Livro retrata mulheres que representam a luta pela terra no interior do Mato Grosso
“Essa semana eu parei na frente do mandante que pagava 90 mil reais a quem desse fim na minha pessoa”, “Aí eles falaram assim: não vamos matar ela agora, porque está com as crianças”,“Vou pagar só um mês pra ela aprender a fazer o nome, pra quando ela for casar saber assinar. Aí, eu estudei só um mês, quando era nova”. Esses trechos são depoimentos de mulheres que representam a luta pela terra no interior de Mato Grosso. Fazem parte do livro Dez Mulheres Muitas Vidas, de Scheilla Gumes e Adenor Gondim, cujo lançamento acontece no dia 24 de abril (quinta-feira), às 19h, no Foyer do Teatro Castro Alves, em Salvador (BA). O lançamento da publicação também marca a abertura de exposição homônima, com as fotos das mulheres retratadas no livro, em cartaz até o dia 4 de maio.
A pedido do Elo – Ligação e Organização, Scheilla e Adenor fizeram duas viagens pelo Mato Grosso. Visitaram sete municípios em quatro regiões do Estado (Araguaia, Baixada Cuiabana, Médio Norte, Norte), nos quais conheceram de perto dez mulheres que simbolizam a história de luta e permanência das camponesas no meio rural mato-grossense.
A publicação atribui a cada uma dessas mulheres uma ideia-força, um marco para guiar o leitor nas singularidades da experiência feminina na luta pela terra. Superação; diálogo; união; justiça; leveza; determinação; compromisso; solidariedade; esperança e desejo são as palavras dentro do espelho dessas bravas e delicadas brasileiras.
As próprias camponesas, em grupos organizados, definiram critérios e escolheram aquelas que as representariam na publicação. Os perfis de Miguelina, Ivanildes, Raimunda, Ivani, Leonora, Lindaura, Dorcina, Vera, Germana e Camila são também as histórias de todas as companheiras que têm dito não ao latifúndio, à exploração do trabalho, a um modelo de desenvolvimento que exclui a maioria da população do acesso a condições dignas de vida e compromete o futuro da sociedade brasileira.
Dez Mulheres Muitas Vidas mostra também a jornada particular trilhada por cada uma delas em busca de voz e autonomia dentro de estruturas familiares e ambientes de trabalho machistas, extremamente conservadores. As 114 páginas do livro apresentam diferentes possibilidades de, em casa e na rua, estabelecer relações mais igualitárias e harmônicas. Romper com o preconceito sem abandonar o ideal de lutar pela terra e poder contar com o homem amado e a felicidade em família.
A ideia de realizar este livro partiu da parceria entre ELO Ligação e Organização com a Comissão Pastoral da Terra (CPT) no Mato Grosso, há cerca de oito anos, em função do acompanhamento ao projeto que o CPT desenvolve e que é apoiado pela Agência de Cooperação Internacional Alemã Brot fuer die Welt (em português, Pão para o Mundo).
Adaptação: Carolina Ellmann | Imagem: Divulgação