Influenciadores influenciam em que? 

Entramos nas camadas do universo de conteúdo, na era da lifestylização da vida e tudo isso acontece de uma maneira explosiva, até porque as barreiras caíram. E entender o papel dos influenciadores digitais na sociedade torna-se mais complicado justamente por estarmos inseridos nessa transição, vendo cada vez mais a organicidade do que é real ser mesclada com o que está valendo R$15 mil por uma sequência de telas nos stories. No fim, os influenciadores estão influenciando em que? 

Por Vitor Ranieri

Em uma era interconectada, as redes sociais podem nos trazer a verborragia que Issaaf Karhawi contextualiza como a autenticidade no mundo atual, que representa a perda da humanidade e pode significar o entrelaçamento da mercadoria da informação e a experimentação do que é ser autêntico. Há uma condição de maleabilidade, como se vivêssemos a consequência da efemeridade dos nossos pensamentos e ações, e a partir disso, inventamos tecnologias de autenticação em cima de um plano que reafirme a existência de um propósito conectado com a transformação social no ambiente digital. De um lado, estamos presenciando a expansão da comunicação que proporciona a acessibilidade em alguns aspectos, mas por outro lado, geramos problemas complicados.  

Vivemos a ascendência de novas possibilidades geniais; estamos usando todas as redes e usando tudo ao mesmo tempo para fazer qualquer coisa, misturando todas as plataformas numa só, expandindo o senso de comunidade que faz parte da nossa humanização. Aqui na AJN, já publiquei um outro artigo falando um pouco mais sobre a era da influência digital, e vocês podem ler clicando aqui. Essencialmente quando pensamos na era em que vivemos, é importante enxergarmos que ser influenciador ou influente não é uma característica exclusiva dos produtores de conteúdo ou dos mestres de políticas públicas, mas sim, que somos todos influentes em alguma medida.

Jogo de letras formando a palavra influencer. Foto de Diggity Marketing na Unsplash

Influência é atributo. Portanto, não se aprende ou se ensina, mas se adquire socialmente.

Por outro lado, entramos nas camadas do universo de conteúdo, na era da lifestylização da vida e tudo isso acontece de uma maneira explosiva, até porque as barreiras caíram. E entender o papel dos influenciadores digitais na sociedade torna-se mais complicado justamente por estarmos inseridos nessa transição, vendo cada vez mais a organicidade do que é real ser mesclada com o que está valendo R$15 mil por uma sequência de telas nos stories.

Parece que em alguns momentos enquanto estamos rolando a timeline nos deparamos com a sinapse ou um deja vú de alguma apresentação que ocasionalmente parece ter sido tirada de um powerpoint, e foi publicado em formato de carrossel um a um na página do feed, o que ironicamente de acordo com Daniela Arrais, jornalista e sócia-fundadora da Contente, é a representação do motivo da criação do movimento #ainternetqueagentequer, que tem como objetivo mostrar que a internet que vem sendo questionada desde meados de 2014 é diferente da que temos e usamos hoje em dia. 

Estamos conectados 24/7. Usamos a rede para trabalho, informação e relações, e, ainda assim, pensamos pouco nas implicações que tanta conexão tem em nossas vidas. Durante a participação de Daniela no episódio ’Seremos todos influenciadores?’ do Podcast Mamilos, algumas indagações sobre como o ambiente digital tem moldado nossas ações e emoções foram levantadas. Podemos nos questionar no agora, para onde vai o nosso foco quando vivemos o distanciamento da autenticidade individual. 

Adalberto Silvestre, partnership manager do TikTok, contextua que movimentos como os liderados pela Contente, mostra o quanto estamos vivendo um momento de transição para o que podemos chamar de interconectado, como uma espécie de rede com pontos ligados, que transitam informações de forma ágil entre si sobre absolutamente tudo. Vivemos um momento do mundo onde tudo há. E onde há excesso para tudo. Fato. Porém, sob outra perspectiva, a mesma interconexão tem nos levado para atravessamentos com a verdade fundamentada em um propósito legítimo.

