Entrevista: Vice-presidenta do Conjuve fala sobre participação juvenil e políticas de educação
Em entrevista para a CLADE, Ângela Guimarães, vice-presidenta do Conselho Nacional de Juventude (Conjuve) do Brasil, fala sobre a importância da participação das e dos jovens e afirma: a política deve considerar a singularidade da condição juvenil.
O Conjuve analisa, debate, propõe e incide no conjunto das políticas voltadas à juventude brasileira, desde educação, passando por cultura, trabalho e emprego, saúde, participação, segurança pública e outros – temas que resultaram dos intensos debates e deliberações dos processos envolvendo as conferências nacionais de juventude, realizadas no país em 2008 e 2011.
Ângela está em Bogotá, onde participa do Seminário Regional Educação Secundária na América Latina e Caribe.
1. Quais são as principais preocupações políticas da juventude brasileira atualmente?
As preocupações da juventude brasileira vão tanto do acesso e qualidade da educação, quanto sua formação profissional e o acesso ao trabalho e emprego, passando pelo desejo de um mundo com menos violência, sem discriminações e corrupção e o sonho de um país com oportunidades para todos.
2. Qual o papel das e dos jovens e adolescentes na formulação e monitoramento de políticas públicas? De que maneira influenciam transformações fundamentais nos processos democráticos e marcos legais?
O tema da participação social é muito caro à juventude brasileira, pois a existência de movimentos e organizações da juventude em torno de bandeiras locais ou assuntos de importância nacional é uma marca muito presente em toda a história do país. Assim, a recente abertura de espaços de participação, sobretudo em nível federal (o Conjuve foi criado em maio de 2005) se conforma como demanda interna dos movimentos juvenis, bem como condição para passar a interferir em espaços de poder e, portanto, de tomada de decisão e conformação de suas agendas próprias de reivindicação.
3. Você poderia compartilhar um ou mais exemplos que mostram a importância da participação juvenil?
A primeira importância da participação juvenil diz respeito à visibilização das demandas da juventude na agenda pública, pois durante muito tempo elas não se constituíram como uma agenda nacional que merecesse resposta dos poderes públicos e maior atenção e discussão da sociedade. A participação possibilita a incidência na formulação e implementação de políticas de juventude, fazendo com que elas venham ao encontro dos reais interesses e demandas desse segmento. Temos alguns exemplos no Brasil: em 2010 aprovamos de forma inédita no Congresso Nacional a inclusão do termo “jovem” na Constituição Federal do Brasil. Esta foi uma reivindicação originada da 1ª Conferência Nacional de Juventude, processo participativo realizado por meio de uma parceria entre o Conselho Nacional de Juventude e a Secretaria Nacional de Juventude do Brasil. Também nesta Conferência, a prioridade nº 1 foi a implementação de um Plano Nacional voltado ao enfrentamento do grande número de mortes de jovens no país. Foi graças à mobilização e aos debates do encontro que, em 2012, o Governo Federal apresentou o Plano Juventude Viva, com este fim.
4. Estatísticas mostram que mais de 50% das e dos jovens e adolescentes da América Latina abandonam a escola secundária (que em alguns países engloba a segunda metade do ensino fundamental e o ensino médio) antes de completá-la. Você poderia comentar esse dado, apontando motivos pelos quais, em sua opinião, isso acontece?
Este dado que toda a América Latina partilha é um dos principais alvos da preocupação do Conjuve e também da sociedade, pois o abandono/evasão escolar nessa fase tão importante da vida acaba por limitar o acesso a um conjunto de direitos como o direito ao trabalho em condições dignas e com boa remuneração, além de ter papel fundamental na reprodução do ciclo de pobreza a que muitos jovens estão submetidos. Assim, torna-se desafio nacional e regional a implementação de políticas para a educação com ampliação consistente do investimento público, formação continuada dos profissionais, que considere a singularidade da condição juvenil, seus sonhos e aspirações, bem como esteja antenada com os desafios do mundo do trabalho contemporâneo.
5. Uma das questões marcantes em sua trajetória é a luta pela não-discriminação. Em nosso seminário, discutiremos entre outros o tema da educação inclusiva e anti-discriminatória. Quais são, em sua opinião, os principais desafios a superar para que se tenha uma escola verdadeiramente anti-discriminatória?
A escola, assim como outras instituições, precisa considerar a DIVERSIDADE de crianças, adolescentes e jovens como um princípio a ser respeitado, promovido e estimulado em todos os seus projetos pedagógicos, ações e materiais didáticos. Este é um princípio que orienta a nossa vida em sociedade e a escola tem papel destacado na formação e consolidação de valores. As e os estudantes encontram-se em processo de formação de suas visões de mundo, o quanto mais forem estimuladas/os a desenvolver seu senso crítico, sua criatividade e valores de convivência e respeito à diversidade, uma melhor sociedade estaremos erigindo.