Entre as outras coisas, se ama sempre da mesma maneira. Está como se sabe estar.

Relato da jornalista italiana, Carla Renieri, que está no Brasil para um intercâmbio na Viração. Esse é apenas o segundo dia, eu diria que espero voltar aqui em várias vidas. Hoje eu estava pensando na palavra “beleza”.

Não é certamente a mais fácil de experimentar e viver a beleza em relação às demais coisas do mundo.Você deve ser capaz de ser responsável.

“Carla, você está como você sabe estar”. Essa foi uma resposta que chegou há poucas horas no meu e-mail (quando você está inteira, muda a forma de estar no mundo). Naquele momento eu não considerava o meu sentir, mas agora que eu vou continuar a minha pesquisa, repenso o que postei o no meu blog em São Paulo no meu primeiro dia no Brasil, quando no final da tarde, acabei no meio de uma manisfestção de ciclistas que estavam protestando em memória de uma menina muito jovem atropelada por um ônibus na mesma manhã, na Avenida Paulista.

Meu dia na Viração se encerrou, agora eu seguia ao encontro da amiga Evelyn conjuntamente com a Vânia. Nós estávamos falando sobre as primeiras impressões que tive durante a minha nova experiência na oficina de vídeo. Eu estava contando que naquele formato de estar, de falar dos garotos e dos educomunicadores não havia um vazio porque as palavras não eram vazias dadas à imaterialidade própria das palavras, porque as palavras viram rápido ações concretas.

As ideias pareciam nascer de um modo caótico e sem fio aparente comum, na verdade, eram unidas umas às outras e mudavam a cada momento. Não sei explicar melhor, (me desculpe).

…Recordo quando alguém me disse – melhor que eu – nós somos juramentos. Estou falando dessas coisinhas…

Tenho sorte de fazer parte dessa pesquisa sobre o que liga a linguagem ao comportamento, porque quando você se depara com momentos como este que você pode imediatamente dar os nomes corretos das coisas e reconhecer as diferenças. ”Na Itália parece ainda mais difícil…apenas dizer que nenhuma “há crise” ou “é dificil, “não se pode fazer” esse comportamento é o pretexto pefeito para estagnar e entrar em hibernação e fingir que tentou alguma mudança. Assim, as pessoas fingem para nunca mudar.

Estávamos andando e começamos a ver a multidão de manifestantes em frente. ” Você vive em Roma, há muitas pessoas que andam de bicicletas?”. Bem, sim, mas não formam uma verdadeira e própria comunidade como em São Paulo, onde quem usa bicicleta faz parte apenas de um dos muitos “exércitos não violentos” que lutam pelos direitos civis e humanos.

Ombro a ombro, choram como chora o céu, porque sua “irmã” está morta por causa da falta de cuidado, de atenção das pessoas, em uma cidade contraditória.

Eu, então, respondi que não,” Não, não tantas pessoas assim…”. ” Por quê?”. ” Porque … é perigoso.” ” Mas, mesmo aqui em São Paulo é perigoso!”. Eu comecei a rir. Ele acertou no conceito de que eu tentei explicar. Estava diante de uma imensa cidade onde as palavras medo e perigo foram um pretexto para unirem-se ombro a ombro para combater em nome de qualquer coisa de bom e de absolutamente possível.

Eu não vou fazer a demagogia errada neste post, mas eu acho que é importante começar por aqui a fazer a ideia do perfume, do ar, da eletricidade humana que correm na rua e dentro de uma associação como a Vira. É isso que me pedem as pessoas queridas que deixei na Itália.

Quando chegamos à Paulista, encontramos Evelyn na multidão, eu a abraçei. Ela estava chorando, como as outras pessoas presentes. Pessoas de todas as idades, as crianças nos braços, pessoas idosas de shorts, todos extremamente comovidos com essa perda sem sentido. Pessoas abraçavam em cada canto. Estava pensando em como é grande o apego à vida e como os brasileiros são capazes de transmitir esse sentimento. Eu estava feliz de não me encontrar desnorteada. “Eu estava. Eu estava como sabia estar”

A mesma sensação eu senti quando, horas depois, quando o céu começou a chorar, no momento da manifestação na Avenida Paulista. Ouvir ”Águas de Março” não basta para entender o que é seriamente uma tempestade aqui em São Paulo.

Vem abaixo todo o céu, a estrada torna-se uma corrente que leva tudo embora. Um vento louco levantou-se de repente, me afastei da Evelyn para me proteger da chuva. Eu estava completamente encharcada, o trovão tinha um barulho incrível, com outras pessoas que eu não conhecia, fui para o saguão de um grande banco. Eu estava com frio, o ar estava gelado e eu tremia como uma folha. E pensar que pela manhã havia feito 38º.

Fui deixada sozinha. Os primeiros minutos sozinha em São Paulo. A tempestade não dava sinais de parar. Eu colada em uma parede para tentar me aquecer um pouco. O mapa que eu tinha na bolsa já era, era sopa, literalmente começou a derreter as linhas de metrô. “Bem Carla, você se perdeu dentro de suas calças! E agora, como você chega em casa?”.

No entanto… Eu não sentia medo ou ansiedade de fazê-lo. Fixada na parede ao lado de uma moça de 20 anos que estava sorrindo para mim e explicando como chegar à estação de metrô mais próxima, sem o risco de afogamento, eu senti que era a coisa mais natural do mundo esperar parar de chover… Só esperando para que pare de chover. Toquei meu cabelo molhado, olhei tanta água descendo que eu não podia ver o outro lado da avenida. Então, lentamente, parou. Comprei um guarda-chuva em uma loja, fui para o metrô mais próximo. E cheguei em casa.

Agora estou aqui com um pouco de música. No meio de tudo isso, no fim de semana na praia, por estradas em ônibus e de bicicleta com meus anfitriões, o sol que não perdoou a brancura da minha pele, samba sob tenda na praia, o sabor forte da verdadeira caipirinha brasileira e da isca de peixe, meus olhos cheios de palavras e pensamentos a todas pessoas que a minha distância me deram a liberdade com a sua presença silenciosa e àqueles que, ao contrário, fizeram um mutismo vestido de uma aparente “pegue a sua liberdade”. Modos de estar diferente. Se decide, se escolhe estar ou não estar.

Maneiras de estar diferente. Você decide, você opta por ficar ou não ficar.

Eu terminei o meu dia, e sorri para a beleza que eu ouvi nesse tempo construído entre pensamentos. Pensamentos arranha-céus. E entre essas coisas está o dia de hoje. Acordar às seis da manhã com café na moka italiana e pão quente feito em casa. E depois Vira. Convidado de hoje, um colaborador do Unicef ​​de Nova York.O bonito foi quando depois de um tempo, sentados em círculo, para falar Português, Inglês e Italiano, estamos interligados também pelos pés, além das ideias.

Che ficata! … enfim!


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