Laudelina de Campos: A luta para Dignidade no Trabalho Doméstico
Por Thaynara Floriano, da redação.
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Pioneira na construção do movimento sindicalista das domésticas no Brasil, Laudelina de Campos Melo é um marco na história da luta por melhores condições de trabalho para mulheres negras. Laudelina nasceu em Poços de Caldas, no dia 12 de outubro de 1904 e começou a trabalhar aos 7 anos de idade, abrindo mão dos estudos para cuidar dos irmãos e da casa. Conheceu os movimentos e organizações sociais muito nova, mudou-se para Santos e aos 16 anos já atuava no movimento negro.
Para o estado, as trabalhadoras domésticas eram vistas como ameaça às famílias empregadoras, pela sua cor e pela forma que pensavam. Por conta disso, o serviço doméstico era mencionado nas leis sanitárias e policiais, com o objetivo dede proteger apenas os patrões, deixando os funcionários desamparados pela legislação e pela falta de políticas públicas específicas para esse grupo da população.
Em 1930, já morando na cidade de São Paulo, Laudelina se filiou ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e militou pela Frente Negra Brasileira (FNB). Mas a distância não a impediu de continuar atuando por Santos: lá, ela ajudou a fundar a primeira associação de trabalhadores domésticos do Brasil – o que colaborou para que surgissem outras entidades da categoria em território paulista.
Se hoje ainda lutamos pela dignidade do serviço doméstico, sem leis, tudo era muito pior. Laudelina e outras mulheres foram essenciais para que o direito à sindicalização e para garantir que a legislação protegesse as trabalhadoras negras, buscando evitar a precarização das condições de trabalhos dessas profissionais e lutando para acabar com trabalhos análogos à escravidão. Nosso país continua moldado por estruturas hierárquicas do Brasil-Colônia e as mulheres negras continuam sendo impostas a trabalhos precarizados, sem garantia dos mesmos direitos básicos que pessoas não-negras acessam com muita tranquilidade.. Até hoje, a forma com que as grandes empresas se movimentam “empurra” negros e pobres para trabalhos de força física e servidão, continuando a gerando dinheiro para governos e grandes corporações. No entanto, é importante lembrar que o serviço doméstico quase nunca é uma escolha. Ele precisa ser visto como uma condição social e não deve ser associado à falta de comprometimento com os estudos, por exemplo. A ausência de oportunidades e a necessidade de trabalhar para garantir o sustento da família é o que faz com que essas pessoas, principalmente as jovens mulheres negras, continuem aceitando esse tipo de ocupação.
Garantir o direito de acesso ao trabalho digno para esses trabalhadores, bem como ampliar os espaços de debate para a transformar a educação – através da criação de políticas afirmativas e antirracistas – é fundamental para continuar honrando o legado de Laudelina e os futuros que tanto desejamos.
Julho das Pretas
No dia 25 de julho é comemorado o dia da mulher negra latino-americana e caribenha, intitulado em 1992, com o foco de dar visibilidade à luta de mulheres negras contra a opressão de gênero, exploração e racismo. No Brasil, a data homenageia a lider quilombola Tereza de Benguela, simbolo de luta e resistência do povo negro. Tereza assumiu o comando do Quilombo Quariterê e o liderou por décadas, ficou conhecida por sua visão vanguardista e estratégica.
Agência Jovem de Notícias + U-Report Brasil
Este texto faz parte de uma série especial de conteúdos, desenvolvidos em parceria entre a Agência Jovem de Notícias e o U-Report Brasil, para celebrar o Julho das Pretas. Além de uma série de textos, foi desenvolvido um quiz sobre mulheres negras brasileiras que marcaram a nossa história!