Juventude e questões do meio ambiente a partir da análise do relatório JUMA 

Por mais que a pauta climática esteja em alta, ainda há muito desconhecimento a respeito do tema. A JUMA (Juventudes, Meio-ambiente e Mudanças Climáticas), visando esse tema no meio juvenil, realizou uma pesquisa com 5 mil jovens por todo o Brasil. O estudo vem como uma forma de mostrar como os jovens de diferentes regiões se relacionam com a temática e é orientado pelos verbos: mapear, produzir, contribuir e garantir.

Por Duda Matias

Antes de analisar e comparar os resultados, é importante ressaltar que o meio ambiente está entre os 3 maiores assuntos que interessam às juventudes, e mesmo assim a maioria dos jovens do mundo não sabem ou pensam que são incapazes de ajudar a natureza substancialmente.

E as diversas dúvidas que surgem, desconfiando da eficiência da geração mais jovem, prejudicam ainda mais. Alguns exemplos são: “mas os jovens realmente estão preparados para isso?”, “Os jovens realmente podem fazer a diferença?”, “Quem vai escutar outros jovens? Ele tem algum embasamento ou é só parte da modinha?”

Entretanto, a atual geração de jovens já carrega um fardo muito pesado em relação à pauta ambiental e esse fato é esquecido, pois desde que nasceram escutam sobre como são responsáveis pela mudança no mundo, por reverter as consequências de diversas gerações passadas e de terem que fazer algo a respeito disso, caso contrário  não haverá futuro para vivermos. 

Essa carga de responsabilidade é altíssima, principalmente quando comentários desmotivadores são ditos por aqueles que querem que  haja mudança, mas não querem iniciá-las. Apesar disso, os jovens ainda tem potencial e energia para lutar por seus direitos, aflições e desacordos como nunca. Para lutar pelo o que acreditam, por um objetivo, por quererem ver a mudança acontecendo. Como também continuam sendo os pontapés iniciais, o empurrãozinho que faltava, a força da sociedade. 

A pesquisa esclarece essa força pela missão de analisar juventudes como agentes centrais na construção de percepções, narrativas e evidências que guiarão a construção do plano de recuperação verde com bases sociais.

PORQUE A PAUTA AMBIENTAL ESTÁ MAIS RECORRENTE?

Além das redes sociais e a alta gama de informações sobre, as pessoas estão reconhecendo a crise climática por estarem vivenciando diferentes eventos climáticos, afetando sua própria rotina. A mudança no período de chuvas, secas, enchentes e todos os acontecimentos sazonais são o suficiente para as pessoas entenderem que algo está mudando, mesmo não relacionando isso diretamente à crise climática. 

Essa vivência traz dúvidas sobre o assunto e, consequentemente, indagações, pesquisas e reflexões. E, mesmo que seja uma parte pequena de pessoas que se aprofundam no assunto, já é o início para uma transformação de mentalidade e hábitos.

A sociedade é atingida de diferentes maneiras pela crise climática e isso interfere na maneira em como as pessoas podem lidar com ela. Os primeiros a serem afetados, são as pessoas de baixa renda, mulheres e pretas, que, infelizmente, não possuem cobertura social, política ou de proteção, mas geralmente são as que mais fazem e mais se preocupam com a temática e afazeres diários de acordo com suas regiões e realidades.

Por exemplo, os efeitos relacionados ao consumo preocupam mais os jovens da Mata Atlântica; a escassez da água afeta mais quem vive no Cerrado e na Caatinga; a ameaça ao território parece mais forte entre os jovens do Pantanal; desenvolvimento de doenças é mais presente entre jovens da Amazônia.

4 a cada 10 jovens não sabem em qual bioma vivem, e isso influencia diretamente a relação que estes têm com a natureza.  A falta de conhecimento sobre os biomas pode vir do intenso processo de urbanização e do consequente distanciamento dos debates sobre questões ambientais. 

É importantíssimo conhecer os biomas para criar pertencimento e responsabilização. Reconhecer a realidade em que estamos e saber que fazemos parte dela é essencial para cuidarmos e preservarmos. 

“Eu acredito que, a partir do momento que a gente sabe que a Amazônia somos nós e que a gente pertence a esse território, a gente tem mais propriedade de fala e entende a importância dessa existência. Porque, muitas vezes, a gente acha que a Amazônia é só floresta, mas a Amazônia é a gente como um todo.”

Jovem da Amazônia, Grupo de Jovens Pesquisadores

A cultura local ajuda a criar o sentimento de identificação, além de ser também uma ferramenta de propagação e de conhecimento ambiental. Por isso, ampliar a conexão com a natureza no lugar em que moramos é uma demanda das juventudes. 

“A gente precisa entender como é a natureza de onde a gente vive para que a gente possa lutar para que ela continue viva, subsista com a gente.” 

Jovem da Mata Atlântica em grupo de discussão

MAS, POR ONDE COMEÇAR?

A grande queixa das juventudes em relação a começar a engajar na pauta ambiental ou até mesmo iniciar a mudança em alguma área, se resume em falta de diálogo, de incentivo e espaços de participação, assim como apresentam dificuldades em priorizar o tema diante de uma realidade complexa.

