Segundo o Mapa da Violência 2015, a morte violenta de mulheres brancas diminuiu 9%, enquanto a de mulheres negras aumentou em 54%; o balanço do ligue 180, da Central de Atendimento à Mulher/2013 apontou que 59,4% do número de vítimas de violência doméstica são negras; e dados recentes do Diagnóstico dos Homicídios no Brasil – Ministério da Justiça/2015, indicaram que as mulheres negras representam 68,8% das mortas por agressão.

Os indicadores acima confirmam um quadro de extrema violação de direitos denunciada oficialmente e registrada através das instituições de segurança do Estado, mas e a violência que não é denunciada? As que não chegam a ser somadas nestas estatísticas oficiais? Debruçado sobre estes dados e construindo alternativas de enfrentamento, o movimento negro brasileiro, sobretudo das mulheres negras organizadas, vem se articulando e provocando a realização debates, audiências, seminários, rodas de conversa e manifestações para denunciar esta lamentável realidade. Entre estas ações destacamos a 1º Marcha das Mulheres Negras – Contra o racismo e a violência e pelo bem viver, realizada em novembro de 2015. Compreendendo a necessidade de continuar dialogando com a sociedade sobre as reais situações em que a mulher negra vive e a coloca no topo das estatísticas de violência, aconteceu no ultimo dia 25 a Marcha das Mulheres Negras de Belém, convocada pelo Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará (Cedenpa) e Rede de Mulheres Negras, no mesmo dia em que se celebra o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha.

A atividade teve concentração na escadinha do caís do porto, nas Docas. As bênçãos embaladas por cânticos e um banho, pedindo aos Orixás proteção durante a marcha marcou o inicio do percurso que seguiu pela Av. Presidente Vargas, com diversas intervenções, músicas, declamações e reflexões sobre a condição da mulher negra em todos os setores da sociedade.

“Hoje não precisamos acorrentar ou chicotear um negro pra existir o racismo, às vezes é um olhar, uma palavra, a forma como você nega o emprego para um negro/a” afirma Flávia Câmara, da Rede de Mulheres Negras de Belém, e continua a importância é fazer um contraponto a essa situação atual e histórica que pesa sobre nós mulheres negras e sobre o povo negro. O racismo no Brasil, infelizmente, é muito velado ele se dá de forma silenciosa. Assim, as pessoas não assumem e não admitem que são racistas e isso acaba camuflando as formas sutis que o racismo se perpetua no Brasil”.

O ato foi uma verdadeira e necessária aula aberta sobre democracia. Pode-se inclusive afirmar que fora uma extraordinária experiência de formação política e cultural, reunindo majoritariamente ativistas negras de toda a cidade, mulheres, jovens adolescentes e crianças, um conjunto da diversidade amazônida. Elas, que colaborativamente confeccionaram cartazes, coordenaram pinturas étnicas nos rostos, gritavam palavras de ordem e promoviam batuques denunciando o racismo institucionalizado, a violência contra a mulher, o machismo, a ausência das mulheres negras nos espaços de decisões políticas, entre outras pautas de prioridade na agenda por direitos das mulheres.

Ana Carla Oliveira, do Coletivo de Juventude Negra do Cedenpa, pontuou que “a caminhada foi incrível, muito emocionante ver todas essas mulheres pretas em Belém fugindo da invisibilidade. Tem tanta gente que acredita que no Pará não existem negros e a gente mostra que aqui tem mulher preta sim e trazemos todas as nossas causas, mostrando a questão do feminicídio, do racismo institucional.”

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Historiador, educador do Instituto Universidade Popular e membro do Instituto Amazônico de Comunicação e Educação Popular - IACEP.

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