Geração Ctrl+Z: A geração Z latina aos olhos do consumo
No final de 2022, a Consumoteca Lab divulgou o estudo “Geração Ctrl+Z pelas Lentes Latinas”. O grupo de pesquisas autorais do Grupo Consumoteca, uma consultoria especializada em direcionar negócios na América Latina, apresentou questionamentos e conclusões importantes sobre o modo como esse grupo sobrevive, ou tenta sobreviver, na esfera onde estão incluídos. Abordando problemáticas reais da primeira geração de nativos digitais da América Latina, o estudo nos traz informações relevantes sobre as ações dos Z’s latinos. Será mesmo a GenZ a responsável por salvar o mundo?
Por Fernanda Filiú
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A geração Z é vista como uma forte candidata a salvar o planeta. Engajados na política, no social e em discussões voltadas para o meio ambiente, a conhecida “GenZ”, se mostra ao mundo como uma comunidade capaz de transformar os meios de produção e consumo que afetam as pautas que defendem. Porém, ao mesmo tempo em que vislumbram transformação, a geração Z se encontra em um contexto de globalização e hiperinformação. Nascidos e criados na sociedade do consumo, da liquidez e da tecnologia, esse grupo apresenta dilemas e conflitos ligados a suas ações.
Dentro dessa conjuntura, é evidente que as juventudes de todos os países se encontram em uma mesma posição. Entretanto, é preciso olhar as individualidades da geração Z, visto que os contextos econômicos, sociais e culturais influenciam diretamente na maneira como os jovens pensam, refletem e agem.
A geração Z nasceu em um contexto com mais direitos que as gerações passadas, e com a expansão do acesso à informação. Porém, ela também se encontra em um cenário rodeado de conflitos, guerras, crises políticas, ambientais, humanitárias e sanitárias. A genZ latina, além de estar inserida em todo esse panorama, cresce com ainda mais fragilidades.
O processo de redemocratização em diversos países da América Latina, a preocupação econômica e financeira que assombram seus pais, e até mesmo a pandemia, fizeram com que, como menciona o estudo, esse grupo não tivesse tempo suficiente para se encantar com o mundo. A dura realidade fez com que esses jovens se tornassem pessoas objetivas. Apesar de serem conscientes das dificuldades enfrentadas pela sociedade hoje, se sentem impotentes para resolver esses problemas. Assim, a pesquisa mostra que, vivendo em uma sociedade que já impõe o individualismo, o foco desses jovens acaba sendo maior em si mesmos, do que no mundo.
O anseio de conquistar estabilidade, visto que não cresceram em um cenário favorável para isso, transforma esse “individualismo” em combustível na busca pela independência financeira. Essa independência é vista pela geração Z latina como a única maneira de alcançar a sonhada estabilidade, que nunca foi totalmente atingida em seu contexto. Ainda assim, a saúde mental é visada por grande parte dessa comunidade, sendo uma das principais pautas debatidas por eles. Manter a mente saudável é um desafio coletivo, que perpassa a vida pessoal, profissional e social desses jovens, que não querem ser “mais um na multidão”. A individualidade se apresenta como fator importante para os Z’s latinos. Mostrar quem sou, para que vim e me diferenciar em meio a massificação é uma grande preocupação.
Agora, juntando o desencanto com o mundo, o anseio pela estabilidade financeira e a diferenciação, tem-se uma problemática: o consumo. O desejo de escapar de uma sociedade rodeada por problemas e o desejo do reconhecimento e “aesthetic” frente a outros jovens faz com que a geração Z latina se escore na ação de consumir.
O chamado “aesthetic”, termo muito conhecido entre os jovens, se tornou viral dos últimos anos para cá devido sua conceituação. Apesar de ser um substantivo em inglês, a palavra é muito utilizada como adjetivo, que engloba trends do mundo da moda, abrindo espaço para as mais diversas formas de estilo e modos de vida. Existem diferentes tipos de aesthetic, mas os principais — e mais famosos atualmente — são: E-girl, Soft Girl, Tumblr Girl, VSCO Girl, Art Girl e Kawaii Girl.

O consumo é colocado em uma posição de auxílio à saúde mental por essa comunidade, que já a apresenta como pauta essencial. Ao se esforçarem diariamente pela trajetória de vida que anseiam, mesmo com as incertezas que enfrentam, os jovens latinos buscam nas compras um escape do caos. E, apesar de se preocuparem com causas ambientais, o consumo não gera culpa. Segundo o estudo:
“Comprar não gera culpa, pois este é um ritual de auto indulgência
que alivia as pressões cotidianas.”
Geração Ctrl Z pelas Lentes Latinas, p. 24
Além disso, é necessário entender o funcionamento de outras questões que envolvem o cotidiano desses jovens e trazem conflitos. Marcas de fast fashion famosas entre a geração Z, como a SHEIN, são muito criticadas pelo excesso de produção e política de trabalho escravista. Mas, ela traz acessibilidade a diferentes corpos, bem como a grupos com menor poder compra. Assim, há uma contradição entre o que é pautado pelos Z’s latinos e o que é feito por eles. Entretanto, é dessa maneira que essa comunidade se protege do que a sobrecarrega.
Em conclusão, entende-se que a geração Z é uma geração conflituosa, assim como as passadas. Ela busca salvar o planeta, mas se sente impotente ao ter que fazer isso sozinha, ao mesmo tempo que precisa se preocupar com sua própria vida. A saúde mental dessa comunidade está em risco, e é fundamental que cuidemos dos nossos jovens para que eles continuem sendo motor de mudança, apesar dos conflitos e contradições que existem entre eles. A juventude não deve parar.
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