Dos 57 milhões de voluntários ativos no Brasil, menos da metade têm dedicação constante
Hoje, no Dia do Voluntariado, uma reflexão sobre como a dedicação ao trabalho voluntário pode moldar o caminho profissional a partir de uma perspectiva solidária. Através do voluntariado é possível a promoção da mudança social e do crescimento coletivo. O que pode motivar essa movimentação do voluntariado no Brasil? Com cada pessoa que você conversar a motivação que a levou a ser voluntária será diferente, mas o destaque aqui é o que pode motivar outras pessoas? E também o aspecto que, em contrapartida, apenas parte do número total de voluntários participa de ações voluntárias com frequência definida. Na prática, isso representa 12%, 20 milhões de pessoas. Esse dado aponta que é preciso ampliar nosso olhar, quase que de uma forma filantrópica, para o tempo dedicado ao voluntariado. A continuidade garante que a grande maioria das ações e projetos que são fundamentalmente constituídos pelo voluntariado permaneçam causando impactos positivos na sociedade.
Por Vitor Ranieri
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Passar um, dois, três ou vários fins de semanas e noites de semana “trabalhando” para uma causa social nunca foi um problema para mim. Na visão de muitos amigos, claro, às vezes recebo o título de “louco” por não usar boa parte do meu tempo livre na TV, zerando séries no Netflix, ou ainda em bares pedindo mais Originais ou Heinekens e jogando conversa fora. É claro que eu gosto disso tudo, amo uma cervejinha, mas dedicar algumas horas da minha semana ao trabalho voluntário não preenche apenas a minha agenda, mas me preenche por dentro, por inteiro.
Hoje, no dia do Voluntariado, penso em porque desde 2016 embarquei nessa jornada e nunca mais larguei. O que me motiva? Reflito que são muitas coisas, e que também motivam cerca de 56% da população adulta que diz fazer ou já ter feito alguma atividade voluntária na vida. Segundo a Pesquisa Voluntariado no Brasil 2021, em sua terceira edição, em 2011 esse número representava 25% da população e, em 2001, apenas 18%. Chama atenção também o número de voluntários ativos no momento da pesquisa – 34% dos entrevistados, o que representa cerca de 57 milhões de brasileiros comprometidos com atividades voluntárias.
O que pode motivar essa movimentação do voluntariado no Brasil?
Com cada pessoa que você conversar, a motivação que a levou a ser voluntária será diferente, mas o destaque aqui é: o que pode motivar outras pessoas? E também o aspecto que, em contrapartida, apenas parte do número total de voluntários participa de ações voluntárias com frequência definida. Na prática, isso representa 12%, 20 milhões de pessoas. Esse dado aponta que precisamos ampliar nosso olhar, quase que de uma forma filantrópica, para o tempo dedicado ao voluntariado.
A continuidade garante que a grande maioria das ações e projetos que são fundamentalmente constituídos pelo voluntariado permaneçam causando impactos positivos na sociedade.
Ainda dentro deste contexto, a pesquisa da IDIS destaca o dado que aponta o aumento da atenção dada a alguns públicos beneficiados pela atividade voluntária. Tiveram forte crescimento em 2021 famílias e comunidades, de 12% em 2011 para 35% em 2021, e pessoas em situação de rua, com um aumento de 20 pontos percentuais em relação à pesquisa anterior. Além disso, a pesquisa mostra a valorização da causa animal, de 1% em 2011 para 9% em 2021, e de pessoas com deficiência, de 3% para 9%.
Hoje eu lidero a frente de relações públicas do Instituto Bold, que é uma ONG que promove a aceleração de jovens periféricos através da capacitação sobre autoconhecimento. E foi através de um projeto desenvolvido ao longo da minha participação como estudante lá que alcancei uma oportunidade de trabalho em uma das maiores indústrias farmacêuticas do mundo. Não só essa, mas minha primeira oportunidade de trabalho remunerado também foi proporcionada por uma instituição sem fins lucrativos, o CIEE.