Caso pudéssemos fazer um paralelo entre a relação influenciador e a equiparação do papel social destes, para fins da transformação social, poderíamos classificá-los como fornecedores da informação, que consequentemente, também está sob a égide do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990). Em outras palavras, a Lei 8078/90 tem como objetivo atender as necessidades dos consumidores. Assim, seu princípio básico é preservar a dignidade dos consumidores, sua saúde e segurança, além da proteção dos interesses econômicos e qualidade de vida.

Ademais, quando refletimos sobre os maiores nomes da influência no Brasil, o que vemos não são representações que compartilham suas opiniões de acordo com as problemáticas sociais, e acima de tudo, com a implicação de levar informação e educar sua base de seguidores.

A YouPix, em um dos seus artigos publicados no Medium, fala sobre o papel social dos influenciadores trazendo diretamente que é preciso lembrar que as pessoas estão em um momento de protagonismo e pensamento crítico no qual as escolhas estão mais seletivas, assim como o desejo de expressar suas próprias opiniões, e que também é um processo de corresponsabilidade: Não é mais de um para um milhão, é de milhão para um.

Pessoas filmando atividade cultural com celulares. Foto de Gian Cescon na Unsplash

Todo mundo tem responsabilidade pelo conteúdo que consome. E entendendo isso, influenciadores, marcas e audiência podem amadurecer juntos.

Com base no livro da filósofa Marcia Tiburi (Editora Record, 2015) – Como conversar com um fascista – Reflexões sobre o cotidiano autoritário brasileiro,  o bem-viver traz pensamentos e pontos de vista para explicar. O bem-viver na obra diz respeito ao argumento principal de que pensar, ponderar e interpretar a razão de as pessoas optarem pela discussão, seja ela política, ou de qualquer outra temática, possa ser vivida no trânsito, na escola, ou principalmente, já que estamos inseridos neste contexto, nas redes sociais. E que por meio do método, da postura, seja um ato para contrapor o discurso de ódio, seus reflexos na sociedade brasileira e a repercussão nas redes sociais. A filósofa propõe o diálogo como forma de resistência e analisa notícias recentes e acontecimentos do mundo político para mostrar mais uma vez que é possível falar sobre temas complexos de maneira que todos compreendam.

É sobre o resgate do verdadeiro sentido de influenciar. A influência tem muito a ver com liderar e ajudar o outro

Débora Alcântara (ORNA GROUP), durante a live do YOUPIX Talks de abril de 2020, com oferecimento da Squid e do Magazine Luiza e participação da Carla Lemos, André Carvalhal e Bia Granja.

Para Gasparatto, Freitas & Efing (2019), a responsabilidade civil dos influenciadores digitais decorre da posição no momento da publicação, pois a confiabilidade do influencer agrega poder persuasivo, mas por via de regra, a contratação ou identificação deles não decorre das qualidades técnicas ou intelectuais, mas das qualidades externas, como a beleza, a fama e o prestígio de que possuem perante as redes sociais. O que para dizer o mínimo, traz reflexos da distorção do comportamento no ambiente digital, e tende a exercer um papel de extrema importância junto às mais de 500 mil pessoas que se identificam enquanto influenciadores digitais.

Através de um olhar crítico e sensível, Brené Brown enfatiza como, sobretudo quando você posta nas redes sociais, não é sobre conexão: é uma comunicação. Já entendemos que um influenciador só chega em sua posição de autoridade quando constrói “relações reais” com  seu  público – lembra  lá  o  que  falamos  sobre  a autenticidade nos dias de hoje? É fundamental continuar dentro do molde da sinceridade, mesmo que a subjetividade vivida seja o afastamento desta responsabilidade perante seu público, a própria ABRADI – Associação Brasileira dos Agentes Digitais desenvolveu um Código de Conduta para Agências Digitais na Contratação de Influenciadores consta que:

A verdade, a confiança e a transparência são os alicerces da relação entre influenciadores e seus seguidores, entre marcas e seus seguidores e entre todos.

