Fortalecer jovens negras para a igualdade racial no mundo do trabalho
Na mentoria do MUDE com ELAS, participantes do projeto tiveram uma conversa sobre como a arte, a cultura e a educação são importantes para fortalecer identidades e garantir acesso e permanência de jovens negras no mercado de trabalho
Por Thaynara Floriano, da Agência Jovem
Edição: Monise Berno
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No último dia 10 de abril, o projeto MUDE com ELAS promoveu uma oficina de mentoria com jovens mulheres negras aprendizes que estão inseridas em empresas. O MUDE com ELAS é uma rede multiatores que articula pessoas e organizações para dar visibilidade ao debate sobre juventude, gênero e raça no mundo do trabalho. Dentro das ações, são realizados encontros onde as articulações, junto às jovens que participam do projeto, promovem oficinas e rodas de debates para fortalecer e desenvolver suas habilidades nos ambientes corporativos.
A mediação do encontro aconteceu com a convidada Verônica Vassalo, assistente social, docente e consultora de diversidade e inclusão, especialista em Psicologia Organizacional e Educação para Relações Étnico-Raciais.

Na oficina, as jovens trocaram experiências e informações sobre empregabilidade e estratégias de permanência em espaços de formação continuada, acadêmica ou em cursos, e consequentemente no mundo do trabalho. Esse tipo de estratégia é fundamental, já que a escravização estabeleceu um lugar de subordinação na hierarquia social do país e consequentemente no mercado de trabalho para mulheres negras. As jovens também receberam o livro “Pretextos de Mulheres Negras” das mãos da poeta, jornalista, integrante do Sarau das Pretas, Elizandra Souza. A convidada é autora dos livros “Filha do fogo – 12 contos de amor e cura, 2020” recitou um poema e conversou com as meninas sobre a importância da promoção da igualdade racial.
Durante a conversa, foi reiterada a importância da leitura e da escrita para grupos considerados marginalizados, quando historicamente pessoas negras são afastadas da cultura e dos bens culturais pela elite que se apropria do que é considerado culto e deixa toda arte urbana ser considerada ruim e de péssima qualidade.
A privação do acesso desses espaços culturais elitizados, não deixaram que grandes artistas negras conseguissem demonstrar e expor esse trabalho, mas dentro dessa realidade ainda existem pessoas que tentam se apropriar não só da cultura, mas de como vai funcionar sua exposição e seu acesso.
Para Thainara, jovem de 21 anos estudante de Recursos Humanos, participante do MUDE com ELAS que atualmente trabalha como jovem aprendiz na contabilidade da Mercedes Benz, o projeto vem ajudando na descoberta de si enquanto mulher negra:
“As oficinas do Mude com Elas me ajudaram a me identificar como mulher negra, porque antes do programa eu não tinha essa identidade. Hoje eu sei me posicionar mediante situações que pessoas brancas me colocam.”
A Beatriz, jovem de 19 anos estudante de Administração que também está trabalhando como jovem aprendiz na Mercedes Benz, conta que as formações do MUDE com ELAS vem trazendo segurança para sua jornada profissional:
“As formações me deram segurança para me entender e me identificar, comecei trabalhando na tesouraria e não gostei, mudei para o RH por me identificar mais e futuramente pretendo fazer curso de Recursos Humanos, sem as formações não seria possível entender que estar ali também estava me prejudicando”.
É evidente o quanto a arte, o trabalho e a cultura produzida por pessoas negras ainda estão subjugadas pela condição racial, de gênero, étnica e social. Os depoimentos das jovens mostram o quanto construir espaços de segurança para que elas possam conhecer, expor, estudar sobre sua história e discutir questões fundamentais que atravessam a raça no Brasil e seus reflexos no mundo do trabalho é fundamental para a construção de uma sociedade mais igualitária.
Sobre o MUDE com ELAS
O ‘Mude com Elas – Multiatores superando a desigualdade de gênero e raça’ é uma iniciativa implementada em parceria pela Ação Educativa e do escritório da Terres des Hommes Alemanha em São Paulo, com apoio da Viração Educomunicação por meio da Agência Jovem de Notícias.
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