  • 8 a cada 10 jovens concordam que as Mudanças climáticas afetam sua qualidade de vida.
  • 6 a cada 10 jovens concordam que seu consumo individual influencia as mudanças climáticas.

É preciso achar uma forma concreta de diminuir os efeitos da crise climática. Mas antes de achar uma solução, é necessário primeiro assumir que todos nós temos uma parcela de culpa e por isso é dever de todos buscar por uma alternativa mais sustentável de viver de acordo com nossas realidades, existem diversas maneiras de contribuir significativamente com a pauta para todas as pessoas, independente de classe, raça ou gênero.

Pensamentos do tipo “não adianta só eu fazer” ou “minhas pequenas ações não vão mudar o mundo” só atrapalham, o que realmente precisamos nos preocupar agora é fazer o nosso e unir esforços e consciência!

“Precisamos fazer uma mudança mental e eu acho isso urgente. Só que eu realmente não sei como começar isso.”

Jovem da Amazônia em grupo de discussão

Dito isso, quais as melhores maneiras de instaurar essa transição de mentalidade?

De acordo com a Pesquisa Juventudes, meio ambiente e mudanças climáticas – JUMA,  jovens se engajam mais se as campanhas de educação ambiental demonstram os impactos da crise climática para o planeta, para pessoas próximas e para sua própria vida. Quando escutamos algo sobre pautas ambientais, parece uma tremenda perca de tempo, então precisamos ver resultados efetivos para acreditar e passar a se esforçar para zelar pelo meio ambiente.

Ou seja, é preciso fazer uma relação direta entre os acontecimentos que podem ser observados e sentidos por pessoas comuns com a crise climática. Contudo, já existem inúmeras pesquisas de órgãos competentes que demonstram isso, a JUMA é uma delas, o que nos faz refletir sobre onde realmente está o problema: na falta de conhecimento e na busca dele.

Então, segue uma lista de coisas que podemos fazer para começar a mudar nossa mentalidade ou procurar saber e entender mais sobre essa discussão:

  • Participar de discussões, movimentos, ações ou projetos sobre causas ambientais.
  • Votar em candidatos que defendem a pauta climática e a luta por mudanças estruturais.
  • Ser exigente com os políticos e governantes para garantir que ações em prol do meio ambiente estejam sendo feitas corretamente.
  • Consumir e compartilhar informações (verdadeiras) sobre mudanças climáticas e como diminuir os efeitos nas redes sociais.
  • Acreditar nos saberes dos povos tradicionais, órgãos ambientais federais e ONGs, já que esses são os principais agentes de preservação e defesa do meio ambiente.

Além de ações diárias como comprar roupas, calçados e acessórios  usados em brechós, por exemplo. Assim como, comprar alimentos de pequenos produtores locais e de agricultura familiar. Reutilizar embalagens em geral, fazer separação e compostagem do lixo, consumir mais produtos orgânicos e/ou de produção sustentável.

Alternativas que precisam de um pouco mais de atenção:

O investimento nas Universidades Federais é fundamental para dialogar sobre esse tema, não só nas federais, mas nas instituições de ensino no geral, são espaços cruciais para desenvolver pesquisas e estudos que contribuem para a preservação e trazem conhecimento científico embasado. 

São locais de aprendizado imersivo, promovem o cuidado, a experiência e podem encontrar soluções para os desafios antigos e novos. Por meio de pesquisas, programas de conservação, expedições aos biomas, coletivos universitários, recuperação de áreas degradadas e proteção de espécies nativas e animais em risco de extinção.

A falta de financiamento ou incentivo a esses projetos se apresenta como um dos enormes obstáculos para enfrentarmos.

“Esses estudos contribuem para a preservação porque quanto mais conhecimento você tem, melhor o manejo e também você sabe como aquela espécie pode impactar, o que a falta dela vai fazer.”

Jovem do Pantanal, Grupo de Jovens Pesquisadores

Outra alternativa  é o jornalismo investigativo e educomunicativo que se torna indispensável em meio de tanta desinformação e fake news.

Além de ser um recurso para denúncias, também pode e deve ser utilizado como forma de comunicar os efeitos, os trabalhos a serem feitos, as desigualdades presentes, ações diárias efetivas, notícias informacionais sobre o tema e diversos outros conteúdos igualmente importantes que necessitam de visibilidade. 

Ainda há uma omissão da mídia muito grande quando assuntos ambientais precisam ser vistos, e uma forma de combater isso são os trabalhos de empresas como a AJN (Agência Jovem de Notícias), juntamente aos trabalhos universitários e mecanismos de comunicação e divulgação com foco nessas pautas, como a pesquisa JUMA, e ainda são ótimos locais para começar a se orientar em relação ao meio ambiente de forma efetiva e aprofundada.

Fontes:

Pesquisa Juventudes, meio ambiente e mudanças climáticas Relatório nacional – novembro de 2022

Meio Ambiente e juventude: pauta ambiental fica em 6º lugar de importância para jovens no Brasil – Notícia Pretahttps://oeco.org.br/colunas/porque-a-crise-climatica-tambem-e-uma-pauta-das-juventudes/

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