Jovens do Amapá mantêm a tradição do movimento cultural Marabaixo
|Por: Alessandro Brandão, Amapá (AP) | Imagem de destaque: foto de Aydano Fonseca
Marabaixo, a cultura secular do extremo norte do Brasil, conta histórias da vivência dos negros dos quilombos do Amapá através da fé, da música e da dança.
Trazidos na transferência da comunidade de Mazagan, de El Jadida, no Marrocos, para a fundação da comunidade Nova Mazagão, no estado do Amapá no século XVIII, o mar era o lugar mais próximo das terras natais dos africanos escravizados. Assim, como forma de expressar seus lamentos do cotidiano criaram o mar-a-baixo.
Ditas pelas caixas fabricadas artesanalmente, em sua maioria pelos próprios tocadores, o marabaixo é a maior tradição cultural da região. A festa é celebrada em todas as comunidades quilombolas, rurais e urbanas, das cidades de Macapá e Mazagão. A “festa do ciclo”, como é conhecida, acontece especificamente na área urbana, nos bairros do Laguinho e da Favela (Santa Rita), em Macapá, e na área rural, em Campina Grande.
O Marabaixo homenageia o Divino Espírito Santo e a Santíssima Trindade. O seu ciclo inicia no sábado de Aleluia, véspera da Páscoa, e tem calendário próprio, terminando no domingo seguinte do dia de Corpus Christi da Igreja Católica.
Os maiores difusores dessa manifestação cultural são os jovens, herdeiros das famílias tradicionais fundadoras dessa expressão de fé, bem como apoiadores e devotos.
“A importância da juventude nas rodas de marabaixo é fazer com que eles tenham a consciência dessa perpetuação da nossa tradição, então a gente ver o jovem como uma segurança que o futuro da nossa tradição está garantido”, conta Valdinete Costa, coordenadora do Ciclo do Marabaixo 2017.
(Wendel Santos) Foto: Aydano Fonseca
Para o cantor de marabaixo Wendel Santos, de 20 anos, a celebração é uma forma de perpetuação da cultura e fortalecimento da identidade quilombola. “O modo que as pessoas te veem por ser jovem, e tão comprometido com a cultura secular que aqui deixaram… posso ser um espelho para aqueles que ainda não descobriram sua identidade cultural”, conta.
Ana Olinda Barros, de 19 anos, compartilha dessa visão, “O Marabaixo pra juventude hoje em dia é não deixar a nossa cultura morrer, os nossos mais velhos já estão indo embora e só tem nós para cultivar a nossa riqueza, deixada pelos nossos antepassados.” Ana é cantadeira e dançarina do grupo de marabaixo Berço do Marabaixo da Favela.
Nesse sentido, a participação jovem no movimento é fundamental. Para a presidente da Associação Cultural devotos de São José Marabaixo da Juventude, Mirreth Karoliny Ramos, de 24 anos, a manutenção e valorização da cultura tradicional permite que a população se reconheça como parte do processo cultural.”Nosso grupo é formado por 45 jovens que trabalham para levar a nossa cultura, batuque e Marabaixo, dentro de um processo histórico, contando e explicando como tudo acontece, como se dá a história do mar a baixo e mar acima, e da dança da libertação, o nosso tradicional batuque”, conta Mirreth
Comidas e bebidas
Durante a manifestação cultural do Marabaixo é servido um cozido de carne com legumes e a tradicional “gengibirra”, feita a partir da mistura de cachaça, gengibre, açúcar, cravinhos da índia e água. A bebida é considerada o energético dos brincantes, os ajuda a aguentar a festa até o amanhecer, cantando e dançando.
Instrumento
O instrumento típico é o ambor, conhecido como “caixa de marabaixo”. E carregado frente ao corpo, pendurado nos ombros é tocado com duas baquetas. Antigamente feito de couro de animais (gado, cobra e bode), hoje são feitos a partir de materiais sintéticos.
Vestimenta
As roupas típicas masculinas são calça branca, camisa florida, toalha no ombro, chapéu de palha enfeitado com murta (planta retirada das matas do Quilombo do Curiaú, de cheiro agradável), enquanto as mulheres usam saias floridas e rodadas, blusas de renda, anágua, flores no cabelo e também uma toalha no ombro.
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