FOTORREPORTAGEM: Entenda as questões envolvidas no separatismo catalão

Por: Ethel Rudnitzki/ Fotos: Ethel Rudnitzki 

Ao andar pelas ruas de Barcelona não se sabe ao certo em que país se está. Bandeiras pelas janelas se contradizem gritando Catalunha de um lado, Espanha de outro. As vozes dos moradores também não são uniformes, alguns falam em catalão outros em espanhol, todos se entendem. Mas nem tanto assim.

Hoje, dia 21 de dezembro, milhares de catalães vão às urnas para esclarecer alguns desentendimentos. Vão eleger um novo parlamento, pois o último foi dissolvido no dia 27 de outubro, após a aprovação da separação da região da Catalunha da Espanha.

As pesquisas apontam uma grande divisão entre os separatistas e nacionalistas: 46% dos votos devem ir para um dos partidos pró-catalunha (Junts pel Sí e CUP), e a mesma quantia para os pró-espanha, também chamados de constitucionalistas (Ciutadans, PSC e PP).

O resultado, de um lado ou de outro, não garante a separação da região, mas o próximo passo de uma história de muitos anos atrás.

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Em meados desse ano as tensões na Catalunha, região mais rica da Espanha (representando 19% do PIB), aumentaram. Foi convocado um referendo popular para aprovação da independência catalã. O governo da Espanha, contudo, considerou ilegal a votação e fechou locais de voto em todo o estado. Ainda assim, 42% da população participou do referendo e o sim ganhou com 90% dos votos.

Depois disso, o governo catalão começou a dar passos em direção ao separatismo da região. O presidente catalão, Carles Puigdemont, fez uma declaração declarando a independência, apesar de não imediata.

No dia 27 de outubro a questão voltou à tona, quando o parlamento catalão aprovou com 70 votos favoráveis uma resolução para declarar a independência da região. No mesmo dia, o governo espanhol destituiu os poderes do parlamento e do presidente da Catalunha, convocando eleições para 21 de dezembro deste ano.

Durante esses acontecimentos a população foi às ruas diversas vezes, convocando greves e manifestações de ambos os lados. Os catalães favoráveis à independência dizem não se sentir espanhóis e recusam o governo da Espanha. Os espanhóis contrários ao separatismo acusam os favoráveis de nacionalistas, e dizem que a independência seria um fracasso econômico para a Catalunha.

Paula Gomes, catalã de 21 anos, não se considera independentista, mas também não apoia o governo espanhol. Ela não foi a nenhuma das manifestações sobre a questão, por não se sentir contemplada em nenhum dos lados, mas considera que “o problema nacional precisa ser escutado”.


O que move o separatismo

A questão da independência da Catalunha não é recente. Data da formação do estado espanhol em 1492. Nessa época, a região era parte do reino de Aragão, que foi unificado com o reino de Castela, dando origem ao território que conhecemos hoje como Espanha.

A Catalunha tem língua e cultura própria, tendo status especial dentro do país, com “nacionalidade histórica” reconhecida pela constituição espanhola. Porém, nem sempre foi assim. Durante os 40 anos de governo ditatorial do general Franco, a língua catalã foi proibida e muitos catalães foram perseguidos.

Hoje, a região tem maior liberdade, mas com a crise econômica que afetou os países europeus entre 2008 e 2011, a demanda separatista voltou a ganhar forças. Nesse período, o governo espanhol se comprometeu a dar mais autonomia ao governo catalão, mas essas ações nunca foram concretizadas.

Em pesquisa realizada em junho de 2017, mais de 75% da população catalã disse reprovar o governo espanhol. Dentre as principais insatisfações dos catalães nesta época estavam o desemprego e o emprego precário, citado como o maior problema por 3 em cada 4 entrevistados. A relação entre a Catalunha e a Espanha apareceu em quase 25% das respostas.

 

De qualquer lado que seja, uma coisa é certa a população está insatisfeita, e os catalães não parecem querer se calar. As urnas hoje vão falar.

 

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