LGBTfobia de cada dia: ato denuncia crimes contra comunidade LGBT

No último sábado, dia 18 de março, o ato “Basta, Chega de LGBTfobia”, organizado pela Associação da Parada do Orgulho LGBT (APOGLBT), ocupou as ruas do centro de São Paulo para denunciar à sociedade civil os casos de violência contra a comunidade LGBT.

Em torno de 250 manifestantes de diversos movimentos e coletivos sociais, foram às ruas em protesto aos crimes cometidos contra travestis, transexuais, gays e lésbicas nos últimos meses.

Essa não foi a primeira mobilização organizada pela APOGLBT com o objetivo de escancarar a LGBTfobia. Nos últimos anos, outros atos foram realizados com a mesma temática a fim de reivindicar a criminalização da LGBTfobia e sensibilizar a sociedade civil.

De acordo com o Relatório de Violência Homofóbica no Brasil, elaborado pelo Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, no ano de 2013 foram foram registradas 1.965 denúncias da comunidade LGBT. Desse total, 73% das denúncias tinham como vítimas homens gays, o que caracteriza a homofobia. Cerca de 17% das denúncias foram contabilizadas por mulheres lésbicas, caracterizando a lesbofobia.

No documento, pode‐se verificar as violências com o maior número de registros. Os casos de violência psicológica ocupam o primeiro lugar, com 40,1% do total, seguidos por casos de discriminação, com 36,4%, e violência física, com 14,4%.

O ato começou na praça Franklin Roosevelt e terminou no Largo do Arouche, locais de sociabilidade LGBT da cidade. Entre as diversas falas dos manifestantes, alguns passantes se juntavam à caminhada ao longo da manifestação.

O protesto promoveu reflexões que variaram desde a relação entre o HIV e a LGBTfobia, até os discursos de ódio dos ditos “líderes religiosos”, que se utilizam da religião para propagar o ódio e a discriminação contra a população LGBT.

O coletivo Mães Pela Diversidade, composto por mães e pais de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, deixou sua marca. “Pode ser na Bahia, onde for, não importa onde morreu. Isso dói no coração de todas as mães, a morte de um LGBT”, declarou a representante do coletivo Clarice Cruz, militante da causa LGBT.

Não importa qual seja o local ou a forma, a morte de uma pessoa dói, é sentida não somente pelos seus familiares, mas por toda a comunidade.

Casos como o de Dandara, Laura Vermont, Itaberlly Lozano e tantos outros, não são apenas estatística. Os casos de homicídio, agressão e discriminação resultantes da LGBTfobia, mostram o quanto é preciso militar e avançar nas políticas públicas pela diversidade, reafirmando o respeito às diferenças em uma sociedade extremamente diversificada.

 

“LGBTfobia causa AIDS, criminalização já”

Quando nós, LGBT, declaramos socialmente sermos integrantes do grupo de pessoas que foge do padrão social, afetivo e de gênero, e passamos a expor que nos relacionamos com indivíduos do mesmo sexo, somos marginalizados. Por conta dessa exclusão social, e das desigualdades que toda a comunidade LGBT enfrenta, o cartaz “LGBTfobia causa Aids, criminalização já”, aborda um tema que tem afetado drasticamente a comunidade: o HIV/Aids!

Se, desde a infância, nos aceitassem e nos acolhessem, não estaríamos nos infectando constantemente. A cada ano, o índice de jovens infectados pelo HIV aumenta exponencialmente. Este fato não apenas revela, escancara a falta de políticas públicas adequadas à juventude!

Infelizmente, é comum escutar a premissa “você é gay, irá pegar Aids”. Precisamos falar sim sobre a Aids, sobre as formas de transmissão, prevenção, sexualidade e gênero, mas não podemos usar o medo como arma para tentar, de alguma forma, prevenir o HIV.

É necessário naturalizar as conversas sobre sexo, sobre infeções sexualmente transmissíveis, sobre LGBT, para que cada vez mais pessoas tenham acesso à informação. Ainda hoje,muitos não sabem o que é HIV ou qual é a diferença entre o HIV e a AIDS.

A máxima governamental ‘USE CAMISINHA’ está ultrapassada. A linguagem de campanhas direcionadas às juventudes deve ser readequada constantemente. Devemos tratar a sexualidade de maneira mais libertadora, levando os temas que estão em alta para as rodas de conversa, oficinas e salas de aula, tornando-os mais acessíveis.

O ato “Basta, Chega de LGBTfobia” foi apenas um dos eventos realizados pela APOGLBT no ano de 2017. A associação ainda prevê rodas de conversa sobre temas incluindo HIV/Aids e Juventude, além da própria Parada do Orgulho LGBT, que acontece no dia 18 de junho, na Avenida Paulista. Este ano, a parada tem como tema “Estado Laico: independente de nossas crenças, nenhuma religião é lei! Todas e todos por um Estado laico”.

Em face às diversas dificuldades enfrentadas pela comunidade LGBT, devemos lutar pelo respeito à diversidade. Nós somos LGBT, existimos e resistimos!

 

Militante do movimento LGBT e de HIV/ AIDS, em São Paulo, Moises tem 20 anos, integra coletivos de juventude e HIV, e faz parte do projeto Viva Melhor Sabendo Jovem com foco em juventude, sexualidade e gênero, HIV e prevenção.

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