Jornalismo e Redes Sociais: Novas tecnologias exigem novas condutas

Por Lucas Teixeira Petitdemange

A manhã do segundo dia do seminário “Jornalismo, as novas configurações do quarto poder”, realizado pelo Sesc Vila Mariana e a Revista Cult, entre os dias 15 e 17 de agosto, inicou com o debate sobre jornalismo e as redes sociais. A mesa tratou dos limites e fronteiras entre o cidadão e o profissional de jornalismo: como as novas configurações tecnológicas afetam o dia a dia das pessoas e suas relações com o trabalho, dando enfoque para a situação dos jornalistas.

Participaram do debate o jornalista, cientista social e professor Luis Mauro Sá Martino; o jornalista e editor Uirá Machado e o psicólogo e escritor Tales Ab’Saber. Primeiro a falar, Luis Mauro, apontou para a ilusão de transparência que as redes sociais, especialmente o Facebook e o Instagram, possibilitam.

Segundo ele, essa sensação de que temos acesso a tudo mascara o que, na realidade, se exprime como uma máxima vigilância, de nós mesmos e dos outros. Tal fenômeno faz com que as pessoas entrem na defensiva e passem a ter medo do outro, criando barreiras e se mantendo em “bolhas” onde só interagem com seus iguais.

As redes sociais, com seus excessos de visibilidade, quebraram a barreira entre o público e o privado e as fronteiras que dividiam os dois espectros da vida do indivíduo se borram e se confundem cada vez mais. Nesse cenário, cabe ao jornalista ajustar sua conduta para adaptar seu posicionamento nas redes.

Esse ajuste, segundo Luis Mauro, passa por um auto-questionamento em relação à exposição da sua vida privada. Tendo em vista que, no universo das redes, não existem mais fronteiras que dividem o público e o privado, e muito menos fronteiras que definem quando é o “tempo de trabalho” e o “tempo de descanso”.

“As redes realizaram o que o capitalismo tenta fazer desde o século XVIII, transformar todo o tempo do indivíduo em tempo de trabalho, conseguiu quebrar o tempo, assim, o jornalista está sempre disponível para trabalho”, analisa.

Tales Ab’Saber trouxe outra dimensão para a análise da situação, defendendo que no Facebook, por exemplo, tudo é política, desde a foto do seu jantar até o seu comentário na publicação de alguém. Todo comportamento nas redes, apesar de ser uma parte do indivíduo, é interpretado pelos outros como uma totalidade do indivíduo. Com isso, cabe ao jornalista adaptar sua postura e conduta para esse novo cenário da comunicação, onde as redes sociais desempenham papel central na vida das pessoas.

Contudo, essa adaptação não é sempre fácil e muitos jornalistas já se viram envolvidos em discussões e problemas nas redes com seus seguidores, ou com os ditos “haters”. Como solução, Uirá Machado elaborou para a Folha de São Paulo o “Manual da Redação da Folha edição 2018”, responsável por alinhar a postura dos funcionários do veículo.

A edição deste ano estabeleceu princípios para a conduta online dos profissionais e tem como principal recomendação a de não manifestar sua opção política, pois isso afeta a isenção do jornalista ou, pelo menos, a aparência de isenção, que é muito importante para a credibilidade, tanto do veículo quanto do jornalista.

Para garantir a credibilidade é preciso garantir a imparcialidade e para isso é necessário, além de não manifestar sua opção política, seguir personalidades políticas de todos os espectros. No atual cenário de caos e guerra informacional, saber se posicionar é a principal maneira de manter sua credibilidade.

Cobertura Educomunicativa

A Agência Jovem de Notícias realizou a cobertura educomunicativa do Seminário “Jornalismo: novas configurações do quarto poder”, realizado pelo Sesc Vila Mariana e a Revista Cult. A atividade é realizada em parceria entre a Viração e o Sesc Vila Mariana e conta com a participação de 13 jovens estudantes de jornalismo, com o apoio de profissionais da Viração.

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