No entanto, é impossível dissociar ou simplesmente romantizar o fato de que criadores de conteúdos que se posicionam nas redes sociais tendem a receber menos, ou exclusivamente não serem chamados para fechar trabalhos com as marcas. Podem ser vistos como militantes excessivos e mimizentos. Porque, em uma estrutura de comercialização da autoridade, da sistematização da educação como ferramenta de equidade, estar associado a alguma luta social ou posicionamento ativista é quase atingir sua própria construção de imagem – ou seja – sua autoridade em seu segmento. Ainda assim, a imposição aqui é que temos criadores que se submetem a muitos formatos de conteúdo, e muitas das vezes se sujeitam a trabalhar com empresas que estão em uma direção muito distante da que eles acreditam, essencialmente porque o posicionamento social ainda não é algo tangível na economia de criadores de conteúdo de uma forma tangível, nós ainda estamos caminhando, e temos uma caminhada longa.

Mas, aplicado com maior frequência metaforicamente à linguagem, dentro dessa narrativa da publicidade que os influenciadores trazem consigo, é possível que alteremos o sistema de identificação quase que de forma involuntária, a partir de diálogos que não agregam em nada. Não é como se houvesse meios de formatar esse diálogo por parte dos influenciadores digitais, mas sim, através das espécies de performances únicas no ambiente digital, que partem também do público, pois existe o questionamento desta estagnação das narrativas que estão interligadas com o propósito de quem cria conteúdo.

Talvez apenas assim possa passar a existir o ponto o de encontro com a autoridade e a individualidade, que é um ato de contestação dos padrões estabelecidos socialmente, mas que realmente são de extrema relevância hoje em dia para a construção de uma reputação concisa e não apenas podem gerar frutos individuais, mas para a sociedade que todos habitamos.

Por fim,  estamos falando aqui de uma geração que está mais propensa ao isolamento digital e que é mais influenciada pelas celebridades e influenciadores digitais do que pelos seus familiares. Da Gen Alpha (contato com o mundo digital desde o momento em que deixa o ventre materno. O termo foi cunhado pelo sociólogo australiano Mark McCrindle para se referir às crianças nascidas a partir de 2010 e às que ainda vão nascer até 2025 até a Gen Z, (também conhecida por iGeneration, Plurais ou Centennial) somos todos mais conectados e com anseio de recebermos informação.

Essas características impõem alguns desafios para quem vê o mundo da mesma forma, e continua se fundamentando enquanto autoridade sobre algum tema, mas que não possui os olhos atentos para o movimento de se responsabilizar pelo diálogo. Querendo ou não, existe a interconexão estabelecida das pessoas que falam abertamente sobre seus sentimentos, buscam igualdade – no sentido mais amplo da palavra -, se preocupam com inclusão e sustentabilidade, e cobram posicionamento claro de formadores de opinião e também de empresas.

Segundo pesquisa desenvolvida pela Wunderman Thompson, 78% dos jovens acreditam que as marcas têm responsabilidade de construir uma sociedade melhor e 76% querem se orgulhar das marcas que compram.

O público espera ações simples como um reels informativo sobre alguma questão, comentários construtivos que nos ajudem a questionar nossos atos, o compartilhamento de alguma petição online ou uma postagem que pode auxiliar na disseminação de discussão de ideias sob novos pontos de vista. Nesse contexto, o bem-viver levantado por Márcia Tiburi não fica para trás e é experienciado como uma parte importante do nosso desenvolvimento, a partir de ações que movimentam a rede. Como dito anteriormente, é sobre comunicar, e não gerar conexão superficial com quem te ouve.

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