Para mim, o voluntariado passa por aspectos intrínsecos da geração de oportunidades. A professora e doutora em comunicação Cristiane Sambugaro traz à tona durante uma de suas aulas ministradas na minha instituição de ensino que existem dores sociais que deveriam ser sanadas pelo 1º setor mas não são, e quem as “cura” é o voluntariado. Já participei ativamente por anos de atividades dentro das igrejas onde cresci, e toda a base colaborativa e de solidariedade que o voluntariado daquela fase me proporcionou reverbera em mim até hoje – já são sete anos que trilho essa jornada, e vou permanecer nela.
O que me motiva? Posso dar 3 razões claras que talvez você se identifique:
1. Conhecimento
Sabe aqueles testes de personalidade que a gente faz ao longo da vida? Então, aprender é, sem dúvida, uma grande fonte de energia e motivação para mim. Sempre gostei de estudar, assistir documentários, ouvir entrevistas e conversar com pessoas – tudo porque eu sou muito boca aberta.
O trabalho voluntário me proporciona a oportunidade de abrir minha mente, aprender e estudar coisas diferentes e que tenho interesse, adquirir novas habilidades. Gestão de tempo e leituras constantes, por exemplo, nunca foram meu forte, mas estou desenvolvendo essas habilidades, também aqui na AJN e em outros projetos que faço parte.
Além disso, e não menos importante: lidar com pessoas é aprender que imprevistos acontecem e que perguntas que você não sabe a resposta surgem sempre. Muitas vezes reclamamos que no trabalho remunerado não conseguimos desenvolver todas as habilidades que queremos, ou que não conseguimos aproveitar o espaço para aplicar aquelas que já temos. No trabalho voluntário há muito espaço para isso.
2. Empatia
Muito se fala sobre empatia – a habilidade socioemocional de se colocar no lugar do outro e entender seus contextos – mas há ainda pouca ou superficial ação no mundo com relação a isso. Admitir que somos seres egoístas por natureza é o primeiro passo. O segundo é mudar isso. Como ser alguém que tolera melhor as diferenças e que não é dono(a) da verdade?
No trabalho voluntário você necessariamente lida com outras pessoas e, possivelmente, indivíduos com histórias de vida bem diferentes das suas. Os preconceitos precisam ser deixados de lado para você realmente conseguir entender as pessoas, porque elas agem do jeito que agem, e como em conjunto conseguimos tornar a sociedade mais consciente.
A capacidade de se colocar no lugar do outro é difícil de ser desenvolvida, mas é tão relevante no mundo de hoje que é a chave para deixarmos para trás o viés da confirmação (só escuta o que está de acordo com o que você pensa) e os preconceitos.
Mas já aviso: se você não estiver disposto(a) a tornar-se uma pessoa mais solidária, menos egocêntrica e com foco no coletivo, talvez não usufrua desse benefício do voluntariado.
3. Felicidade
Sabe a sensação de dever cumprido, de realização própria? Muitos conquistam isso com premiações ao fim de uma tarefa difícil ou até quando conseguem vencer a preguiça e praticar algum exercício físico. Mas os sentimentos de plenitude, de comprometimento, de entrega também são vistos no trabalho voluntário. Uma certa felicidade, sabe?
E essa felicidade é explicada biologicamente: quando um indivíduo se dedica a ajudar os outros, seu corpo produz endorfina, neurotransmissores que provocam a sensação de prazer. Quem realiza algum tipo de trabalho voluntário também manifesta algo muito almejado hoje em dia: ganhos em equilíbrio entre a vida profissional e a pessoal, pois vão entendendo na prática que a vida não se resume apenas ao trabalho e que ela pode te abrir portas para novos assuntos interessantes além da profissão.
Assim como a coordenadora do IDIS, Silvia Naccache, mencionou durante o lançamento da pesquisa, a pandemia trouxe um novo olhar para o voluntariado. Os brasileiros estão mais engajados em ações transformadoras, reconhecendo o impacto delas tanto para quem se doa quanto para quem recebe. O voluntariado é mais do que um ato isolado; é uma das forças que impulsiona a mudança social e nos conecta em nossa jornada de crescimento pessoal e coletivo.
Experimente se tornar um voluntário <3
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