Falando um pouco sobre o SUS
No segundo texto da série sobre a saúde e o SUS, uma vista panorâmica algumas das conquistas do sistema de saúde pública gratuito brasileiro
Por Victor Capellari
–
A muito tempo atrás a humanidade vivia em pequenos grupos nômades, independentes uns dos outros; eles até podiam se encontrar uma vez ou outra, mas não era algo comum.
Hoje em dia vivemos em grandes cidades com até milhões de habitantes, todas conectadas pelo comércio e pelo turismo, entre outras formas de conexão. Esse cenário é muito favorável para que doenças se espalhem, como podemos perceber.
Desde os grupos nômades até as grandes cidades, a sociedade foi se especializando: tinha o cara na vila que cuidava dos porcos, o que plantava rabanete e obviamente, tinha o curandeiro. Essa classe sempre foi muito bem vista, ainda mais quando era associada a alguma prática religiosa ou mística. E mesmo que sua “medicina” ainda precisasse evoluir, eles cumpriam, até certo ponto, com sucesso a sua missão.
Com o tempo a saúde passou a ser vista como produto e, no lugar de fazer oferendas, passamos a pagar por ela de forma mais direta. O problema desse modelo e que ele deixa um buraco no caso de pandemias.
Nos Estados Unidos, por exemplo, muitas pessoas não queriam parar de trabalhar, ou ir no hospital onde precisariam pagar pelo atendimento, o que fez com que o vírus do Covid-19 se espalhasse de forma rápida.
No Brasil, graças a constituição de 1988, depois de muita luta e dificuldades, a saúde passou a ser um direito do cidadão e um dever do Estado, impondo que o sistema de saúde pública deve ser gratuito, de qualidade e acessível a todos os brasileiros e/ou residentes no Brasil.


O Sistema Único de Saúde também traz consigo a preocupação preventiva das doenças e com a participação popular, criando os “postinhos” (Unidades Básicas de Saúde) para facilitar o atendimento baseado na proximidade das equipes médicas com a família e a comunidade.
O envolvimento com a família permite que o profissional da saúde entenda melhor a sua realidade e também contribui para que haja maior adesão aos tratamentos. Como estudos já mostraram, a medicina humanitária, diferente do médico robô que somente segue os procedimentos, ajuda o paciente a melhorar mais rapidamente.
As campanhas de cuidados preventivos do SUS ajudaram a erradicar doenças no território nacional como a varíola e a poliomielite (paralisia infantil), e doenças como sarampo, rubéola, tétano, difteria e coqueluche passaram a ter menor incidência e menores taxas de mortes.
Nessa área devemos muito ao herói nacional Zé Gotinha, que com certeza está horrorizado com as fake news sobre vacinas.

Além disso tudo, o SUS ainda oferece medicamentos gratuitamente para doenças como hipertensão, diabetes e asma e dá opção de descontos em remédios para outras doenças, além de copagamento para anticoncepcionais e fraldas geriátricas.
Um caso de sucesso dessa política, que tornou o país referência mundial, foi no controle da epidemia de AIDS.

O governo federal distribui gratuitamente, desde 1996, pelo Sistema Único de Saúde, os antirretrovirais (ARV) à população – medicamentos que evitam o enfraquecimento do sistema imunológico e assim aumentam a expectativa e a qualidade de vida dos portadores do vírus HIV.
Fora isso, é fácil conseguir uma camisinha em qualquer posto de saúde, o que juntamente com outras medidas, colabora com a meta da Organização Mundial da Saúde de acabar com a doença até 2030.
Mas então o SUS e só maravilha?
Infelizmente, temos problemas como a falta de estratégia do governo federal, o desvio de verbas, sucateamento, desprestígio e desinformação da população.
Esses serão os tópicos do próximo texto.
–
