Efeito das mudanças climáticas na biodiversidade

Combater as mudanças climáticas não é uma questão política, mas de sobrevivência, do ponto de vista alimentar e da saúde. Continuar impactando os ecossistemas pode ser irreversível para nossa existência.

Por Luis Miguel da Costa

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Já são bem relatados os efeitos das mudanças climáticas no planeta, como o aumento da temperatura média e do nível médio dos mares, e o descongelamento das calotas polares. Além disso, é de conhecimento geral como essas mudanças podem afetar a nós seres humanos e algumas espécies.

Mas será que temos dimensão do impacto na biodiversidade de maneira geral? 

Podemos começar essa conversa do ponto de vista fisiológico em plantas. Taiz & Zeiger, em sua obra Fisiologia vegetal, têm uma seção inteira dedicada ao impacto das mudanças no clima sobre as plantas. Nesta seção eles relatam que, apesar de existirem plantas resistentes ao aumento da temperatura no planeta e de espécies vegetais que iriam se beneficiar com o aumento da concentração média de CO2 na atmosfera, a maioria das espécies vegetais não iriam resistir a essas mudanças e que possivelmente seriam extintas em um determinado momento.

Você pode se perguntar: mas o que eu tenho a ver com isso? A resposta é: tudo! 

Muitas dessas espécies são comerciais: são plantas que nós utilizamos como fonte de alimentos, contribuir com as mudanças climáticas é investir a longo prazo na diminuição de fontes de alimentos para a espécie humana.

Além disso, com a diminuição do número de plantas na Terra, a quantidade de fotossíntese total realizada no globo iria diminuir drasticamente, o que consequentemente afetaria a concentração de oxigênio, pois a fotossíntese é o principal processo de reposição de oxigênio na atmosfera. Isso afetaria diretamente a qualidade do ar que respiramos e a nossa qualidade de vida, pois dependemos desse gás para sobreviver.

Representação da fotossíntese / Reprodução Google

Outro ponto que podemos citar, é o da saúde pública. Atualmente, estamos sendo assolados por um vírus chamado Sars-Cov-2. Uma das hipóteses mais aceitas pela comunidade científica é a de que o vírus foi transmitido para humanos de maneira indireta, tendo sido uma provável zoonose proveniente de uma espécie de morcego.

O primeiro relato da doença foi na cidade de Wuhan, na China, onde identificaram a espécie de morcego que provavelmente teria sido o vetor para o início da pandemia. Contudo, um grupo de pesquisa do departamento de zoologia de Cambridge, ao estudarem a origem do vírus, relataram que aquela espécie não era nativa daquela região.

Mas o que isso tem a ver com as mudanças climáticas?

Ao investigarem mais sobre a espécie, os cientistas envolvidos nesta pesquisa encontraram evidências de que esta espécie de morcego era nativa de outra região da China, e que a mais provável causa de terem encontrado espécimes em Wuhan era devido às mudanças climáticas, pois estes morcegos tinham preferências por certas temperaturas, e devido a essas alterações no clima, tiveram que se deslocar do seu habitat natural. Assim, com o passar do tempo, a espécie migrou e se estabeleceu em Wuhan por se tratar de um ambiente mais favorável.

Aumento estimado no número local de espécies de morcegos devido às mudanças em suas áreas geográficas causadas pelas mudanças climáticas entre o período de 1901-1930 e 1990-2019. A área ampliada representa a provável origem espacial dos ancestrais transmitidos por morcegos do SARS-CoV-1 e 2. Fonte: Beyer et al., 2021

Combater as mudanças climáticas não é uma questão política, mas de sobrevivência a longo prazo da nossa própria espécie, tanto do ponto de vista alimentar, dado que as espécies vegetais que consumimos dependem do ciclo climático atual para continuarem a gerar produtos, quanto do ponto de vista de saúde pública, pois, impactar os ecossistemas pode causar a migração de animais que são portadoras de micro-organismos patógenos para nós humanos.

Temos que ter responsabilidade e respeito pelo nosso planeta, pelos ecossistemas, preservando-os para que o equilíbrio natural seja mantido!

Imagem de Tumisu por Pixabay 

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